“O cidadão tem o direito de receber à bala uma invasão do MST”

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CAMARA VG

Menos de um mês após se aposentar das atividades da magistratura para tentar uma vaga ao Senado Federal, a juíza Selma Arruda (PSL) já possui temas bem definidos que irá defender na sua campanha.

 

E ela não usa meias palavras. Direta e objetiva, Selma fala sobre temas polêmicos com propriedade e contundência.

 

Além do aprimoramento da legislação visando evitar a impunidade, ela diz que pretende trabalhar para a desburocratização do Poder Público, inclusive no que tange à concessão do porte de arma ao cidadão que queira se defender de criminosos. Aliada do polêmico presidenciável Jair Bolsonaro, Selma Arruda também compartilha a opinião dele de que todo cidadão possa portar uma arma de forma mais acessível.

 

"Se você der direitos de porte de arma a essas pessoas que não têm antecedentes criminais, que não têm histórico de violência, para que ela possa se defender de um cara que invade a sua casa, eu quero ver se o bandido vai ser tão afoito de entrar em qualquer lugar, sabendo que lá pode ter um sujeito armado […] O cidadão já tem o direito, mas ele passa por tanta burocracia e tanta exigência que dificilmente consegue", disse a magistrada, que é natural de Canoas (RS) e mora em Mato Grosso há 32 anos.

 

Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, na última sexta-feira (13), Selma também defendeu que os produtores rurais possam ter o direito de "receber à bala" as invasões do Movimento Sem Terra (MST), pois, segundo ela, o trabalhador que tem a terra invadida ou saqueada acaba sendo humilhado por não poder reagir a tais invasões. 

 

"Geralmente é terra produtiva que é invadida pelo Movimento Sem Terra, à beira da estrada, em lugar com estrutura, já entram matando o gado, metendo o pé na porta, fazendo violência de toda sorte, e isso não pode. O cidadão tem o direito de receber à bala uma invasão do MST, um assalto, e existe muito assalto em fazenda. Cáceres tinha muito disso, de latrocínios mesmo, coisa horrorosa, de amarrar as pessoas, roubar tudo e depois matar, para o cadáver ser descoberto depois de 20 dias. Se a pessoa tivesse uma arma teria ao menos a oportunidade de tentar se defender".

 

Ainda na entrevista, Selma Arruda falou sobre suas frustrações na magistratura, projetos em uma possível eleição, corrupção no Estado e ainda avaliou a gestão do governador Pedro Taques e as possíveis candidaturas postas para a próxima gestão. 

 

Leia os melhores trechos da entrevista:

 

MidiaNews –  A senhora tinha uma carreira bem sucedida na magistratura, com uma reputação inatacável. Quando começou essa ideia de entrar para a política?

 

Selma Arruda – Eu nunca tinha cogitado a hipótese de entrar para a política até o dia em que recebi o título de cidadã mato-grossense na Assembleia. Na época, um político falou ‘nossa, mas com esse tanto de gente aqui, já dá pra ser senadora’. E as pessoas começaram a brincar com a situação. Eu recebi esse título do Riva. Esse político deve ter falado isso em público e daí começou essa história de que eu entraria para a política. Mas isso foi há muito tempo. Na época eu nem pensava de verdade.

 

Depois eu comecei a trabalhar e ver que não tinha efetividade naquilo que eu fazia. Quando você vê que o processo vale ele por si mesmo, e que tem nenhuma ou pouca efetividade prática, aí você começa a se frustrar. É muito difícil para as pessoas que vivem no Direito se darem conta disso, mas quando isso acontece, é muito difícil você ficar feliz ali onde você está. Você tem que se preocupar se a denúncia foi recebida ou não, se há requisitos, se houve determinado cumprimento a determinada regra, aí chega na sentença e você vê que não vai dar em nada. E isso te frustra.

 

Se eu te disser que o motivo foi republicano, eu vou estar mentindo. Eu olhei para a minha família, olhei para a minha neta e pensei: ‘o que vai ser dessas crianças?’.

 

MidiaNews – Em que sentido as sentenças não dão em nada?

 

Selma Arruda – Você chega ao final do processo e se sente realizado só se não se preocupar com aquilo que vai acontecer depois da sua sentença. Em exemplo claro é a sentença da Sodoma 1. Eu fiquei de três a quatro meses fazendo. Redigi todas as palavras daquela sentença. E tinha que fazer audiência e um monte de outras coisas. Foram noites, dias, manhãs de trabalho, toda uma pesquisa, era um processo enorme, muito complexo, cheio de interceptação telefônica, de provas de tudo quanto era jeito. E aí eu fiz uma sentença de quase 500 laudas. Quando chegou no final, fui fazer a dosimetria, condena esse, absolve aquele. Aí você pega aquelas colaborações premiadas, e vê que os caras cometeram crimes que rendem 30 anos de cadeia, mas eu era obrigada – por conta da colaboração – a dar tornozeleira e um ano de prisão domiciliar. Sem contar que as devoluções dos desvios não são sequer proporcionais ao tamanho do dano e são de faz de conta.

