“Se eu continuar no TCE, serei infeliz”, diz Antonio Joaquim

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Reprodução
CAMARA VG

Midia News

O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), conselheiro Antonio Joaquim, afirmou que deixará a Corte em outubro deste ano, pois já cumpriu “todos os desafios possíveis” em 17 anos.

Em entrevista ao MidiaNews, ele afirmou que estaria em uma “zona de conforto”, caso permanecesse no TCE, e que ficaria “infeliz”.

“Se eu continuar, vou ficar em uma zona de conforto para mim e minha família, mas vou ser um homem infeliz. Acho que tenho condições de oferecer meu preparo em outras atividades públicas”, disse.

Apesar de não confirmar qual cargo irá disputar no pleito de 2018, disse estar preparado para "ganhar ou perder". Caso saia derrotado, irá cuidar de suas fazendas no interior do Estado.

 

Veja os principais trechos da entrevista do conselheiro:

MidiaNews – O senhor está oficialmente encerrando as atividades no TCE para retomar a vida política?

Antonio Joaquim – Vou pegar férias no dia 30 de agosto, fico 30 dias de férias para resolver várias questões pessoais e algumas cosias que preciso concluir aqui. No meu retorno das férias, oficializo minha saída do Tribunal. A partir desse protocolo, estou pronto para retomar a minha vida político-eleitoral-partidária, que é esse o objetivo da minha saída. Eu ainda teria mais 14 anos aqui, já que a aposentadoria compulsória é aos 75 anos.

Estou com 61 e ainda teria 14 anos, mas decidi abrir mão dessa zona de conforto de ter essa garantia de mais 14 anos, porque tenho uma alma de desafios. Acho que nesses 17 anos em que fiquei aqui, já fiz tudo que tinha para fazer. Esse período me deu um mestrado, doutorado na gestão pública fantástica, é como se eu tivesse ficado em Harvard fazendo um curso de especialização.

Cheguei a ser presidente da Atricon (Associação os Membros dos Tribunais de Contas do Brasil), andei o Brasil inteiro. Foi um momento muito rico nessa área. E aí cheguei à conclusão: tudo que considero relevante eu já fiz. Se continuar, vou ficar em uma zona de conforto muito boa para mim e minha família, mas vou ser um homem infeliz. Acho que tenho condições de tentar oferecer esse meu preparo em outras atividades públicas. Por isso decidi tomar essa decisão de voltar à vida política para oferecer a minha experiência para ajudar as pessoas.

 

MidiaNews – Neste momento, está absolutamente convicto dessa decisão?

Antonio Joaquim – Sim. Eu diria que, além da convicção, estou muito feliz, porque minha família me apoia. Eles entendem a minha situação irrequieta de novos desafios, acham que tenho direito de me reinventar, começar um novo ciclo. Então, isso está me causando muita felicidade. Tive a coragem de começar todo esse processo novamente. Isso tudo me motiva muito. Estou, no bom sentido, com um friozinho na barriga. E isso é muito gostoso.

 

MidiaNews – Tem algum tipo de receio?

Antonio Joaquim – Não, porque considero com muita clareza que a eleição é um processo de disputa, que você pode ganhar ou perder. Então, não há receio. Sei que posso ganhar, o que seria ótimo, porque estou preparado para fazer um bom trabalho, como sei que é possível perder. Então, estou preparado para ganhar ou perder.

Perdendo, tenho meu plano B, que é ir cuidar da minha fazenda, das minhas coisas. Mas ganhando, tenho a perspectiva de oferecer esse minha experiência para população. A minha felicidade é até por isso. Estou muito leve, tranquilo. Vou voltar em um patamar muito melhor do que quando fui deputado estadual e federal.

 

Antonio Joaquim

"Tudo que considero relevante eu já fiz. Se eu continuar, vou ficar em uma zona de conforto, mas vou ser um homem infeliz"

MidiaNews – Quando o senhor começou na política?

Antonio Joaquim – O meu primeiro mandato foi em 1986, mas comecei a militar na política em 1976, em Barra do Garças, quando era presidente da juventude do MDB. Lá fizemos uma campanha muito bonita, que foi a eleição do Vilmar Peres, prefeito de Barra. Em 1985, me filiei ao PDT e, no ano seguinte, candidato a deputado estadual e me elegi. À época, estava fazendo 30 anos e comecei a formar o PDT no Estado. Assumi a presidência do partido e passei o mandato inteiro formando diretórios e atuando na Assembleia. Em 1990, recebi uma ligação do governador Brizola dizendo para eu receber o Dante de Oliveira no partido.

