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Em MT, 110 mulheres são vítimas de violência a cada dia; promotora afirma que companheiros são principais agressores

Foto: Rogério Florentino Pereira/OD

Olhar Direto

De acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), diariamente, 110 mulheres são vítimas de violência em Mato Grosso. O número de ocorrências envolvendo violência contra mulheres aumentou 13% no primeiro semestre de 2017 em comparação ao mesmo período de 2016. A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher no Estado, a promotora Lindinalva Rodrigues Dalla Costa, afirmou que na maioria dos casos, o responsável pelo crime é companheiro ou ex-companheiro da vítima.

 
De acordo com os dados da Sesp, cerca de 19.804 ocorrências foram registradas entre os meses de janeiro e junho de 2017, enquanto 17.514 foram registradas nos seis primeiros meses de 2016. 

“Nos casos de homicídio, nós chamamos de feminicídio. Geralmente o agressor é o companheiro ou o ex da vítima, que age furiosamente quando a mulher decide acabar o relacionamento abusivo ou encontra outro companheiro. Nessa hora, em um momento de fúria o homem mata a mulher, e é muito comum ele também matar os filhos, mesmo que sejam filhos deles, porque ele age na fúria do momento”, disse a promotora Lindinalva.

Mais um caso de feminicídio foi registrado na madrugada desta terça-feira (22). Adriana Aparecida de Siqueira, de 41 anos, e a filha dela, Andreza Maria Vilharga da Siqueira, de 19, foram mortas por Jhony Marcondes, 41 anos, que era companheiro de Adriana.

“Hoje já houve mais este caso de mulheres assassinadas, uma mãe e uma filha. Neste caso parece que ele era dependente de drogas e já tinha passagem pela polícia. Cerca de 30% dos casos de feminicídio ocorrem sobre influência de algum vício, álcool ou drogas”, disse Lindinalva.

De acordo com a Sesp, o número de registros de estupro, lesão corporal, ameaça, injúria difamação e calúnia foram maiores em 2017 do que em 2016. Já com relação a registros de homicídio doloso e tentativa de homicídio, houve uma redução em 2017 em comparação a 2016.

Nos seis primeiros meses deste ano já foram registrados em Mato Grosso: 125 casos de estupro; 35 homicídios; 156 tentativas de homicídio; 4.862 casos de lesão corporal; 9.929 casos de ameaça; 2.335 casos de injúria; 1.526 casos de difamação; e 836 casos de calúnia. Na região da Grande Cuiabá, de janeiro a junho já foram registrados 40 casos de estupro e 06 de homicídio.

“De fato ocorreu esta redução no número de homicídios, mas foi uma redução pequena. Esse ano mesmo já tiveram quatro casos registrados só em Cuiabá. E além deste de hoje, agora já tem mais a possibilidade daquele caso da namorada do bombeiro que morreu afogada ser feminicídio, nós vamos ir atrás deste caso também”, afirmou a promotora.

Além da atuação do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, o Ministério Público também realiza a ação do "Homens que agradam não agridem", que promove a conscientização de homens sobre agressão doméstica.

“Nesta ação nós vamos em canteiros de obras, vamos nos trabalhos nos homens, e temos percebido resultados positivos. Porque na maioria dos casos de feminicídio, o autor do crime não tinha passagem pela polícia, muitas vezes são homens que trabalham, pais de família, que não aceitam o término do relacionamento e matam a mulher”.

A promotora diz que seria essencial, para prestar um melhor amparo às mulheres, ter uma Delegacia da Mulher mais preparada.

“Precisamos de uma Delegacia da Mulher mais equipada, a que existe está sucateada. Precisamos de uma que funcione 24 horas por dia. Porque a maioria das ocorrências são acontecem nos fins de semana ou nos feriados, então é importante a mulher encontrar as portas da delegacia abertas quando ela precisar”, afirmou a promotora.

Para que casos como o de Adriana, e de muitas outras mulheres assassinadas pelos companheiros, não se repita, a promotora também pede para que as mulheres entendam o real perigo que correm.

“Essas mulheres que estão em situação de vulnerabilidade têm que saber que quando o homem faz ameaças a elas, elas estão correndo um perigo real de morte. Muitas vezes as mulheres acham que não vai acontecer com elas, mas elas têm que ter esta preocupação”.

Além disso, a promotora Lindinalva diz que são necesárias mais políticas públicas de proteção à mulher e mais rigor no cumprimento das penas.

“É por isso que não apoiamos os casos de tornozeleira eletrônica em casos de violência doméstica, porque a vítima permanece correndo risco. Como eu disse, o agressor age em um momento de fúria. Só precisa de segundo para o agressor cometer o assassinato”.

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