 

Ele [Silval] entregou uma fazenda para o Estado e vários outros bens, e 10 ou 15 dias depois eu oficiei o Estado para que se manifestasse se tem interesse de ficar com eles e, se não tiver, de colocar pra leilão. Até hoje o Estado não se manifestou, exceto em relação a uma aeronave. Fica naquela burocracia. E o que aconteceu? Uma das fazendas acabou sendo invadida. A gente trabalha, se desgasta, ando com segurança há anos e sou privada de muita coisa. E acabamos nos sujeitando a um sistema que é feito para não funcionar.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Selma Arruda 12-04-2018

"A gente trabalha, se desgasta, ando com segurança há anos e sou privada de muita coisa. E acabamos nos sujeitando a um sistema que é feito para não funcionar".

Quando eu entrei para a Vara, comecei a me especializar no estudo de organizações criminosas, eu fiz pós-graduação, eu li muito, fiz uma outra pós-graduação agora sobre corrupção, e você chega a conclusão de que tudo faz parte de uma predestinação, de uma coisa que foi planejada há muito tempo e que hoje está se realizando. O sistema foi feito para dar nisso que está dando. O plano seria perfeito se a gente tivesse virado uma Venezuela. Por muito pouco a gente não virou. Mas não estamos livres de cair numa coisa dessa. E uma semi-venezuela talvez seja pior, porque não chegou no fundo do poço ainda. E quando você não chega no fundo, fica mais difícil de pensar que tem que subir.

 

A gente está vivendo um momento de entrega para as organizações criminosas, entregamos nossa ideologia, ninguém mais vai para a rua cantar o hino nacional, para protestar contra alguma coisa que seja importante. O coração das pessoas não dói mais quando você vê o Brasil do jeito que está. Banalizou a violência, a corrupção, banalizou tudo. A gente não tem mais valores. Hoje em dia o filho manda o pai tomar naquele lugar e o pai acha legal.

 

Em um país desenvolvido, um político acusado de corrupção dá um tiro na cabeça, se mata de vergonha ou mofa na cadeia. Aqui não, aqui vale muito a pena. Você consegue ir na rua, ser uma pessoa muito amada, mesmo com provas contra você. Vale muito a pena ser corrupto.

 

MidiaNews – Esse discurso não acaba desanimando os juízes que continuam na ativa?

 

Selma Arruda – Eu participo de vários grupos de juízes e tem muita gente desanimada. Quem se dá conta de que estamos vivendo uma carapuça, uma coisa que não é efetiva, está muito desanimado, e isso no Brasil inteiro. Existem alguns magistrados, alguns promotores que estão fazendo a mesma coisa que eu fiz, ou seja, aposentando pra seguir na política visando obter uma representação de pessoas desse naipe no Congresso para tentar mudar esse estado de coisas.

 

MidiaNews –  Mas não houve um certo avanço? Porque até então nunca havia se punido com tanta efetividade os corruptos, especialmente os grandes políticos, megaempresários…

 

Selma Arruda – É muito perigoso a gente pensar que só isso já seja um bom sinal. Eu não acho que é um bom sinal. Na verdade, o recado que se dá é que você fica três anos preso, mas super-compensa, porque sai de lá milionário. Quando eu lidava com a criminalidade pobre, eu conversei com um ex-PM sobre essa questão. Ele roubava, trazia droga, era aquele rolo. Ia preso, ficava um ano, dois, saía, voltava. E eu falei pra ele ‘cara, você não cansa dessa vida?’ e ele disse ‘não, doutora, faz parte, é o ônus da minha carreira’. Então eu acho perigoso comemorar que um cara ficou um ano preso, enquanto ele roubou milhões.

 

MidiaNews – Mas não existe um esforço comum das instituições em fazer esses ajustes para evitar a impunidade, como no caso das discussões envolvendo a delação premiada?

 

Selma Arruda –  Esse é o momento de recomeçar. Por isso eu acho perigoso de achar que assim está bom e deixar dessa forma. A gente tem que pegar isso como gancho para tentar mudar de verdade. Eu sempre defendi a colaboração premiada como um instrumento de combate à corrupção, até o dia em que eu descobri que as pessoas estavam ganhando dinheiro com a colaboração premiada. Ou seja, extorquindo os comparsas para não citá-los. Então às vezes eles te restituem R$ 2 milhões, mas lucram R$ 5 milhões. Então que lição eles estão aprendendo? É perigoso acreditar que assim está bom e criar um monstro ainda maior do que o nós já temos.

 

Em um primeiro momento as pessoas corriam para fazer delação premiada com medo de que acontecesse com elas uma prisão. Mas hoje em dia, se você olhar os últimos dois, três anos, e se colocar no lugar do corrupto que vai ganhar milhões, passa um tempo na prisão, mas passa, contrata advogados milionários que conseguem decisões favoráveis no STF [Supremo Tribunal Federal]. Porque o STF hoje é um grande condutor de insegurança jurídica, isso baixa o nosso nível de confiabilidade internacional, isso arrasa as nossas possibilidades de investimentos internacionais, tudo isso tem que ser mudado e é muito mais complexo do que podemos imaginar.

 

MidiaNews –  Há um interesse do Congresso e do próprio Judiciário em fazer mudanças efetivas?

