Fonte: MT.GOV
Em celebração ao Dia Nacional da Consciência Negra, marcado na última quarta-feira (20.11), professores da rede estadual de ensino de Cuiabá visitaram e conheceram as Igrejas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e de Nossa Senhora da Boa Morte, ambas em Cuiabá, e consideradas obras importantes construídas pelos negros, pardos e forros (escravos libertos), nos século XVIII e XIX.
Diariamente pessoas transitam no Centro de Cuiabá e veem no alto da Praça do Rosário, localizada na esquina da Avenida Tenente Coronel Duarte, uma construção de cores brancas e avermelhadas, com uma porta central, três janelas de madeira na parte frontal, uma grande cruz de madeira e duas no topo da igreja. Do lado esquerdo, a imagem da Nossa Senhora do Rosário e do lado direito, de São Benedito. Santos protetores dos povos fundadores da capital mato-grossense.
Além do estilo arquitetônico barroco, predominante na riqueza dos detalhes e nas formas geométricas, com curvas e contornos e pouca entrada de luz, o local faz com que as pessoas se sintam mais próximas ao divino.
Foi inaugurada em 1810 pelos pardos, em um período em que os moradores de Cuiabá estavam vulneráveis a várias epidemias como febre, sífilis, cólera e outras doenças tropicais. Nesta época as pessoas passaram a procurar um bom descanso na hora da morte e a prestar culto a Nossa Senhora da Boa Morte, pois acreditavam ser a santa o caminho mais seguro para o céu.
Semana da Consciência Negra
A visita às igrejas fez parte da programação da “Semana da Consciência Negra-Mato Grosso Africano”, organizada pela Secretaria de Planejamento e Gestão, por meio da Superintendência de Arquivo Público, em parceria com a Secretaria Municipal de Cuiabá e Associação dos Amigos do Centro Histórico de Cuiabá (ACHC).
“A intenção deste seminário sobre Consciência Negra é recuperar a memória do povo negro, que tanto ajudou a construir o Brasil, mas que sempre é colocado em segundo plano. Em Cuiabá, a Igreja do Rosário e São Benedito é genuinamente de negros. É importante destacar que o próprio São Benedito sobrepõe o padroeiro da cidade, o Bom Jesus de Cuiabá. Trazer essa reflexão à sociedade cuiabana é valorizar as suas raízes e preservar o patrimônio”, relata.
“Nós temos mapas populacionais que mostram os números de escravos, listas de escravos, compromissos de irmandades compostas por negros escravizados e livres que estavam aqui nos séculos XVIII e XIV, disponíveis para pesquisas de alunos, professores e da população em geral”, destaca.
Ele acrescenta que todos esses documentos mostram a trajetória dos negros aqui. “Nós somos os detentores desses documentos. Não poderíamos deixar de discutir isso em uma data tão importante para Mato Grosso”.
A superintendente do Arquivo Público de Mato Grosso, Vanda da Silva, acredita que para mudar o cenário em que vive a população negra é preciso conscientizar e compreender o papel social que os negros tiveram na construção do Estado e, por isso, acredita que a data de Consciência Negra é uma oportunidade para disseminar o conhecimento.
“A ideia é fomentar as pessoas para o conhecimento, porque entendemos que a partir dele e da educação é que combatemos o racismo, a ignorância nos temas como a Consciência Negra”, afirma.
No Brasil, apenas cinco estados brasileiros aderiram ao feriado, Alagoas, Amazonas, Amapá, Rio de Janeiro e Mato Grosso.
De acordo com o historiador Suelme Fernandes, essa data causa discussões por parte da população. “Muita gente questiona o feriado, mas será por que esse é o único que incomoda tanto? Será que isso não é demonstração do nosso racismo, da nossa discriminação, que é velada e silenciosa? Talvez se não tivéssemos este dia para realizar essas atividades, nem discutiríamos a nossa origem africana, e, principalmente, as consequências dessa sociedade escravista até os dias atuais”, comenta.
Kaíque Rodrigues, professor de História e recém-chegado ao Estado, relata a experiência ao visitar as igrejas. “Eu tenho buscado o conhecimento da história de Mato Grosso e esse espaço é muito importante para minha formação enquanto historiador. Conhecer a história local ainda mais da comunidade negra é fundamental”, conta Rodrigues.
Dia da Consciência Negra
O Dia da Consciência Negra foi oficializado em 2003, como uma celebração escolar e, desde 2011, como lei. A data marca o aniversário de falecimento do defensor da luta contra escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares. O primeiro Estado a celebrar esta data foi o Rio de Janeiro.
Além disso, o objetivo é recuperar a memória dos negros que lutavam pela liberdade no período do Brasil colonial e conscientizar sobre os danos históricos causados pelo período de escravidão no país, além de celebrar a cultura afro-brasileira. (Supervisão da jornalista D’laila Borges)