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Origem das queimadas pode estar ligada à “limpeza” de terreno para uso agropecuário, aponta

Foto: Rogério Florentino Pereira

Fonte: Olhar Direto

Metade da área afetada por incêndios em 2020 em Mato Grosso está em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O número mostra que estes espaços foram atingidos mas pode, também, indicar a origem da queimada e a associação com o uso do fogo para a técnica de “limpeza” de terreno, utilizada na agropecuária.

Os dados são da nota técnica “Caracterização das áreas atingidas por incêndios em Mato Grosso”, lançada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da plataforma Global Fire Emissions Database, da NASA (National Aeronautics and Space Administration) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), assinada por Vinícius Silgueiro, Ana Paula Valdiones e Paula Bernasconi e com revisão de Douglas Morton, do Goddard Space Flight Center da NASA.

“Esses imóveis [cadastrados no CAR] ocupam a maior área no estado, então quando o fogo sai de controle, ele também se alastra neles. Mas o dado também é um indicador da origem da queimada principalmente nos imóveis rurais privados, de uso agropecuário, e mostra a associação do uso do fogo na sequência do desmatamento para a limpeza da área”, explica Vinícius, ao afirmar que os dados são importantes para ações de responsabilização pelos incêndios.

A área total destes imóveis rurais cadastrados atingida pelas queimadas foi de 874 mil hectares. Em segundo lugar, estão as áreas não cadastradas, que tiveram 367 mil hectares consumidos pelo fogo, e em terceiro as Terras Indígenas, com 307 mil hectares atingidos. As mais afetadas (em valores absolutos) foram as TIs Pareci e Parabubure, ambas localizadas no Cerrado.

Ainda segundo a nota, as consequências dos incêndios vão desde os impactos para a biodiversidade e equilíbrio ambiental até prejuízos econômicos, como o comprometimento do potencial turístico. “Um dos maiores impactos ocorre na saúde da população local com o aumento da frequência de doenças respiratórias, em meio ao auge da pandemia do Covid-19 na região. Pesquisa da Fiocruz realizada nas áreas mais afetadas pelo fogo na Amazônia em 2019 mostrou que o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou. Isso acarretou em um custo excedente de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS), e esse ano os pesquisadores preveem um cenário ainda pior”, completa o documento.

Também foi identificado que, no Pantanal, apenas nove pontos iniciais de incêndio foram responsáveis pela destruição de cerca de 324 mil hectares, ou 67,5% da área total queimada neste bioma. Destes, cinco estão em imóveis cadastrados no CAR, três em áreas não cadastradas e um na TI Perigara, a terra indígena proporcionalmente mais impactada em todo o estado com 75% do território atingido. No dia 17 de agosto, sete das nove áreas de incêndios ainda estavam ativas.

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