 

Selma Arruda – O Judiciário é um local cheio de gente bem intencionada, que entende isso perfeitamente. Mas é por norma um Poder inerte. Juiz não vai para a rua fazer passeata, não tem como. Se você for lutar por uma causa, o réu no outro dia entra com um processo dizendo que você é parcial. O juiz precisa ser neutro. Você sabe o tanto que eu sofri por às vezes manifestar as minhas ideias. O Judiciário é o que mais vê isso e o que mais fica amordaçado. Mas eu penso que se em cada Estado a gente conseguir colocar uma pessoa que tenha essa noção, você já consegue um bom começo para uma mudança.

 

MidiaNews –  Mas a senhora também tem a consciência de que caso eleita, não conseguirá mudar tudo?

 

Selma Arruda – É um trabalho de formiguinha, que a gente deve começar mudando alguns aspectos da Constituição, tratando de fazer as leis mais claras, porque as leis permitem várias interpretações e isso é feito de propósito. Naquilo que estiver ao meu alcance, é óbvio que posso trabalhar, e posso trabalhar bem. Tenho vontade de fazer várias coisas práticas, pequenas, que vão dar resultado. Mas não é um trabalho para pouco tempo não. É um trabalho para muita gente e muito tempo.

 

MidiaNews – A senhora pode exemplificar algumas questões na legislação que poderiam ser aperfeiçoadas?

 

Selma Arruda – Um exemplo bem prático é a questão do trânsito em julgado, que teve toda essa celeuma no STF. A Constituição não deixa claro o que ela entende por trânsito em julgado. Numa legislação clara, seria ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado. Parágrafo primeiro: considera-se trânsito em julgado tal coisa’. Pronto. É tão mais simples. Olha o tanto de dinheiro que o País está perdendo por causa dessa discussão. Se o Legislativo tivesse feito a sua parte, essa demanda não teria ido parar nas costas do Judiciário. Esse tipo de coisa tem que ser deixada da forma mais clara possível, para evitar a judicialização. A judicialização de assuntos como Saúde, Educação, também precisa cessar. Se cria um buraco negro em relação à Saúde, porque o Judiciário tem que dar a liminar, aí o SUS não dá conta da demanda e fica tudo sem solução. A modificação de dispositivos, que é uma coisa bem simples, pode causar efeitos muito bons e a curto prazo.

 

MidiaNews – E em relação à criminalidade comum, não é necessário fazer ajustes? A população se vê desesperançosa quando um bandido comete um crime contra a vida e fica pouco tempo preso, porque com 1/6 da pena já consegue progredir de regime…

 

Selma Arruda – Se a lei fosse cumprida, a progressão até seria uma boa. Você cumpre 1/6 da pena, vai para o semiaberto, que é uma colônia agrícola, pra aprender a trabalhar, se profissionalizar, fica ali mais 1/6 da pena, aí depois vai para a condicional. Se fosse dessa forma, até que estaria legal. Só que no Brasil se faz uma lei bonita e não se cumpre nada. Eu não acho que 1/6 seja uma fração ideal para poder progredir o regime da pena, até porque já temos esta experiência há muitos anos e não funciona. Eu penso que o preso deveria cumprir pelo menos metade da pena para obter uma progressão. Mas deveria haver dispositivos na lei para obrigar o Estado a construir esses estabelecimentos do semiaberto. Em Mato Grosso não existe nenhum estabelecimento de desintoxicação de drogados. 95% dos crimes acontecem por relação ou razão do uso de drogas. Ou o cara rouba para comprar droga, ou ele rouba porque precisa buscar a droga, ou ele recepta para buscar a droga, ou mata porque estava drogado. Tanto drogas lícitas quanto ilícitas. Mas não se faz nada para desintoxicar esses caras.

 

E ressocializar não é fazer uma fábrica de tijolo e ensinar o cara a fabricar tijolo. Gente, isso não conserta ninguém moralmente, eticamente, por si só. Você pode ter uma profissão e aprontar. Eu cansei de ter casos de gente que trabalhava o dia inteiro na Feira do Porto e na hora de ir pra casa assaltava um ônibus.

Alair Ribeiro/MidiaNews

Selma Arruda 12-04-2018

"E ressocializar não é fazer uma fábrica de tijolo e ensinar o cara a fabricar tijolo. Gente, isso não conserta ninguém moralmente, eticamente, por si só. Você pode ter uma profissão e aprontar"

 

MidiaNews – Nesse aspecto, como a senhora avalia a experiência da tornozeleira?

 

Selma Arruda – A tornozeleira eletrônica, infelizmente, é outra piada. Foi implantado o sistema de tornozeleira e um sistema de monitoramento. A primeira coisa que eu fiz foi mandar cadastrar meu email para receber o aviso de quem estava saindo fora da linha. E não apareceu nada. Aí pensei ‘mas meus réus são muito comportadinhos’. Aí descobri que eles podem tirar, aparece que está desconectado, vai pra onde quer, aí ele põe de novo e fica parecendo que foi uma falha do sistema. Então para que gastar tanto? E o pior: os caras estão assaltando e usando a tornozeleira como arma. Não precisam mais andar armados. Chega perto de uma senhora na parada de ônibus, mostra a tornozeleira e manda passar a bolsa. Virou objeto de status no meio da criminalidade.

