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Eder detona Nadaf a delator: “Vagabundo; está f… todo mundo”

Foto: Reprodução

Midia News

Uma conversa interceptada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) durante a Operação Arqueiro mostrou o ex-secretário de Estado Eder Moraes “detonando” o também ex-secretário Pedro Nadaf ao empresário Paulo Lemes, delator da operação.

No diálogo, Eder afirmou que Nadaf era um “vagabundo” e estava tentando “queimar” a relação comercial de Paulo Lemes com a Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) – ouça a íntegra da conversa abaixo.

A interceptação, feita em junho de 2013, visava apurar suposto esquema que teria desviado R$ 2,8 milhões do Governo do Estado, entre 2011 e 2014, por meio de convênios fraudulentos entre as empresas de Paulo Lemes e a Setas, então comandada pela ex-primeira-dama Roseli Barbosa.

As investigações começaram após a divulgação de erros grotescos em apostilas que estavam sendo utilizadas nos cursos de capacitação em hotelaria e turismo promovido pelo Governo do Estado. Tais materiais foram confeccionados pelo Instituto Concluir, que pertence a Paulo Lemes.

Durante a conversa, Lemes reclamou da coletiva de imprensa feita pelo delegado que apurou as irregularidades nas apostilas. Tais irregularidades, no ano seguinte, culminariam na deflagração da Operação Arqueiro, que descobriu as fraudes nos convênios do instituto com a Setas.  

Para o empresário, a coletiva teria sido ordenada pelo então secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme), Pedro Nadaf, que também presidia a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio-MT).

Paulo Lemes: Sua continha comigo só vai aumentando.

Eder Moraes: Por quê?

Paulo Lemes: Já sei quem mandou fazer a coletiva.

Eder Moraes: Coletiva?

Paulo Lemes: É.

Eder Moraes: O que teve na coletiva?

Paulo Lemes: Teve a coletiva para falar do material didático, das apostilas.

Eder Moraes: Quem que convocou?

Paulo Lemes: Quem autorizou a fazer foi o seu irmão, Pedrinho. Ele acha que eu faço tudo o que você manda. Que você manda no grupo.

Em seguida, Eder Moraes respondeu que o interesse de Pedro Nadaf era “queimar” Paulo Lemes com a então titular da Setas, Roseli Barbosa, visando que os materiais didáticos passassem a ser confeccionados por órgãos ligados a Fecomércio.

Eder, na época, ocupava o cargo de secretário de Representação e Articulação Institucional do Governo de Mato Grosso em Brasília.

Eder Moraes: Não é isso, não. Ele está defendendo os interesses de Sesi, de Senai, entendeu? [Na verdade, Nadaf era presidente do Sesc e Senac, que são vinculados ao comércio e não têm ligação com o Sesi e Senai, estes ligados à indústria] Porque ele é presidente dessas porcariadas todas aí, e ele que quer abraçar todos esses negócios de apostilaiada. O interesse dele é queimar você comercialmente para a dona Roseli mandar todos os serviços para lá e pagar as contas dele. É um vagabundo, rapaz. Eu nem falar com esse vagabundo eu to falando, para você ter uma ideia. Nós tivemos uma reunião agora ali, se você soubesse o que falaram dele, a turma está revoltada nos bastidores, PMDB, está todo mundo puto querendo a cabeça dele. Hoje eu ouvi a mesma coisa de um outro secretário. Vamos falar pessoalmente.

O ex-secretário ainda classificou Pedro Nadaf como um “vagabundo” e citou que o “colega” estava ganhando comissão para conceder incentivos fiscais por meio do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic).

A exigência de propina em troca da concessão de incentivos fiscais levou Nadaf à prisão, em setembro de 2015, durante a 1ª fase da Operação Sodoma.

O ex-chefe da Sicme posteriormente confessou este esquema à Justiça, assim como em sua delação premiada à Procuradoria Geral da República (PGR), homologada em março deste ano pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Eder Moraes: Esse cara precisa mostrar a trava da chuteira para esse vagabundo desse Pedro. Ele está fudendo todo mundo de sacanagem pura. Esse cara está achando que é impune. Um cara lambancento, sujo do jeito que ele é, entendeu? Eu estou sabendo que ele ganhou comissão do Prodeic aí, de incentivo fiscal, estou sabendo, estou sabendo que ele deu incentivo fiscal não concedido aí, ó, esse cara é feio. E ele fica aí atrapalhando a vida de todo mundo, esse vagabundo.

Paulo Lemes: E ninguém fala nada dele, é protegido do governador

Eder Moraes também citou que Nadaf fazia “rolos” nos contratos da Fecomércio.

Eder Moraes: O que precisa é mostrar quem é esse vagabundo para a sociedade, esses esqueminhas. Só vive na Suíça, que interesse é esse de estar todo mês na Suíça? Por que o Ministério Público não investiga um vagabundo desse? Será que tem rabo preso com ele também? O cara fica procurando chifre em cabeça de cavalo, tentando arranjar desculpa para foder os outros. Está acontecendo na cara. Quem não está vendo? Pega esses contratos de apostilaiada que ele faz no Senai, não sei o quê, vai ver se tudo não tem rolo?  

Paulo Lemes: E lá não entrega, o pior é isso. O resto do pessoal vai e faz.

Eder Moraes: Isso tem que ser denunciado, tem que ser investigado.

