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“Metade de mim morreu com o Flutuante”, diz ex-dona de peixaria

Reprodução

Sentada no chão de casa à beira do Rio Cuiabá, a dona Nemézia Angêlo, de 70 anos, assiste com lágrimas nos olhos ao processo de desmontagem da embarcação do seu antigo Restaurante e Peixaria Flutuante, na região da Ponte Nova, que liga a Capital a Várzea Grande.

A estrutura, que corria o risco de afundar, começou a ser removida na última sexta-feira (5), após notificação da Marinha do Brasil em Cuiabá.

“É muito triste ver isso. Desde que não tive mais condições de operar o restaurante, metade de mim morreu com a degradação dessa embarcação”, disse em entrevista ao MidiaNews.

“E agora, depois de tantos anos, é muito doloroso saber que vou abrir a janela de casa e não ver mais o Flutuante. Mas nada posso fazer”, acrescentou.

Inaugurado em 1970, o Restaurante e Peixaria Flutuante era considerado um dos mais tradicionais de Cuiabá. Nos seus melhores dias, centenas de pessoas passavam pelo local diariamente para se deliciar com os peixes da região, como o pacu assado, mojica de pintado e outros.

Nemézia contou que a embarcação foi construída pelo seu marido, já falecido, Manoel Seixas, entre 1968 e 1969. A embarcação contava com um salão para o atendimento de clientes, banheiros feminino e masculino, cozinha e copa.

“Quando foi inaugurado, o Flutuante se tornou atração. Vinha ônibus lotado de turistas, além de políticos, famosos. Durante todo o tempo que operamos, o restaurante sempre foi badalado. Era o point. Casais começaram a namorar aqui, se casaram aqui e alguns até se separaram aqui ”, contou.

“Eu me lembro da vez que o ex-governador Jaime Campos comemorou seu aniversário. Seu filho Jaiminho, já falecido, chegou às 10h pedindo para assarmos 10 pacus. Eu disse para ele que demorava, mas ele queria porque queria os pacus. Toda hora ele estava lá na cozinha abrindo o forno para ver se estava pronto. E eu brigava com ele para não abrir”, disse, sorrindo.

Conforme Nemézia, após a morte do marido, em 2002, as coisas começaram a desandar. Manoel morreu atropelado quando se dirigia a uma loja de eletrodomésticos para comprar novos freezers para o restaurante.

“Porque era ele quem resolvia tudo. Se tinha algum problema na embarcação, ele ia lá e arrumava. Eu ainda continuei operando o Flutuante durante mais cinco anos com ajuda de um sobrinho, pois não tenho filhos. Mas, infelizmente, não deu certo”.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Nemezia Angêlo, proprietária do antigo Restaurante e Peixaria Flutuante

Arrendamento

Em 2010, o empresário Altayr Fernandes Jorge arrendou a embarcação e deu continuidade ao trabalho de Manoel e Nemézia, tanto nos pratos, quanto na manutenção do ambiente. “Foi uma época boa, sem dúvida”, disse Altayr.

No começo de 2013, porém, ele contou que resolveu desistir do negócio após a proprietária se recusar a fazer reparos na embarcação

Outro motivo, segundo ele, foi o alto índice de criminalidade na região.

“Eu fui assaltado quatro vezes nesse período. Tinha que trabalhar armado à noite lá dentro porque ali em volta só dava bandido, traficante”, lamentou.

 

 

A desmontagem

Após a circulação de diversas imagens mostrando o risco da embarcação afundar, a Marinha do Brasil em Cuiabá esteve no local, fez a fiscalização e determinou a remoção do flutuante do rio.

“A embarcação não passava por vistoria porque não estava em funcionamento e, sem os reparos necessários durante todos esses anos, acabou gerando o risco de naufragar. Mas, agora, tudo será resolvido”, disse Jeronimo Nogueira, delegado Fluvial da Marinha em Cuiabá.

Para retirar a embarcação do rio, Nemezia resolveu doar o flutuante para alguns vizinhos.

“Eles mesmos estão removendo a embarcação para utilizar ou vender partes da estrutura”, pontuou.  

Midia News.

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