O empresário Marcelo Odebrecht afirmou nesta quarta-feira, 11, à Justiça Federal que quanto mais analisa e envia para os investigadores da Operação Lava Jato seus e-mails recuperados, "mais complica" a vida do ex-presidente. Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado, em Curitiba, desde o dia 7.
Odebrecht foi ouvido como colaborador no processo em que é réu com Lula, acusados de corrupção e lavagem de dinheiro na compra de um terreno que abrigaria o Instituto Lula, em São Paulo, em 2010, no valor de R$ 12,5 milhões. O empresário confessou que era propina da conta geral do PT, de R$ 200 milhões, e disse que os e-mails confirmam caixa 2 no negócio e o envolvimento de amigos do petista na negociação.
Ao responder questionamentos da defesa de Lula, que reclamou do juiz federal Sérgio Moro que supostamente não teria lhe dado acesso a íntegra dos documentos, Odebrecht disse que já "recuperou 3 mil e-mails", parte deles – pelo menos 54 – para esse processo da propina no terreno do Instituto e do apartamento de São Bernardo do Campo (SP), próxima ação penal da Lava Jato a ser julgada contra o ex-presidente.
Zanin afirmou que não teve acesso ao conteúdo integral dos e-mails e disse que só o questionaria em relação àqueles que o empresário selecionou, quando foi interrompido pelo delator.
"Eu já devo ter encaminhado mais de 3 mil e-mails, entendeu? Eu digo para o senhor o seguinte: é melhor para a defesa do Lula fique com os e-mails, porque quanto mais eu vou… mais complica a vida dele", afirmou Odebrecht.
Aliados. Em fase de conclusão, o processo deve entrar agora em alegações finais, etapa em que a defesa vai fazer pedir a absolvição e o Ministério Público Federal sua manifestação final pela condenação, para que Moro comece a julgar o caso.
Condenado a 12 anos e 1 mês de prisão em segunda instância no caso triplex do Guarujá – que envolve R$ 3,2 milhões de propina da OAS -, o ex-presidente está preso desde sábado, 7, em uma "cela" especial na sede da Polícia Federal, na capital paranaense.
Odebrecht passou parte de sua pena em regime fechado – que agora cumpre em casa – na carceragem da PF em Curitiba.
Reprodutor de vídeo de: YouTube (Política de Privacidade)
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Como delator, tem entregue mensagens de e-mail com análises de conteúdo para os processos da Lava Jato, que corroborariam sua delação premiada. Nela, confessou ter comprado o imóvel, por intermédio da DAG Construtora, para dar a Lula, após acerto com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente com livre acesso ao Planalto, durante os governos, e o advogado e compadre Roberto Teixeira – também réu nessa ação.
Odebrecht reforçou no depoimento que Teixeira e Bumlai teriam sido os principais negociadores da compra do terreno. "Era um pacote fechado", disse o delator sobre o envolvimento dos dois. Teixeira é sogro do advogado de Lula, Cristiano Martins.
"Eu avisei a (José Carlos) Bumlai e tinha avisado também Paulo Okamoto (presidente do Instituto) que eu não faria nada sem autorização do 'Italiano', em outros e-mails fica evidente isso. Porque o dinheiro ia sair da conta do 'Italiano'", afirmou Odebrecht.
"Italiano" era o codinome do ex-ministro Antonio Palocci (governos Lula e Dilma Rousseff), que gerenciou um caixa de R$ 200 milhões, conforme ele mesmo confessou em juízo, colocado à disposição pela empresa à Lula, decorrente do acerto entre ele e o patriarca do grupo, Emílio Odebrecht – também delator. Internamente o empresário disse que não tratavam como "conta Italiano" – "isso veio com a Lava Jato".
"Era a conta do PT, assim que a gente chamava."
Arquivos. As mensagens, segundo o delator, foram trocadas à partir de julho de 2010 e foram intensificadas em setembro e tem registros do 'Drousys' – sistema de informática para comunicação do setor de propinas da empreiteira – e o 'MyWebDay' – software desenvolvido pela empreiteira para gerenciar contabilidade paralela.
Confirmou, por exemplo, e-mail de 7 de julho de 2010 e conversas com o executivo do grupo Paulo Mello e Bumlai, que trataram da forma de pagamento. Pelo menos R$ 3 milhões saíram do Setor de Operações Estruturadas, o departamento da propina da Odebrecht.
O empresário apontou que o envolvimento de Marcos Grillo, identificado nos e-mails nas tratativas, confirma que o negócio envolvia caixa-2. "Marcos Grillo era quem gerava o caixa-2."
Outro e-mail destacado de 9 de setembro de 2010, Odebrecht afirma: "Eh uma conta que HS mantem e debita a 3 fontes distintas".
"As coisas eram conduzidas de forma meio irresponsável", disse Odebrecht
Discussão. A audiência iniciou com uma discussão entre Moro e a defesa de Lula. O advogado Cristiano Martins. defensor, questionou o magistrado quando ele abria a sessão e informava que designou a oitiva adicional a pedido da defesa e foi interrompido: "Se a audiência é para fazer uma verificação em relação aos e-mails, a defesa ficou prejudicada porque não teve acesso…."
"Não doutor, a defesa apresentou perguntas específicas em relação as mensagens que foram já juntadas no processo. Essa audiência foi marcada a pedido da defesa", interrompeu Moro.
"Não, não é isso."
"E em relação às mensagens que estão nos autos. Então a audiência vai ser realizada", prosseguiu o juiz.
"Me permita concluir, vossa excelência, Na verdade há um erro factual. A audiência não foi requerida pela defesa. Requeremos a verificação da autentificação", disse o advogado de Lula.
O juiz ressaltou que "expressamente a defesa juntou perguntas e pediu que fossem respondidas pelo senhor Marcelo Odebrecht". "Logo, a audiência foi marcada, e nós estamos aqui a pedido da defesa."
"Insisto que não houve esse pedido", retrucou Martins.
"Então não querem fazer as perguntas ao senhor Marcelo Odebrecht, é isso?", questionou Moro.
"Não, não tenho perguntas, porque não tive acesso…"
"Acho que é um pouco brincadeira da defesa, porque a defesa apresenta uma petição com questões escritas, dirigidas ao senhor Marcelo Odebrecht pedindo que sejam respondidas. Aí o juízo… a pessoas, quando é acusada, ela é ouvida oralmente no processo", reclamou o juiz.
"Eu vou prosseguir a audiência."