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Investigações destacam influência de fazendeiro e que PMs deixaram cidade sem viatura para cometer chacina

Fonte: Olhar Direto

As investigações da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) apontam que o empresário Agenor Vicente Pelissa, dono da Fazenda Promissão, onde teria acontecido uma chacina que culminou na morte de seis pessoas, em 18 de abril, teria uma forte influência na região de União do Sul (649 quilômetros de Cuiabá), onde aconteceram os homicídios. Além disto, mostra que os três policiais militares presos na operação deflagrada na quinta-feira (27) deixaram a cidade de Santa Carmen sem viatura no dia do ocorrido.

Segundo as investigações, a prisão dos envolvidos no caso é importante para melhor esclarecimento de alguns pontos relevantes e restantes para a conclusão do inquérito, dado que ainda existem várias divergências entre os seus depoimentos, o que pode estar ocorrendo pelas funções que exercem e pela forte influência do fazendeiro, algo citado pelo comandante da Polícia Militar de Santa Carmem (a 500 km de Cuiabá), Evandro dos Santos.

As investigações mostram ainda que fica clara a gravidade dos atos, já que resta claro que a chacina teria sido minuciosamente articulada, no intuito de não deixar rastros, o que também foi contribuído pela ação dos policiais militares de União do Sul que alteraram o local dos fatos sem aguardar a chegada da perícia civil e a dificuldade em finalizar o inquérito devido às diversas versões dadas pelos suspeitos.

Vale lembrar que os corpos das seis vítimas, que estariam no local para roubar a fazenda, não foram encontrados até o momento.

“Importante reforçar, que no caso em análise, há seis pessoas desaparecidas, possivelmente mortas pelos relatos do suspeito sobrevivente, com ações praticadas por policiais militares, que ao que tudo indica criaram uma emboscada em local que não era sequer de sua jurisdição, deixando inclusive o posto da Polícia Militar de Santa Carmem sem viatura”, diz trecho do pedido de prisão temporária dos acusados.

O comandante da PM de Santa Carmem, Evandro dos Santos; João Paulo Marçal de Assunção e Roberto Carlos Cesaro, foram os três policiais militares presos nesta quinta-feira (27), durante a ‘Operação Insídia’, que apura a execução e ocultação do cadáver de seis pessoas no município de União do Sul (649 quilômetros de Cuiabá).

Emboscada

Conforme o pedido de prisão temporária, ao qual o Olhar Direto teve acesso, o proprietário da fazenda, Agenor Vicente Pelissa teria comunicado o policial dias antes sobre um possível roubo na propriedade. O funcionário Francisco de Assis, conhecido como Bill, foi quem teria repassado a informação. Ele também seria um dos envolvidos na tentativa de roubo, mas se arrependeu e contou o plano ao patrão.

Diante disso, Agenor solicitou que Evandro fizesse a segurança do imóvel, que chegou a ser realizada, inclusive com a viatura da Instituição, mesmo ele estando com a caminhonete do fazendeiro.

Conforme extratos do GPS do veículo, Evandro esteve na Fazenda Promissão no dia 18 de abril, no período entre 17h e 21h30, quando juntamente com o PM Marçal saíram e passaram também na Fazenda Santa Rita.

O policial Dos Santos teria comunicado Agenor, de madrugada, sobre o que se passou na fazenda no dia dos fatos, conforme depoimento da companheira dele. Além disso, pediu que Luiz Alemão levasse a caminhonete do seu patrão de volta para a fazenda.
Em seu depoimento, Evandro confirmou que realmente esteve na fazenda para fazer rondas rurais a pedido do proprietário que estava com medo de sofrer um roubo. No entanto, disse que ficou no local até 20h30 e que tomou conhecimento dos fatos (não descritos) no dia seguinte, através do PM Mauro. Todavia, os relatos são de que Evandro foi quem comunicou o dono da Fazenda e solicitou que ele procurasse a Polícia de União do Sul.

O gerente da fazenda, Luiz Baumgratz é suspeito de contribuir para alteração do local do crime e para dificultar a resolução teria trocado o veículo Ford Ranger do seu patrão que estava com Evandro, logo após os fatos. As investigações apontam que ele tem conhecimento de provas ainda não colhidas, como a localização dos cadáveres dos desaparecidos.

Roberto Carlos Cesaro, policial militar de Santa Carmem à época dos fatos, posteriormente removido administrativamente para outra localidade, não estava de plantão no dia do crime, entretanto após investigações apurou-se que esteve na fazenda no período noturno, entre às 20h05 e 22h58 pela conexão no IP da rede da propriedade.

O caso

As investigações apuram os fatos ocorridos no dia 18 de abril deste ano, em uma fazenda no município de União do Sul. Naquele local, foram encontrados diversos veículos com perfurações, estojos, munições, além de manchas de sangue e objetos pessoais, sem qualquer registro ou informação do que teria acontecido.

Após a realização de dezenas de diligências, perícias técnicas, buscas pelos corpos, oitivas de testemunhas e de pessoas envolvidas, as investigações apontaram para a execução de pelo menos seis pessoas, seguidas da ocultação dos respectivos cadáveres. Entre as vítimas está um funcionário da fazenda que trabalhava no local onde o fato ocorreu.

Além dos homicídios, são apurados outros possíveis crimes conexos, como cárcere privado, constituição de milícia privada, corrupção ativa e passiva.

As ações foram realizadas com apoio da Gerência de Operações Especiais (GOE), Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso, Polícia Civil do Estado de Tocantins e Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso.

As investigações seguem em andamento.

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