Inspirações femininas no esporte mato-grossense

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CAMARA VG
ALMT

Rotuladas muitas vezes como 'sexo frágil', as mulheres ainda enfrentam adversidades nos dias atuais para adentrar áreas consideradas masculinas, entre elas, o esporte. Uma pesquisa realizada entre 2017 e 2018 pela ONG britânica Women in Sport apontou, por exemplo, que cerca de 40% das atletas femininas entrevistadas sofreram algum tipo de discriminação de gênero.

O estudo 'Beyond 30 per cent: Workplace Culture in Sport' (Além dos 30%: A cultura do local de trabalho no esporte, em tradução livre) apenas mostra o que é comum nas quadras de vôlei, basquete, nos tatames e pistas de atletismo de todo o mundo: que as mulheres são exemplos de luta e superação. 

Neste mês em alusão ao Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) buscará histórias que marcaram o esporte mato-grossense e são sinônimo de orgulho para a população. Na avaliação do secretário da pasta, o deputado estadual Allan Kardec, o incentivo ao esporte, principalmente entre as mulheres, é sem dúvida um projeto importante de governo. "Esporte é saúde, qualidade de vida, também traz oportunidades a jovens de vários níveis sociais, temos que incentivar sim".

 Karine Gomes, basquetebol 

O esporte está na vida de Karine Gomes desde a infância. Já aos 13 anos participava de seu primeiro campeonato brasileiro de basquetebol e na sequência foi selecionada para a equipe da Ponte Preta na categoria infanto-juvenil. Foi campeã mato-grossense, representando Cuiabá por 11 anos. Também já representou as equipes de Miracema (RJ), Flamengo (RJ) e Unimed Araçatuba (SP).

Em 2012 assumiu a presidência da Federação Mato Grossense de Basketbal e atualmente ocupa a função de conselheira da Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Mãe do Luiz Guilherme e do Cauã, é advogada e assessora jurídica. A atleta e advogada já treinou com grandes nomes do basquetebol feminino, como Paula, Hortência, Helen e Ruth, essa última de Guiratinga. Mais do que inspiração, a oportunidade de treinar com essas renomadas esportistas trouxe um estímulo a mais em sua carreira no basquete.

Quando foi presidente da Federação Mato-grossense, Karine era a única mulher presidente de federação de basquete no país. Segundo ela, essa baixa inserção feminina no comando de entidades representativas poderia ser mudada caso houvesse mais incentivos, tanto na melhor divisão de tarefas dentro de casa quanto por meios de iniciativas das próprias instituições. “Ainda há poucos estímulos e muitas cobranças quando a mulher prioriza qualquer coisa que não seja a casa e os filhos”. 

Karine vê poucas mulheres inseridas no contexto macro do esporte –  especialmente como lideranças – acredita que isso não seja uma peculiaridade do basquete, mas um fator cultural. “Sempre que eu chegava em uma Assembleia Nacional, as recepcionistas perguntavam quem da Federação eu estava representando”, exemplifica. 

Mas ela alcançou o 'empoderamento' encarando as barreiras que se apresentaram em sua vida e aproveitando as oportunidades. "Tive resistir muito mais que os jogadores homens, mas sempre quis fazer as escolhas com equilíbrio e a enfrentar as cobranças, porque sei que sou exemplo a muitas outras mulheres que buscam aliar a prática do esporte ao papel de mãe e profissional."

 Luzia Fernandes, jiu jitsu 

Luzia Fernandes, atleta de jiu Jitsu e professora de luta olímpica na Escola Arena Pantanal, ostenta uma coleção de medalhas que dá orgulho a todos os mato-grossenses, homem ou mulher. No Jiu Jitsu, foi quatro vezes campeã mundial e 17 vezes campeã brasileira. E no judô, Luzia conquistou duas vezes o ouro na competição pan-americana, uma vez na sul-americana de judô e cinco vezes na competição nacional. 

Suas vitórias mais recentes foram no Campeonato Sul-Brasileiro de Jiu-Jitsu, realizado em fevereiro deste ano, sendo campeã nas provas com Kimono e sem Kimono.

Por ser um esporte em que há predominância masculina, Luzia conta que as mulheres que praticam jiu-jitsu sofrem um pouco pelo preconceito, principalmente com as brincadeiras que costumam ouvir. “São alguns embaraços desnecessários. Mas acho que estamos conseguindo conquistar nosso espaço”, comenta a esportista.