 

Uma vez eu estava em um barzinho lá em Cáceres, aí encontrei um traficante, eu conheço todos os ‘malas’ lá, porque fiquei cinco anos na comarca. Aí falei ‘que bom que você foi solto, que bom ver você aí, agora levanta a cabeça’. Depois eu fui ao banheiro e fiquei na fila. E tinha duas menininhas esperando também. E elas comentando ‘meu pai comanda a cadeia, meu pai é o cara, pensa num vagabundo, meu pai é vagabundo, rouba, apronta’. Era uma menina pequenininha. Eu já tinha muito tempo de juíza criminal, mas essa visão do errado ser o certo foi a primeira vez que eu vi, ainda mais com criança. A gente tem uma inversão de valores e essas crianças estão sendo criadas assim.

 

A gente precisa de uma mudança de cultura, de programas na mídia que façam isso. As pessoas pararam de fumar porque a mídia começou a explicar que cigarro mata. Antigamente se glamourizava o cigarro nas novelas, nos filmes. Hoje fuma quem é bobo. Isso a gente precisa fomentar.

 

MidiaNews –  Qual seu posicionamento quanto à prisão perpétua e pena de morte?

 

Selma Arruda – O Bolsonaro é a favor de pena de morte. Eu sinceramente não sou, exatamente por ter sido juíza. Eu nunca me veria assinando uma sentença de morte para alguém, preferia pedir demissão no dia seguinte. Não me sentiria apta a decidir se alguém tem que ficar morto ou vivo. Isso não é coisa de gente que acredita em Deus. Mas a perpétua sim. A perpétua é um instrumento de contenção daquela pessoa que não tem cura, como psicopatas, estupradores. Mas tudo com um estudo sério, um estudo psiquiátrico sério. Teve o caso de um rapaz que estuprou e matou um menino, foi solto e fez outra vítima. É um caso típico.

 

Aqui nós temos um faz de conta muito grande. Eu trabalhei no sistema prisional, são pessoas esforçadíssimas, mas não há estrutura para fazer uma avaliação psiquiátrica completa se há 150 presos para entrevistar por dia. Não é possível fazer um estudo com um embasamento científico para o juiz decidir. E acaba que chega o tempo da progressão, o cara tem direito, e aí você tem que cumprir a lei. E esse faz de conta que me fez sair do Judiciário e tentar outra coisa.

 

MidiaNews – E quanto ao porte de arma?

 

Selma Arruda – A gente tem uma mania no Brasil de defender apenas as minorias, mas temos que começar também a defender as maiorias, que são pessoas honestas que trabalham, pagam seus impostos e não fazem mal a ninguém. Essa maioria é absolutamente prejudicada em nome da defesa de minorias. 90% das pessoas estão dentro das suas casas cheias de grades, à mercê de tudo, com medo, ninguém mais quer morar em casa. Se você der direitos de porte de arma a essas pessoas que não têm antecedentes criminais, que não têm histórico de violência, para que ela possa se defender de um cara que invade a sua casa, eu quero ver se o bandido vai ser tão afoito de entrar em qualquer lugar, sabendo que lá pode ter um sujeito armado.

 

MidiaNews – Mas atualmente qualquer cidadão pode ter esse direito de ter uma arma em casa e no ambiente de trabalho. O que se discute muito é o porte, de andar armado.

 

Selma Arruda – O cidadão já tem o direito, mas ele passa por tanta burocracia e tanta exigência que dificilmente consegue. O meu porte de arma é automático por lei e eu tive que fazer um monte de teste para estar apta, pagar taxas altíssimas. E isso é inviável para o cidadão comum. É preciso ter o controle decente dessas armas, porque o porte é uma opção. Eu tenho, mas não uso, porque eu sei que se eu for pega de surpresa, eu vou armar o bandido. Mas é uma opinião minha. Acho que as pessoas têm que ser livres para ter sua própria opinião. Pretendo defender isso em minha campanha.

 

O Estado de Mato Grosso tem uma atividade agrícola muito forte. Se você pensar em quantas pessoas por aí têm fazenda, pessoas às vezes de idade, e ficam sujeitas a sofrer uma invasão de bandidos. A fazenda fica na beira da estrada, aí o Movimento Sem Terra invade. Se você for correr atrás do delegado, até ele ir, até a Polícia se mexer, até a PM ter a logística de poder chegar lá… É muito sofrimento para o cara que está ali trabalhando, produzindo pela sua família. É uma humilhação que o cidadão não precisa passar.

 

MidiaNews –  Em um caso de invasão, o produtor rural deveria ter o direito de fazer uso da força?

 

Selma Arruda – Com certeza. O Código Civil garante que o cidadão possa usar a força suficiente para defender a sua propriedade. A força suficiente vai ser o porte de arma ou um tapa? Se você pensa em terras abandonadas, se você tem terras não produtivas, ainda assim eu acho que isso é ilegal. Agora, geralmente é terra produtiva que é invadida pelo Movimento Sem Terra, à beira da estrada, em lugar com estrutura, já entram matando o gado, metendo o pé na porta, fazendo violência de toda sorte, e isso não pode. O cidadão tem o direito de receber à bala uma invasão do MST, um assalto, e existe muito assalto em fazenda. Cáceres tinha muito disso, de latrocínios mesmo, coisa horrorosa, de amarrar as pessoas, roubar tudo e depois matar, para o cadáver ser descoberto depois de 20 dias. Se a pessoa tivesse uma arma teria ao menos a oportunidade de tentar se defender.