 

A delação da Arqueiro

Segundo a delação premiada de Lemes, a ex-primeira-dama teria ficado com pelo menos R$ 478,1 mil em propinas. E as fraudes em convênios foram cometidas em 2012 e 2013, por meio de contratos com o Instituto Concluir e o Instituto de Desenvolvimento Humano.

A versão foi confirmada por Roseli em recente delação feita por ela à Procuradoria Geral da República, homologada pelo ministro Luiz Fux.

Paulo Lemes contou ao Gaeco, no dia 29 de junho de 2015, que as fraudes ocorreram nos convênios dos cursos Copa em Ação Fase II, em Cuiabá e Várzea Grande; e Qualifica Mato Grosso.

Antes de fechar os contratos, Lemes relatou que era feita uma reunião, na sala de Roseli Barbosa, em que eram apresentadas as planilhas com detalhes sobre os valores que cada membro do esquema iria lucrar.

“Em todas as vezes, o Rodrigo de Marchi [assessor de Roseli, também preso pelo Gaeco] estava junto. Não andava nada lá na Setas, se Roseli Barbosa não desse um visto. Nessas oportunidades, eu apresentava para a Roseli a planilha de cada curso com os valores previstos, os cursos reais e a previsão do valor da sobra, ou seja, do lucro”, revelou o empresário.

Alair Ribeiro/MidiaNews

O ex-secretário Pedro Nadaf: alvo de críticas em conversa de Eder Moraes e Paulo Lemes


Segundo ele, habitualmente o lucro obtido com os desvios era repartido da seguinte maneira: 40% para Roseli Barbosa, 36% para ele e os 24% restantes eram divididos entre o assessor de Roseli, Rodrigo de Marchi, e o empresário Nilson da Costa e Faria.

Das supostas fraudes descritas na delação, as com os maiores valores desviados foram as relativas aos convênios do programa de capacitação profissional “Qualifica Mato Grosso”.

Um dos convênios, fixado em R$ 5,5 milhões, na verdade teria um gasto real de R$ 3,6 milhões, gerando "lucro" de R$ 1,5 milhão aos integrantes do esquema.

Todavia, de acordo com o delator, o lucro real obtido com este convênio foi de R$ 979,9 mil.

“Esse valor foi dividido exatamente naquela proporção combinada com Roseli, ou seja, 40% para ela, correspondente a R$ 391.984,00; R$ 24% para Nilson e Rodrigo, correspondente a R$ 235.190,00 e 36% para o interrogando, correspondente a R$ 352.785,00”, relatou.

O outro convênio do programa tinha valor de R$ 3,4 milhões, sendo que o desvio acordado foi fixado em R$ 754,5 mil.

Como Paulo Lemes havia feito um empréstimo de R$ 418 mil a Silvio Araújo, então chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), o empresário exigiu uma fatia maior do lucro.

Segundo o delator, Silvio Araújo convenceu Roseli Barbosa a abrir mão dos 40%, que corresponderia a R$ 300 mil, em favor de Paulo Lemes, no intuito de quitar o empréstimo – segundo ele usado para financiar a campanha de Lúdio Cabral à Prefeitura de Cuiabá, em 2012.

Paulo Lemes contou que a então secretária-adjunta da Setas, Vanessa Rosin Figueiredo, também participou da tratativa e, a princípio, exigiu R$ 200 mil. Ele diz que “chorou” para diminuir o valor e acertou o pagamento de R$ 50 mil.

 

 

Desta forma, a repartição do lucro final ficou em R$ 50 mil para Vanessa Rosin, R$ 150 mil para Silvio Araújo, R$ 30 mil a ser dividido entre Nilson e Rodrigo e R$ 474,5 mil a Paulo Lemes.

 

Outros R$ 50 mil seriam destinados a outra pessoa chamada “Dalva”, mas o assessor Rodrigo Marchi pediu que não dessem nada a ela e repartissem o dinheiro entre si. Com isso, foram repassados mais R$ 20 mil a Rodrigo Marchi, R$ 12 mil a Nilson faria e R$ 18 mil ao delator.

As fraudes também ocorreram, segundo Paulo Lemes, durante a execução dos convênios do programa “Copa em Ação Fase II”, que, em tese, deveria ter o intuito de capacitar e qualificar cerca de 10 mil pessoas nas áreas de turismo, hotelaria, construção civil, comércio e serviços.

Em um desses convênios realizados na Capital, ficou acertado que o lucro total obtido com as fraudes seria de R$ 50,2 mil.

Desta forma, seguindo o percentual dos acordos, R$ 20,1 mil ficaram com Roseli Barbosa – R$ 12 mil foram divididos entre Nilson Faria e Rodrigo de Marchi, e Paulo Lemes recebeu R$ 18,1 mil.

Porém, uma nova atualização dos lucros foi feita e o valor do lucro subiu para R$ 65,2 mil. Assim, a Roseli ganhou mais R$ 6 mil, Nilson e Rodrigo dividiram outros R$ 3,6 mil e Paulo Lemes abocanhou mais R$ 5,4 mil.

No “Copa em Ação” desenvolvido em Várzea Grande, o lucro foi um pouco maior, de R$ 66, 5 mil. O montante foi fatiado com R$ 26,6 mil para Roseli, R$ 15,9 mil para Nilson e Rodrigo e R$ 23,9 mil para Paulo Lemes.

Outro convênio não especificado na delação, cujo lucro foi de R$ 86 mil, seguiu o mesmo molde: R$ 34,4 mil a Roseli, R$ 20,6 mil para Nilson e Rodrigo e R$ 30,9 mil para Paulo Lemes.

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