A construção de uma escola indígena modelo, com arquitetura sustentável e construída com mão de obra e matéria prima local, foi tema de reunião entre o governador Pedro Taques, secretário de Educação Marco Marrafon e especialistas do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops). O encontro foi realizado nesta terça-feira (27.02), no Palácio Paiaguas e foi acompanhado por uma equipe técnica da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (Seduc).
O planejamento vai além da estrutura educacional e visa uma área de convivência indígena, preservando sua identidade cultural. Responsável pelo projeto em parceria com a Seduc, o Unops trabalha em aproximadamente 80 países e tem experiência em projetos de construção em áreas de difícil acesso. Em abril os especialistas da ONU irão até o Xingu, na etnia Waurá, onde será construída a escola modelo, para conhecer a realidade, princípios e valores do seu povo.
Nesta semana, os representantes da ONU realizarão um workshop como forma de capacitar os técnicos da Seduc em projetos de edificação verde e sustentabilidade, observando o meio ambiente, cultura e aspectos sociais. “É importante entender a infraestrutura sustentável, planejar, fazer um desenho adequado, construir, operar e manter. Temos vários exemplos no mundo inteiro de como podemos apoiar o governo no desenvolvimento da capacidade técnica, particularmente na fase de planejamento e de desenho dos projetos. Estamos muito felizes de estar aqui e ajudar em um projeto como este”, ressaltou o Diretor Global de Infraestrutura do Unops, Steven Crosskey.
O governador Pedro Taques destacou a importância da comunidade indígena para o estado de Mato Grosso, um dos que possuem maior diversidade de etnias do Brasil, e da parceria com o Unops. “Temos mais de 45 mil índios e entendo que o estatuto indígena está ultrapassado. A educação é o melhor caminho, com construções de escolas que respeitem a forma de viver e a estética de cada povo. Esse projeto de arquitetura sustentável é muito importante, pois preserva as características e traços culturais. A arquitetura é um objeto de transformação”.
Projeto Escola Sonhada
O Projeto ‘Escola Sonhada’, um desejo antigo dos indígenas, vem sendo planejado pela Seduc há alguns anos. Para que saia do papel, a secretaria buscou parcerias não remuneradas com diversos órgãos além do escritório da ONU, entre eles Ministério Público Estadual, Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério da Educação e associações indígenas. O projeto que será realizado no Xingu, de forma inovadora e diferenciada, será modelo para outras escolas indígenas e comunidades quilombolas.
O secretario adjunto de Obras da Educação, Alan Porto, que está a frente do projeto, pontuou que há dificuldade em relação a construção sustentável e a logística, já que muitas das 70 escolas indígenas ficam fora da rota terrestre. “Hoje achar uma empresa de estrutura convencional para executar esse serviço é complicado, esbarramos na questão de logística, já que transporte de material para muitas aldeias é fluvial. Dessa forma nosso pensamento para a construção verde, sustentável, é o mutirão, com mão de obra indígena remunerada. Uma construção convencional, de alvenaria, sai em torno de R$2 milhões. Mas esse projeto sustentável com mão de obra e matéria prima local terá um custo estimado de R$600 mil”.
Alan explicou que o envolvimento indígena no projeto gera sensação de pertencimento, com uma arquitetura que remete as origens e ao cotidiano das etnias, já que o espaço, além de escola, será usado também como centro de convivência social. Em reunião com os indígenas foi decidido que a construção terá formato de cocar, com pinturas típicas na parede e objetos, como pias, em cerâmica. “As tecnologias que foram desenvolvidas por eles serão herdados na arquitetura da obra. Será um centro de convivência e o espaço poderá ser usado para fazer vários eventos da comunidade, apresentar o artesanato, uma forma de valorizar a cultura. Teremos alguns consultores que estarão ali capacitando esses índios, na realização dessa obra”, afirmou.