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“É todo sofrimento, toda angústia e toda espera de novo”, diz mãe

A mãe do soldado Rodrigo Claro, morto durante treinamento do Corpo de Bombeiros em 2016, criticou nesta quarta-feira (4), a transferência, para a Vara Militar, da ação contra a tenente Izadora Ledur, considerada a principal responsável pela morte de seu filho. 

“Hoje [ontem] já sairia uma sentença. Então volta tudo de novo, vamos começar tudo de novo. É todo sofrimento, é toda angustia, toda espera novamente. Retroagiu bastante”, disse Jane Claro.

A declaração foi dada em entrevista coletiva no Fórum da Capital, onde aguardava para prestar depoimento. A tenente também deveria ser ouvida.

A decisão pela transferência do caso é do juiz Marcos Faleiros, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital. Com a decisão, o caso será enviado para a 11ª Vara Criminal Militar de Cuiabá, de titularidade do juiz Murilo Mesquita. 

O envio do caso à Vara atendeu pedido do advogado Huendel Rolim, que faz a defesa de Ledur. Na decisão, o juiz Marcos Faleiros citou que a Lei 13491/2017 estabelece que compete à Justiça Militar, e não à Justiça Comum, os crimes dolosos cometidos por militares.

Jane ressaltou que apesar da transferência, espera que a justiça seja feita, e que os responsáveis pela morte do filho paguem.

“Independente de o processo estar na 7ª Vara ou ir para a 11ª Vara, a minha luta continua sendo a mesma. Já se foram um ano e cinco meses e a gente esperava que realmente chegasse ao fim agora e infelizmente foi prorrogado mais um pouco. Isso frustra, mas existe uma lei, que é a Lei de Deus. E eu sei que ela virá, ela não vem no meu momento, mas no momento de Deus, eu sei que ela vai vir e não tem como correr”.

“Eu acho que o que nos move é a esperança. Eu confio em Deus, e que isso possa um dia acontecer. Se ainda sim a justiça do homem for falha, como a gente sabe que é, mas a de Deus, essa eu tenho certeza que virá”.

Além disso, ela ainda chamou atenção ao questionar sobre a ação penal contra os cinco acusados de participar do episódio que culminou na morte de Rodrigo: Marcelo Augusto Revéles Carvalho, Thales Emmanuel da Silva Pereira, Diones Nunes Siqueira, Francisco Alves de Barros e Enéas de Oliveira Xavier.  

“Quer queira, quer não, gera certa dúvida, mas a gente agora vai aguardar para saber como vai acontecer. A esperança é que a justiça possa acontecer. Eu, mãe do Rodrigo Claro, espero que eles não tenham lá os benefícios que foram dados aqui na 7ª Vara. Que comece tudo do zero lá também, como vai acontecer no caso da Ledur. Acho que eles não têm que ser beneficiados, eles têm que realmente responder lá também”, afirmou.

 

A transferência 

Pelo acordo, a ação ficará suspensa por três anos desde que eles cumpram alguns requisitos exigidos pelo MPE, como não se ausentar da comarca por 30 dias, sem autorização judicial; comparecimento pessoal mensalmente em juízo; comprovação da freqüência de 50 horas-aula em curso de Diretos Humanos e proibição de que participem de qualquer banca de exame ou treinamento nas corporações a que pertençam.

Caso cumpram todas as exigências, após o prazo de três anos a ação contra os cinco será extinta. Na hipótese de não cumprimento, voltam a ser réus.

 

Entenda o caso

Rodrigo Claro morreu no dia 15 de novembro de 2016, após supostamente passar por uma sessão de afogamento, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. 

Ele chegou a ser levado para o Hospital Jardim Cuiabá, onde permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cinco dias.

Em depoimento, colegas de curso de Rodrigo informaram que ele vinha sendo submetido a diversos "caldos", e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão.

Ainda assim, ele teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente, que na época era responsável pelos treinamentos dos novos soldados.

A tenente foi afastada da corporação logo após a morte de Rodrigo.

Na época, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cézar Rodrigues, disse que essa não era a primeira vez que a ofiial era investigada por cometer excessos nos treinamentos.

Na primeira vez, ela foi acusada – em uma denúncia anônima ao Ministério Público Estadual (MPE) – de fazer pressão psicológica em alunos, durante os treinos do 15º Curso de Formação dos Bombeiros.

Midia News.

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