Da mobilização de agentes penitenciários e o voluntariado de dezenas de profissionais da cidade de Campo Novo do Parecis nasceu há três anos um dos melhores exemplos de ação social em Mato Grosso, o projeto Agente Mirim que atende atualmente mais de 300 crianças e adolescentes do município. Com atividades sociais, esportivas e de orientação, a iniciativa colabora para retirar de situações de vulnerabilidade social um público na faixa etária de 8 a 17 anos e ainda encaminha os mais velhos do grupo para o mercado de trabalho.
Guilherme Sanches Moresco tem 17 anos e conseguiu seu primeiro emprego, como menor aprendiz, no almoxarifado de uma empresa de agronegócio. O adolescente está projeto desde o início, em 2016, e de lá pra cá afirma que todas as atividades desenvolvidas o ajudaram a se tornar uma pessoa melhor, a ter um comportamento mais equilibrado. “Participar do projeto é muito bom, minha mãe me ajudou e hoje eu a ajudo. Aqui no projeto descobri que quero fazer a ESA (Escola de Sargento das Armas) e depois fazer enfermagem”, afirma o jovem que no projeto exerce uma atividade de liderança entre os novatos, ele é um dos ‘xerifes’ da turma.
O idealizador do projeto, agente penitenciário Fábio Aguiar, trouxe da sua experiência numa missão humanitária no Haiti a inspiração para a proposta. “Vi que muitos jovens e adolescentes estavam envolvidos com a criminalidade e muitas vezes, após passar pelo processo de ressocialização, eles continuavam no círculo vicioso. Então, tive a ideia de desenvolver um projeto de prevenção, onde trabalhamos a disciplina e construção de caráter para evitar a inclusão de pessoas tão jovens no crime”.
O secretário adjunto de Administração Penitenciária da Sejudh, Emanoel Flores, destaca o empenho dos agentes penitenciários no projeto social. "Uma iniciativa brilhante em que os agentes se uniram para colaborar com a instrução de dezenas de crianças, que têm uma oportunidade de não ficar nas ruas expostas a situações de risco".
O jovem Ronyson Silva, 15 anos, está há três anos no projeto e diz com um largo sorriso que desenvolver as atividades o levaram a se destacar como um dos líderes da turma e o ajudaram a ser uma pessoa mais extrovertida. “Era uma pessoa muita quieta, não gostava de conversar com ninguém. O Agente Mirim me ajudou muito, me ensinou a ter mais respeito com as pessoas, com minha mãe”, afirma o adolescente que tem o sonho de entrar para a Escola de Cadetes do Exército.
Voluntariado
Márcio Almeida é um dos instrutores voluntários do Agente Mirim. Ele conheceu o projeto em 2016 quando levou a filha para participar. Desde então se apaixonou pela iniciativa e dedica seus finais de semana, junto com a equipe de voluntários, a orientar o público infanto-juvenil. “Eu costumo dizer que aqui todos aprendemos. Não ensinamos apenas, todos os dias um aprende com o outro. É muito gratificante ver dezenas de crianças nessas atividades, evitando que as mesmas estejam na rua correndo risco de cair na criminalidade. O benefício aqui é para toda a família”, afirma o instrutor.
São prioritários no projeto os filhos de recuperandos, quem vêm indicados pelo Conselho Tutelar da cidade e também de quem já tem irmãos inscritos. Integram o grupo ainda crianças da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e a novidade deste ano é a inclusão de crianças indígenas e de idosos.
O apoio dos voluntários é fundamental para as atividades do projeto, que não tem fins lucrativos e conta com doações da sociedade.
Família
Fábio Aguiar destaca que o compromisso das famílias é outra parte importante para o sucesso das atividades, acrescentando que o projeto colabora com a formação das crianças e adolescentes, mas que não pode ser o responsável exclusivo pela formação de caráter de cada um.
Todos os pais dos participantes assinam um termo de compromisso de responsabilidade ao inscreverem seus filhos. No termo, é esclarecido que os responsáveis pelos pequenos precisam participar de uma reunião por mês com a equipe do projeto, caso não cumpra, os filhos correm o risco de não continuarem no projeto. A cada início da edição, as famílias participam de uma palestra informativa com a equipe do projeto. Ao final do ano também integram as atividades de acampamento, para promover interação entre pais e filhos.
A abertura do projeto este ano ocorreu no sábado (14.04) e contou com a participação de equipes das unidades prisionais de Sinop, Barra do Garças, Nova Mutum, Nobres, Água Boa, além de autoridades do município e apoiadores do Agente Mirim.