 

MidiaNews – Como a senhora avalia essas propostas de descriminalização de drogas como forma de combater o tráfico?  

 

Selma Arruda – O Brasil é o país do puxadinho. Quando matam um artista da Globo, logo querem tornar o homicídio um crime hediondo. Quando alguém importante é vítima de um crime específico, querem endurecer as penas desse crime. Agora como todo mundo gosta de usar droga, então querem descriminalizar logo. Eu não vejo dessa forma. Acho que temos que fazer um estudo profundo de consequências, inclusive sociais, antes de colocar isso em pauta. Imagina um usuário que furta e rouba para garantir o seu vício: quanto essa pessoa deixa de produzir ao Estado? Ela não produz, ela não trabalha, e ela custa para o Estado. Ela é um problema de saúde, ela custa dentro da unidade prisional, custa no hospital para o tratamento, custa dentro de casa porque começa a roubar as coisas, os pais já não conseguem trabalhar direito. Imagina o custo disso. Se você descriminaliza, está criando um custo muito grande para o Estado, um custo social. As coisas têm que ser feitas com essa visão larga de custo/benefício social e econômico para ver se é viável ou não.

 

Eu, por exemplo, sou a favor de descriminalizar o jogo do bicho, cassino. Porque eu não vejo prejuízo social nisso. Enquanto continua sendo crime, é instrumento de lavagem de dinheiro. Depois de autorizado, não. Vai recolher os impostos, emitir nota fiscal, qual o problema? Porque pode ter estabelecimento que vende cerveja, cachaça, e não pode ter um estabelecimento que tenha uma roleta pra você jogar? Tudo que é irregular dá vazão para a instalação de organizações criminosas. Nos EUA, durante a Lei Seca, as organizações ganharam força traficando bebidas. Existem certas atividade que se você criminalizar, fortalece o crime, e outras que se você não criminalizar, prejudica a sociedade.

 

MidiaNews – Por falar em jogo do bicho, como a senhora viu a progressão de regime ao Arcanjo, que foi condenado pela morte do jornalista Sávio Brandão e outros crimes?

 

Selma Arruda –  Eu não tenho conhecimento do processo para dar uma opinião jurídica. Mas como cidadã eu observo que o Arcanjo não foi o único protagonista de todo aquele contexto da época. Ele estava agindo coligado com várias pessoas que estão soltas até hoje, pessoas públicas que foram comparsas de tudo aquilo e que não pagaram nenhum dia de cadeia. Na operação Arca de Noé, quando o Arcanjo lavava o dinheiro que era desviado da Assembleia, os réus são o Arcanjo, Riva, Bosaipo e outras pessoas. Mas só o Arcanjo pagou esses anos todos, e saiu depois de 10 anos preso. Os outros não dá pra afirmar que fizeram algo além da corrupção, mas tudo fazia parte do mesmo contexto. Naquela época, a política era feita daquela forma, a ferro e fogo, mandava matar mesmo, e só o Arcanjo foi colocado como o protagonista.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Selma Arruda 12-04-2018

"Eu, por exemplo, sou a favor de descriminalizar o jogo do bicho, cassino. Porque eu não vejo prejuízo social nisso. Enquanto continua sendo crime, é instrumento de lavagem de dinheiro. Depois de autorizado, não"

MidiaNews –  O caso do Arcanjo também não seria mais um exemplo de que o crime compensa, pois continua com um patrimônio milionário?

 

Selma Arruda – É um exemplo. Na minha vara, vários processos contra ele ficaram parados durante muitos anos, porque a gente não conseguiu fazer andar até o dia em que eu saí. Ele foi preso no Uruguai, e por conta disso a gente dependia de autorização do Uruguai para continuar a processá-lo. Então esses processos certamente vão prescrever e ele não vai ser condenado por eles. Essa burocracia estimula a impunidade. Nesse sentido, é uma prova de que o crime compensa.

 

MidiaNews –  Como você vê a gestão do governador Pedro Taques nesse momento, que é muito criticada por engessamento, afastamento, falta de diálogo?

 

Selma Arruda – Eu vejo que é uma pessoa que veio com uma intenção muito clara de limpar, propor transparência. Eu via ele no começo abrir as portas para o Judiciário e o Ministério Público fiscalizarem o que estava acontecendo. É compreensível que a pessoa que está no comando não tenha como saber tudo o que acontece dentro das secretarias, tanto que depois houve a Operação Rêmora, que foi bem no meio do governo dele, e ele nunca fez nem um esforço para que a gente amolecesse ou não investigasse, nunca houve pedido dele nesse sentido. Mesmo com a questão do Alan Malouf, que citou a história do caixa dois de campanha, nunca recebi nenhum pedido e não tenho notícia de que o Gaeco [Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado] tenha recebido.

