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Associação: tenente teve depressão e chegou a ser internada

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Midia News

O tenente-coronel da Polícia Militar, Wanderson Nunes de Siqueira, presidente da Associação dos Oficiais da PM e Bombeiro Militar de Mato Grosso (Assof), revelou que a tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza, pediu seis licenças médicas, em menos de um ano, pois está em depressão desde a morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, em 15 de novembro passado.

Ledur é acusada de ter torturado o aluno durante o treinamento, que teria culminado na morte do jovem. Ela passou a ser investigada e posteriormente foi denunciada pelo Ministério Público do Estado (MPE) por tortura.

A oficial tornou-se ré após a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, aceitar o encaminhamento do MPE.

Selma Arruda determinou que a tenente cumpra medidas cautelares, como a utilização de tornozeleira eletrônica. No entanto, a magistrada não acolheu pedido do MPE para determinar sua prisão preventiva. O Ministério Público recorreu da decisão e solicitou, novamente, que a tenente fosse detida.

Desde a morte do jovem, Ledur conseguiu o direito a diversas licenças médicas. A primeira delas teve início em 25 de novembro, 10 dias após Rodrigo Claro morrer, supostamente, em decorrência de um treinamento conduzido por ela.

Conforme edições do Diário Oficial do Estado, ela pegou outras cinco licenças médicas desde então.

De acordo com o presidente da Assof, Wanderson Nunes de Siqueira, os afastamentos solicitados por Ledur são em decorrência de um quadro de depressão que ela desenvolveu após a morte do aspirante.

“Ela está com problemas psicológicos, característicos de depressão. A tenente chegou a ficar internada, três meses atrás, em uma clínica, durante 30 dias. Hoje ela está em tratamento contra a depressão”, revelou.

Conforme Siqueira, a bombeiro passou a desenvolver a depressão logo após a repercussão da morte de Rodrigo Claro. “Quando aconteceu o fato, devido à repercussão, ela foi hostilizada nas ruas e isso acelerou ainda mais os problemas psicológicos que estava tendo”.

“Ela não tinha esses problemas antes, pois sempre teve a saúde tranquila, mas a repercussão e o assédio fizeram com que ela ficasse assim”, relatou.

O tenente-coronel da PM afirmou que Ledur passou a sofrer diversas críticas após a morte do aluno. “Ela chegou a acompanhar o tratamento do Rodrigo Claro no hospital, mas depois que ele morreu, começaram algumas ofensas, que aceleraram o quadro depressivo dela”, comentou.

Conforme Siqueira, Ledur chegou a trabalhar alguns dias depois da morte do rapaz, até que em 25 de novembro passado solicitou a primeira licença médica. “Ela estava com características de depressão, não saía de casa, tinha dificuldades para ficar sozinha e teve de começar a fazer tratamento”.

“A tenente teve até que acabar com as redes sociais, por causa das ofensas que algumas pessoas, sem informação, começaram a fazer contra ela”, detalhou.

Ele frisou que a expectativa é de que a tenente se restabeleça em outubro, quando se encerra a licença mais recente dela. “A gente torce para que ela melhore”.

Inocência da tenente

Para o tenente-coronel Wanderson Nunes de Siqueira, a tenente não teve envolvimento com a morte do aluno. “O laudo da Politec garante que ela não foi responsável pela morte dele, as circunstâncias do fato também revelam isso. A associação somente externou essa situação”.

Siqueira salientou que as apurações administrativas sobre a conduta da tenente ainda estão em fase de apuração. “Os processos administrativos correm em paralelo ao penal, mas ainda não há conclusão nenhuma sobre eles”.

Por fim, ele afirmou que são infundadas as afirmações de que Ledur tem culpa pela morte do aluno.

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Aluno Rodrigo Claro, de 21 anos, morreu após treinamento do Corpo de Bombeiros, em novembro passado

“A associação entende que muitas pessoas têm feito comentários, falado coisas sem conhecimento de causa, sem saber como transcorreram as coisas e feito verdadeira condenação à Ledur, em razão de ‘disse me disse’. Nos autos do inquérito, por exemplo, não dá para tirar nenhuma conclusão sobre o caso, como estão fazendo”, declarou.

As licenças

De acordo com edições do Diário Oficial do Estado, a primeira licença de Ledur, concedida em 25 de novembro, durou até 24 de dezembro passado. A licença seguinte foi correspondente ao período de 9 de março ao dia 15 do mesmo mês.

Depois das duas primeiras licenças, a tenente se afastou em meados de março deste ano e permaneceu sem exercer suas funções, sob a alegação de problemas de saúde. Edições do Diário Oficial deste ano revelam que a licença seguinte foi concedida de 20 de março até 18 de maio, sendo renovada de 19 de maio a 17 de junho e, posteriormente, de 18 de junho a 17 de julho.

Em 2 de agosto, Ledur obteve nova licença médica, desta vez retroativa a 18 de julho, válida até 15 de outubro. Nas permissões para que a bombeiro se afastasse, não haviam especificações sobre os motivos de saúde alegados por ela para deixar temporariamente as funções.

Ação contra tenente

Ao aceitar a denúncia do MPE contra Ledur, a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, não acolheu pedido para decretar prisão preventiva da militar.

Porém, estipulou medidas cautelares, entre elas a utilização de monitoramento eletrônico; comparecimento mensal em juízo, para informar residência e justificar suas atividades; manter distância de quaisquer locais relacionados ao Corpo de Bombeiros Militar, inclusive da Secretaria de Segurança Pública, para evitar o risco de novas infrações; proibição de manter contato com as testemunhas arroladas pelo Ministério Público e suspensão do exercício de função pública de Tenente Bombeiro até o final da instrução processual.

De acordo com a juíza, o uso do monitoramento eletrônico é para que a militar não infrinja as outras determinações e não atrapalhe o andamento das investigações.

“Todavia, há medidas cautelares diversas da prisão capazes de assegurar que a denunciada não volte a delinquir e não tenha qualquer influência junto a testemunhas, de modo a garantir tanto a ordem pública, quando a escorreita coleta de provas na instrução processual”, disse.“(…) cite-se e intime-se a acusada Iadora Ledur de Souza a tomar conhecimento da denúncia e formular defesa, bem como para que dê início ao cumprimento das medidas cautelares ora impostas”, determinou.

Denúncia do MPE

De acordo com a denúncia, feita pelo promotor Sérgio Silva da Costa, o fato aconteceu no dia 10 de novembro de 2016, durante o treinamento de atividades aquáticas, em ambiente natural, do 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá.

O MPE destacou que, apesar de apresentar excelente condicionamento físico, o aluno demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre, entre outros exercícios.

Consta na denúncia que, embora o problema tenha chamado a atenção de todos, os responsáveis pelo treinamento não só ignoraram a situação como utilizaram-se de métodos considerados reprováveis, tanto pela corporação militar, quanto pela sociedade civil, para “castigar” os alunos do curso que estavam sob sua guarda.

Conforme o MPE, depoimentos colhidos durante a investigação demonstram que o aluno foi submetido a "intenso sofrimento físico e mental com uso de violência".

A atitude teria sido a forma utilizada pela tenente Izadora Ledur para punir Rodrigo, por ele ter apresentado mau desempenho nas atividades dentro da água.

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