Comparado a outros Estados, em Mato Grosso a presença de mulheres praticando Jiu Jitsu ainda é pequena. Mas a atleta ressalta que houve um crescimento do interesse das mulheres pelo jiu-jitsu. “Percebo que cresceu a participação feminina. Na academia que faço parte, por exemplo, há mulheres que praticam para serem competidoras e outras que fazem por hobby”.

Na Escola Estadual Governador José Fragelli, a escola na Arena Pantanal, em que Luzia dá aulas de wrestling (luta olímpica) há uma boa participação na modalidade e até algumas conquistas. “No ano passado,  conseguimos classificar alguns alunos para o brasileiro estudantil, sendo que maioria é formada por meninas e voltamos de lá com duas medalhas de segundo e uma de terceiro lugar”, comemora.

Independentemente do gênero, Luzia constuma passar a seus alunos que para alcançar resultados tudo deve ser feito sempre com muito amor e dedicação. Como muitos alunos, inclusive as mulheres, se inspiram em seu trabalho, Luzia faz o possível para dar bons exemplos dentro e fora do tatame.

Maria Aparecida Lima, atletismo 

Única mato-grossense a competir nas Olimpíadas na modalidade atletismo feminino, Maria Aparecida Souza De Lima participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta 96 na prova de salto triplo. Natural de São José dos Quatro Marcos, interior de Mato Grosso, Cida, como é conhecida, é recordista brasileira no salto em distância e recordista brasileira e sul-americana em salto triplo.

Para a atleta, as conquistas femininas em competições nacionais e internacionais têm ajudado a aumentar a participação de mulheres no atletismo. “O atletismo é uma modalidade individual, em que sua performance só depende de você e da sua força de vontade. Quando mulheres do esporte se destacam,  outras se inspiram e acreditam mais em suas potencialidades”.

Esposa do atleta também renomado Vicente Lenilson e mãe de dois meninos, Pedro e Davi, Cida fala da importância de incentivar a prática de esportes desde a infância. Ela, que recebeu o apoio quando criança, destaca que isso ajuda a fazer do esporte uma vivência, mesmo que haja barreiras no cotidiano.  “Fui atleta dos nove anos aos 33 anos. Hoje com 47 anos se eu parar o corpo sente, pois o esporte sempre fez parte da minha vida”. 

Suas referências no atletismo são as também mato-grossenses Lissandra Maysa e Renatha Neves. “Queremos, juntas,  construir uma história e garantir a representatividade feminina no esporte em Mato Grosso, Brasil e no mundo”.

 Melissa de Arruda, voleibol 

Melissa Prudêncio de Arruda começou a praticar voleibol aos 13 anos. Aos 15 chegou a ser pré-convocada para a seleção brasileira de vôlei de quadra, na categoria infantil, mas sua pouca estatura impediu que o chamamento se concretizasse.

Nem por isso a atleta abandonou o esporte. Melissa fez parte da seleção mato-grossense nas categorias infantil e juvenil. Nesse período alcançou, inclusive, o título de campeã brasileira junto com a equipe.

Uma outra mulher, a sua irmã Maira, foi sua inspiração para começar a jogar voleibol. “Minha irmã iniciou no esporte quatro anos antes de mim. Eu era muito nova, acompanhava ela nos jogos e ficava maravilhada com tudo, ela me inspirou”.

Alguns anos depois, de inspiradora a irmã passou a ser sua parceira. “Conseguimos jogar juntas, formar a parceria e alcançar alguns títulos pro Estado”, conta Melissa. Elas formaram dupla de vôlei de praia e foram, durante 13 anos consecutivos, campeãs do circuito mato-grossense. Melissa e Maira foram também a única dupla feminina a representar Mato Grosso no Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia ou em outras competições nacionais.

Na opinião de Melissa, nos últimos anos houve um grande evolução na participação das mulheres no voleibol, mas se for comparar com a participação masculina ainda há muito que avançar. “No vôlei e também nas demais modalidades esportivas ainda somos minoria”, enfatiza.

As conquistas da seleção brasileira feminina de voleibol foram essenciais para incentivar outras meninas na prática do esporte, segundo Melissa. Ela acredita que isso ajudou a aumentar a participação feminina no esporte em Mato Grosso e em todo o país. 

O incentivo da família e bolsas de estudo ajudaram Melissa a superar as dificuldades e continuar a praticar o esporte. Hoje, mãe de Gabriel e Maria – que é portadora síndrome de down, a esportista enfrenta com gratidão as complexidades que a fazem ficar afastada do voleibol por alguns períodos. Mas segue vencendo as barreiras, lutando como uma mulher, e sendo exemplo de vida para muitas outras.

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