 

Agora, nesse período de crise é muito difícil falar, pois não sei como ele se comportou na gestão administrativa-financeira. Eu sei que há muita reclamação do servidor público por conta de questões de RGA [Revisão Geral Anual], atraso de salários. Com relação a essas questões de corrupção eu não tenho o que falar dele, dou nota 10. Agora, como gestor eu não tenho elementos, a gente sabe que teve atraso salarial, emperramento da máquina, atraso de duodécimo. Mas no Judiciário é difícil avaliar isso por estar em outra esfera. Eu não tenho nada contra ele.

 

MidiaNews –  Mas a senhora acha que ele merece um segundo mandato?

 

Selma Arruda – O PSL tem um candidato a governador chamado Dilceu Rossatto, que é um empreendedor, um cara que estou conhecendo agora e que a cada dia está me surpreendendo positivamente no sentido de ser uma pessoa que tem capacidade administrativa mesmo. Foi prefeito de Sorriso, é um cara que começou pobre, e que conseguiu prosperar, então uma pessoa dessas têm capacidade administrativa. Ele é muito querido pelos servidores de lá, é uma pessoa muito democrática, muito maleável, muito fácil de tratar. E é um sujeito muito inteligente, não é a toa que Sorriso e cidades como Lucas do Rio Verde são super desenvolvidas. Então eu prefiro aprovar a candidatura do Dilceu Rossatto.

 

MidiaNews – A senhora acha que essas são as diferenças entre o Rossatto e o Pedro Taques? Capacidade de diálogo, capacidade administrativa…

 

Selma Arruda – Exatamente. Ele tem uma visão empresarial. Porque quando as pessoas me perguntam se eu quero ser governadora eu digo que não? Porque eu não tenho visão empresarial, minha visão é de funcionária pública, trabalho com lei e quero trabalhar com lei. É muito tentador me convidarem para cargo de governadora, vice-governadora. Mas eu não sei fazer isso, nunca administrei. É essa a questão. Você quer um bom governador, procure um bom administrador.

 

MidiaNews –  Talvez um exemplo disso seja o ex-prefeito Mauro Mendes, porque ele se elegeu em cima disso, de ser um bom administrador, empresário de sucesso… Acha que ele fez uma boa gestão?

 

Selma Arruda – Com todo o respeito, eu não acredito que o Mauro Mendes venha a se candidatar. Porque embora ele possa ter sido um bom gestor público, ele tem problema de gestão das próprias empresas. Isso eu tenho certeza que vai ser muito questionado. Como você vai gerir um Estado se não consegue manter saudável a gestão das suas empresas? Acho que ele ser candidato não é bom nem pra ele nem para Mato Grosso. A gente tem que se priorizar. Quando eu resolvi ser candidata, eu olhei para trás e falei ‘bom, meus filhos estão criados, meu marido está com saúde, eu também estou, então posso arriscar’. Você arriscar alguma coisa que leva a prejuízo pessoal é muito perigoso, por isso eu acho que ele não vai se candidatar. Mas existem outras pessoas naquele grupo que têm condições, como o Otaviano Pivetta, com grandes chances.

 

MidiaNews –  Acha que o Jayme Campos também tem condições de fazer uma boa gestão?

 

Selma Arruda – Eu acho que a gente tem que esquecer um pouco dessa velha política. Talvez os mais jovens não se recordem, mas quem viveu na época em que ele foi governador sabe que não foi um bom Governo. Houve atraso salarial, a gente lembra muito bem do que aconteceu naquela época. Essa velha política, essa forma antiga de se fazer política, eu acho que tem que ser renovada. Precisamos de gente nova, para arejar, sou contra a reeleição, não sou a favor de ter a política como carreira, como profissão. Vai lá, faz o que tem que fazer e sai fora. Já passou o tempo deles.

 

MidiaNews –  Houve casos de corrupção nos governos do Jayme, do Júlio Campos, ou não havia mecanismos para averiguar isso?

 

Selma Arruda – Não se tinha mecanismos nem de avaliação, muito menos de fiscalização como temos hoje, como laboratórios de lavagem de dinheiro, temos tantos outros meios que vieram bem depois. Não sei se efetivamente aconteceu ou não, mas a gente sabe que esse modo antigo de fazer política já está ultrapassado.

 

MidiaNews –  Alguns políticos como o Julio Campos já fizeram um paralelo da sua situação, comparando com o ingresso do ex-juiz Julier na política, que acabou não sendo exitosa. A senhora teme se frustrar com essa experiência?

 

Selma Arruda – De forma alguma. Esse é o tipo de opinião de quem faz a velha política, de quem tem opinião ultrapassada. Não tem a mínima comparação porque eu estou sendo muito clara em dizer o que eu quero, o que eu me proponho a fazer e o que as pessoas que confiarem em mim podem esperar. O que houve no caso do Julier é que havia um magistrado que havia se destacado por sentenciar processos do Arcanjo, prendido o Arcanjo, mas acabou que isso não teve projeção política e acabou indo para o partido errado. Sofreu rasteiras lá e perdeu completamente o ‘time’ de tentar fazer alguma coisa.

 

Mas volta naquela coisa de pretender exercer um cargo Executivo que você nunca exerceu. As pessoas têm que dar o seu voto pensando também na questão meritocrática. Se você tem formação para fazer um trabalho de verdade, tem que votar nessa pessoa. Agora você vota em uma pessoa porque é cantor, jogador de futebol, e acha que ele vai chegar lá e fazer uma lei que preste? Não vai fazer porque não tem condições técnicas. Essa comparação que fizeram é infeliz e eu vejo que deve ter acontecido até mesmo por preocupação, já que o irmão dele [Jayme] deve concorrer ao Senado.