Eu não conhecia o Dante, nunca tinha conversado, só na TV e do movimento. Falei que ele era uma excelente aquisição para o partido. Ele se filiou e fomos para uma campanha, ele a federal e eu estadual. Nós dois perdemos a eleição. Foi uma campanha muito difícil, estávamos em um grupo de esquerda.

Foi um desastre, porque não elegemos ninguém, só três estaduais: Serys, pelo PT, o Wilson Santos e o [Antônio] Porfírio pelo PDT. O Dante não perdeu por falta de votos, teve 50 mil votos, sendo o mais votado, mas não alcançamos o quociente eleitoral. Os eleitos tinham de 10 a 12 mil votos. Eu fiquei na suplência, mas fiquei só um ano fora. Em 1992 assumi e fiquei até 1994, quando Dante foi candidato a governador. Naquele ano, me elegi deputado federal, sendo o segundo mais votado do Estado, perdendo só para Roberto França.

Mas essa derrota de 1990 me causou um trauma grande, porque eu havia feito um trabalho muito dedicado antes como deputado estadual. Achei que seria natural a reeleição pelo trabalho e aquilo foi um choque muito grande. Em 1994, não queria ser candidato. Pedi ao Dante que, se fosse eleito, me indicasse ao Tribunal de Contas, porque não queria ser candidato, estava traumatizado.

O Dante fez esse compromisso, mas me mandou ser candidato a federal. Fui e acabei ganhando. O Dante questionou se eu queria ainda ser conselheiro e disse que sim, que estava pronto para ir para o Tribunal, que eu não tinha mais vontade de ser deputado. Mas passaram-se três anos, eu dizendo que iria para o tribunal, mas a vaga não saía. Quando chegou em 1997, tive que retomar o projeto de deputado. Me reelegi, mas continuei querendo vir para o Tribunal. No primeiro mandato do Dante, fui secretário de Infraestrutura, no segundo mandato fui de Educação. A nomeação ao TCE saiu somente em abril de 2000. E lá se vão 17 anos aqui dentro.

Foi uma vida muito rica, tenho muito orgulho da minha biografia política. Tenho horror a quem abomina a política, criminaliza a política. O único caminho de solução aos problemas do Brasil é a política, não tem outro caminho. Basta não confundir políticos irresponsáveis, corruptos, com a boa política. Política é coisa séria e a única forma de solucionar os problemas. Só saí para vir ao Tribunal por conta da minha insegurança com relação a mercantilização das campanhas eleitorais.

 

Antonio Joaquim

"Perdendo, tenho plano B, que é cuidar da minha fazenda. Mas, ganhando, tenho perspectiva de oferecer minha experiência para a população"

MidiaNews – Não tem mais isso?

Antonio Joaquim – Percebo claramente que a eleição do ano que vem vai ser bem diferente. Só a proibição de não ter o dinheiro de empresas, o poder econômico vai diminuir de forma considerável. Abre-se espaço para os políticos da “boa-política”.

Do debate, vocação, convicção do seu papel. Eu sou otimista, acho que o Brasil passa por um momento de ter tomado um purgante, vai depurando, e emerge das eleições de 2018 um novo País, outra classe política. E aí o País caminhará de uma forma mais adequada.

 

MidiaNews – Também vê um contexto favorável aqui no Estado?

Antonio Joaquim – Eu acho que sim, em função da realidade. Mato Grosso perdeu todos os grupos que existiam para traz. Um era o grupo do Dante, pela sua morte, e grupo Campos perdeu força. Então, hoje, considero que não há mais um grupo político orgânico no Estado.

Quem deveria estar liderando esse grupo era o governador, porque é natural, mas vejo com clareza que há um campo enorme para se criar um novo grupo político. Não estou falando pessoas novas, mas um novo grupo, com concepção nova.

 

MidiaNews – Quem o senhor vê nesse grupo?

Antonio Joaquim – Eu acho que a eleição do Emanuel Pinheiro é uma semente desse grupo. É um embrião. Porque foi uma eleição diferente, um nome que surgiu quando não se tinha essa perspectiva. Juntou alguns partidos que fizeram um belo trabalho político e isso está se consolidando e vai caminhar para 2018 como um embrião ampliado. Esse grupo é horizontal, não pode ter chefe. Pode ter líderes, não coronéis. Mas acho que é um grupo que tem espaço para todos que queiram participar.

 

MidiaNews – O seu projeto é uma pré-candidatura ao Governo?

Antonio Joaquim – Eu estou decidido a sair, entro de férias daqui uns dias. No retorno já saio do Tribunal, mas enquanto não estiver legalmente fora, tenho impedimento de falar sobre candidatura. O que estou admitindo é que retomo minha vida político-eleitoral, mas até a última hora aqui tenho que ter essa prudência.

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