Fala meu Povo MT

Brasil foi de epicentro da Covid a exemplo de vacinação em 2021

Reprodução

O ano de 2021 no Brasil começou com indícios do que viria a ser o momento mais trágico da pandemia de Covid-19: picos de internação e pessoas morrendo sem atendimento médico. Mas termina com uma redução significativa de casos, com uma cobertura vacinal que supera ou se iguala à de países desenvolvidos e com a vida retornando a um certo nível de normalidade.

O primeiro capítulo da Covid-19 no Brasil de 2021 começa justamente na virada do ano, quando o governo do Amazonas anunciou o fechamento das atividades comerciais diante de um aumento exponencial de novos infectados. Houve reação de grupos organizados, e a decisão foi revogada.

Semanas depois, ainda no início de janeiro, o sistema de saúde do estado entrava em colapso. O retrato da crise — escancarado em jornais ao redor do mundo — eram pessoas carregando cilindros de oxigênio para dentro de hospitais que estavam desabastecidos e enterros coletivos de dezenas de corpos diariamente. Um número até hoje incerto de amazonenses morreu por falta de oxigênio, muitos deles em casa.

Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia descobriram que a alta de casos estava relacionada ao surgimento de uma variante do coronavírus no estado, a P.1, que posteriormente foi nomeada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como Gama, sendo também colocada no grupo de variantes de preocupação por ser mais contagiosa.

Em meio ao caos que se instalou em Manaus, funcionários de alto escalão do Ministério da Saúde organizaram uma viagem à cidade para tentar difundir o uso de medicamentos inúteis no tratamento da Covid-19, o que ficou comprovado pela CPI da Pandemia no Senado Federal.

O período seguinte representou o pior desde o início da epidemia no Brasil. Se em 2020 os casos e mortes tiveram momentos de alta diferentes em cada parte do país, em 2021 foram uniformes e praticamente simultâneos.

Enquanto a curva de casos continuava ascendente, em 17 de janeiro a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou as duas primeiras vacinas anti-Covid no país: a CoronaVac (produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa de biotecnologia chinesa Sinovac) e a Oxford/AstraZeneca (licenciada pela Fundação Oswaldo Cruz).

Iniciou-se a vacinação no mesmo dia, primeiro dos profissionais de saúde; depois, dos idosos. Mas até o fim de março apenas 8,3% da população brasileira (cerca de 17,5 milhões de pessoas) havia recebido a primeira dose.

Entre março e abril, quando o país registrava mais de 3.000 óbitos em um único dia, até mesmo a transferência de pacientes de estados sem leitos hospitalares era feita a conta-gotas, já que eram poucos os locais onde havia vagas.

Foi nesta época que o Brasil se tornou o epicentro global da pandemia, ao superar mais de 70 mil novos casos registrados em um único dia. Cerca de 25% de todas as mortes por Covid-19 no mundo, no início de março, ocorreram aqui.

O resultado de Norte a Sul foi a implementação de medidas de restrição da mobilidade ainda mais rigorosas. Em São Paulo, por exemplo, o governo adotou a fase emergencial, com toque de recolher a partir das 20h.

A vacinação no primeiro semestre continuou a passos lentos, chegando a 35% da população com a primeira dose em 30 de junho, e apenas 14% com o esquema completo.

O dia 24 de junho marca o início de uma curva descendente da média de novas infecções no país. De 77,2 mil casos, caiu para 28,3 mil nos dois meses seguintes.

Neste meio-tempo, houve a chegada da variante Delta do coronavírus ao país. Descoberta na Índia, onde provocou milhares de mortes no primeiro semestre, a cepa gerou um significativo aumento de casos em Israel, na Europa e nos Estados Unidos, mas não no Brasil.

Uma das hipóteses aventadas por virologistas é justamente a possível imunidade cruzada conferida a pessoas que haviam sido infectadas pela variante Gama entre janeiro e junho.

O segundo semestre começa com o aumento das entregas de vacinas e matéria-prima para a produção do Butantan e da Fiocruz, assim como o aumento significativo do número de doses da Pfizer.

Em 6 de agosto, o país atinge a marca de 50% da população vacinada com a primeira dose. Ainda assim, eram somente 21% com as duas doses.

Com uma redução sustentada do número de novos casos e mortes, governadores se sentiram seguros para avançar com os planos de retomada das atividades que tiveram algum tipo de restrição. A ocupação dos estabelecimentos passou a ser maior e os horários de atendimento foram estendidos.