 

MidiaNews – Nesse sentido, a senhora não teme ser alvo de ataques, boatos, fake news e mentiras durante a campanha?

 

Selma Arruda – Com certeza isso vai acontecer, apesar de ser impossível eu baixar ao nível desse tipo de provocação. Mas a gente sabe que isso vai acontecer, eu já estou em conversação com uma equipe de advogados que estão prontos para dar a resposta necessária. Muita coisa é difícil de descobrir a origem e de punir, mas dentro daquilo que for possível nós estamos prontos para descobrir e desmascarar essas pessoas. A gente sabe que vai ter fake news, vai ter ataques, mas as pessoas que me conhecem, que sabem a minha postura de trabalho, dificilmente vão acreditar em boatos.

 

MidiaNews –  Nós temos a informação de que a senhora se reuniu com uma equipe de marketing para definir como vai ser sua campanha. O que vai ser potencializado na sua campanha, qual será seu discurso?

 

Selma Arruda – Eu imagino uma campanha sem caixa dois. Com recursos dentro do limite que a lei estabelecer, estritamente dentro desse limite. Dá para chegar lá do jeito certo. Ainda vão definir o teto, mas a princípio parece que são R$ 5 milhões de teto de gastos. Farei uma campanha enxuta, com bastante uso de rede social, que é uma coisa barata, e absolutamente limpa. Sem fake news, sem baixaria, sem comitê da maldade. Tentar fazer com que as pessoas te escolham porque você é o melhor, não porque você é o menos pior. Nas demais eleições, em todas a gente tinha nojo de votar. Porque começava uma baixaria tão grande que você ia votar por obrigação no menos pior. Se for para ser dessa forma, eu prefiro não me eleger. Eu prefiro ser eleita porque das pessoas ali postas, me consideraram a mais qualificada ou a segunda mais qualificada.

 

MidiaNews –  Quais serão os temas preponderantes na sua campanha?

 

Selma Arruda – O meu mote será as mudanças legislativas que vão atingir os principais problemas do Estado, que beneficiem infraestrutura, tragam mais segurança pública, mais segurança aos servidores públicos. Olhar cada dispositivo, ver qual vai ser a consequência social dele e fazer isso não da forma como se faz hoje, com negociatas, e aí sim votar com responsabilidade essas coisas.

 

MidiaNews – Uma campanha é cara e o Estado é grande. A arrecadação a preocupa, ainda mais agora que só pessoas físicas podem doar?

 

Selma Arruda – Eu não posso ainda mexer com isso, porque a lei estabelece prazos. Mas eu tenho recebido muito apoio das pessoas. Acho que não vou ter esse problema, até porque eu não vou gastar zilhões. Então com esse apoio eu consigo levar a campanha bem fácil. Porque não sou eu quem estou indo procurar, as pessoas estão me ligando e me oferecendo o apoio, inclusive financeiro.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Selma Arruda 12-04-2018

"Não sou eu quem estou indo procurar, as pessoas estão me ligando e me oferecendo o apoio, inclusive financeiro"

MidiaNews –  Os apoiadores já falaram em valores?

 

Selma Arruda – Já.

 

MidiaNews – Quanto, por exemplo?

 

Selma Arruda – Não vou te falar (risos).

 

MidiaNews –  O principal candidato do partido, o presidenciável Jair Bolsonaro, é uma figura controvertida, polêmica. Assim que surgiu esse alinhamento, deu pra perceber um misto de surpresa e desapontamento com a senhora nas redes sociais. Como a senhora se vê no palanque do Bolsonaro?

 

Selma Arruda – Aquelas pessoas que idealizaram uma Selma que defende direitos “dos manos”, certamente estão decepcionadas. Eu sempre defendi e sempre agi no sentido de que os direitos devem ser iguais. Tanto os direitos de quem comete o crime quanto da vítima alvo do crime, e da sociedade que tem direito à segurança. Essas pessoas que se decepcionaram certamente se decepcionaram por conta de declarações polêmicas que o Bolsonaro já deu, como o da ‘mulher tem que ganhar menos’. Mas não se atentaram que muitas vezes essas declarações foram pinçadas para dar outro sentido ao que ele disse.

 

Nesse caso, por exemplo, ele estava dizendo que a mulher dá mais despesa para a empresa porque tem as questões das licenças, tem que dar de mamar. Então para uma empresa poder contratar tantas mulheres quanto homens, o barato para a empresa, do ponto de vista empresarial, seria poder pagar menos para as mulheres, porque aí compensaria as faltas. Mas pinçaram como se ele tivesse dito que a mulher deveria ganhar menos. A história de que ele disse para a deputada que ela não merecia ser estuprada porque era feia, foi a mesma coisa. Dentro daquele contexto, ela chamou ele de estuprador em uma discussão acalorada e ele reagiu à altura. Ele é uma pessoa de pavio curto e acaba falando bobagem.

 

MidiaNews –  Mas a crítica maior é que o Bolsonaro não representaria muita coisa, não teria consistência, é só esse discurso da bala, sem apresentar propostas sólidas nem articulação no Congresso, e que em uma eventual eleição ele teria que “abrir as pernas” para ter governabilidade.

 

Selma Arruda –  O PSL cresceu muito com a vinda do Bolsonaro e eu acho que isso é um sinal de respeito à possibilidade de o Bolsonaro ser eleito. Com relação aos projetos, ele deve apresentar no prazo certo. Porque apresentar os projetos antes do prazo, além de poder incorrer em erro de antecipação, acaba dando arma para seu inimigo usar seu projeto para si. Existe sim uma equipe muito séria, já existem indicações de pessoas para atuar nas áreas principais e elas estão trabalhando duro. Quando chegar na época, ele deve mostrar esses projetos de uma forma mais consistente.

 

MidiaNews –  O Bolsonaro é chamado pelos apoiadores de “mito”. O Pedro Taques também já teve uma aura de mito no passado e a senhora, de certa maneira e pelo currículo que ostenta, também pode ser considerada um mito.

 

Selma Arruda – Selmito (risos).

 

MidiaNews –  Nessa linha, essa cultura da celebridade, em que se vota em um nome, em uma biografia, é algo bom? Até que ponto isso é positivo para o processo político brasileiro?

 

Selma Arruda –  Eu sempre como cidadã votei no nome. Tanto que hoje eu recebo apoio nas redes sociais até assim ‘Selma para o Senado e Lula para presidente’ (risos). Quer dizer, é o nome mesmo, não é a agremiação, o partido. Eu acho importante o eleitor conhecer a pessoa em quem ele está votando, e votar por confiar naquela pessoa, por saber a história dela, a coerência. E aí sim eu vejo que é o mais correto que o eleitor pode fazer.

 

Agora, eu não acredito em super-heróis, não acredito em mitos. O Sérgio Moro pode ter uma dor de barriga amanhã e se aposentar. Selma aposentou e o mundo não acabou. As pessoas têm que acreditar nas instituições. Os processos que eu conduzia não vão definhar. Vem outra pessoa melhor, a sociedade cobra se aquela pessoa não seguir o mesmo ritmo, e as coisas vão acontecer. Selma de super-heroína e Moro de super-herói não é uma coisa legal. A gente se infantiliza com isso, a nação se infantiliza acreditando em super-heróis.

 

MidiaNews  – Como a senhora viu essa questão do prefeito Emanuel Pinheiro sendo flagrado enchendo o bolso do paletó de dinheiro na época em que era deputado e, apesar disso, continuar administrando a cidade, gerindo orçamento bilionário?

 

Selma Arruda –  Eu vi com muita tristeza, principalmente essa inércia do povo com relação a isso. E não é só aqui não, é no Brasil inteiro. As pessoas estão enchendo seus paletós, seus porta-malas, suas cuecas, e o brasileiro continua achando bom e só se mobiliza por causa de jogo de futebol, parada gay… Não que essas mobilizações não tenham importância, mas não têm essa relevância social tão grande. É um atestado de ‘pode fazer’. O povo está dando atestado de que ‘pode ser corrupto, que eu deixo, não estou nem aí’.

 

E a corrupção é tão nociva exatamente por isso.  Se você vê um crime de homicídio, tem um corpo no chão, sangue, o cheiro da pólvora, a arma, a mãe da vítima chorando. Você tem um crime concreto. A corrupção não, ela não tem vítimas, porque todo mundo é vítima e acaba sendo uma coisa muito abstrata. E é tão ou mais nociva, porque a corrupção causa muitos homicídios.

 

MidiaNews – Porque o eleitor mato-grossense deve votar na senhora?

 

Selma Arruda – Eu não posso pedir votos porque ainda estou em pré-campanha. Estou em uma fase de me apresentar à sociedade, não apenas como uma juíza, mas apresentar minhas ideias com relação à Educação, Saúde, etc. Preciso ir aos quatro cantos do Estado e ouvir a população. Ouvindo essas necessidades, eu devo fazer um programa mais concreto de campanha mesmo e, assim, pedir o voto das pessoas por esses e aqueles motivos.

 

Por enquanto, eu peço a confiança e o apoio das pessoas exatamente pela minha biografia e por saberem que eu estou entrando para este mundo político com a intenção de agir de forma a tornar a política uma coisa lícita. Para que as pessoas tenham orgulho de dizer ‘eu sou política’, que tenham orgulho de dizer ‘eu votei no fulano’. E não como a maioria pensa, de que entrou para a política já se sujou, já assinou o atestado de corrupto. Que as pessoas diante daquilo que já conhecem da minha vida, da minha carreira, da maneira séria como eu tratei as coisas até hoje, confiem que em uma eventual carreira política eu vou ter a mesma postura, a mesma dedicação.

 

Eu sou uma pessoa inquieta, eu não consigo ver as coisas sem reagir contra elas, quando eu posso reagir. Resolvi me levantar, larguei a toga que eu amava, aposentei nova, mas diante dessa desarrumação toda que eu senti e vi, diante desse olhar todo que Deus me permitiu ter dessa situação, eu não poderia ficar sem arregaçar as mangas. Eu me vejo como uma pessoa que não tem preguiça de lutar.

Midia News.

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