A adesão da população à campanha de vacinação também começou a se tornar evidente. A cada nova faixa etária liberada para se imunizar, havia filas nos postos.

No dia 13 de setembro, 65% dos brasileiros já haviam recebido a primeira dose. Dez dias depois, o país atingiu a marca de 40% da população completamente imunizada.

O Brasil superou os Estados Unidos, em novembro, no percentual da população completamente vacinada. Em 17 de dezembro, eram 61,2% nos EUA e 66,2% aqui.

A cobertura vacinal brasileira também já se equipara à registrada na União Europeia, ultrapassando inclusive alguns países, especialmente no leste europeu, onde há mais resistência à vacinação — fenômeno que não se mostrou um problema grave entre os brasileiros.

O pesquisador Daniel Villela, do Observatório Covid-19 Fiocruz e coordenador do Procc/Fiocruz (Programa de Processamento de Dados da Fiocruz), considera que os esforços das áreas técnicas do Ministério da Saúde, das secretarias estaduais e municipais de saúde e também dos profissionais na ponta da linha foram fundamentais para o Brasil chegar a um patamar de vacinados que pode ser considerado um exemplo.

“Foi uma questão de passar a fase de alguns ruídos iniciais e logo depois a população aderiu bem a essa campanha de vacinação contra a Covid-19. […] Apesar de todos os percalços, acho que é um exemplo. Pode ser mais fortalecido, é importante fortalecer o SUS, mas é um exemplo positivo.”

Entre os países com mais de 40 milhões de habitantes, o Brasil aparece em sétimo lugar no percentual de vacinados, segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Em números absolutos, mais de 160 milhões de pessoas tomaram a primeira dose, sendo que 142 milhões concluíram o esquema vacinal.

Ômicron e o futuro

Quando tudo parecia caminhar para um momento de alívio, o mundo soube, no fim de novembro, da descoberta de uma nova variante de preocupação, chamada de Ômicron pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Potencialmente mais transmissível do que qualquer outra variante, a Ômicron também é mais resistente à imunidade conferida pelas vacinas, especialmente em esquemas de duas doses ou dose única.

“Alguns dados mostram que essa questão da dose de reforço vai ser importante em relação à Ômicron”, enfatiza o pesquisador da Fiocruz.

Em 30 de novembro, o Brasil confirmou os dois primeiros casos de pessoas infectadas com a cepa.

Desde setembro, o Ministério da Saúde já recomenda doses de reforço. Inicialmente, idosos e pessoas com comorbidades eram elegíveis, mas desde o mês passado qualquer um acima de 18 anos que tenha tomado a segunda dose há pelo menos quatro meses pode receber a injeção adicional.

A chegada de casos importados da variante Ômicron fez com que o Supremo Tribunal Federal determinasse a exigência do comprovante de vacinação para qualquer viajante que queira entrar no Brasil. A decisão ocorreu após resistência do presidente Jair Bolsonaro em implantar a medida.

Mas a principal forma de apresentar o comprovante de vacinação — o aplicativo Conecte SUS — deixou de exibir os dados de todos os cadastrados após um ataque cibernético aos servidores do Ministério da Saúde em 10 de dezembro.

Foi afetada também a divulgação de dados oficiais sobre novos casos e mortes.

“O Brasil tem sistemas de vigilância que armazenam os dados. É um patrimônio nosso que é importante manter. Essa transparência da divulgação dos dados permite a instituições como a nossa, a Fiocruz, analisar esses dados e gerar novas evidências e novos conhecimentos que vão levar a novas políticas, a melhorar o que está sendo feito. Quando você interrompe esse fluxo dos dados, acaba que interrompe também esse processo”, diz Daniel Villela.

Apesar de tudo, o pesquisador considera que vivemos um momento muito melhor do que há um ano, o que é medido também pela ocupação de leitos de UTI destinados a pacientes com Covid-19.

No começo de dezembro, 25 das 27 unidades da federação tinham nível de alerta baixo nesse quesito, segundo a Fiocruz.

“A situação atual é, felizmente, mais tranquila em relação ao que era lá no começo do ano. Mas a gente tem que continuar alerta. O número de casos veio reduzindo bastante, mas não estava exatamente baixo. Você ficar com estabilidade em níveis que são altos também não é desejável. É importante ainda evitar aglomerações e manter o uso de máscara em determinados ambientes”, finaliza Villela.

Fonte: R7

Sair da versão mobile