Será que devemos desanimar diante de políticos oportunistas e mentirosos?

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ALMT

Cá entre nós, sem que ninguém nos ouça, você acredita no que os políticos dizem? Depois de acompanhar algumas campanhas eleitorais, só quem for muito ingênuo é que irá confiar nas promessas dos candidatos. A maioria mente de maneira leviana, sem nenhuma preocupação de ser desmascarada logo depois da abertura das urnas. A cara de pau chegou a um patamar tão absurdo que precisamos nos beliscar diante dos fatos. Alguns que até pouco tempo atrás acusavam os adversários de serem ladrões e corruptos, agora, fingem se esquecer do que disseram e sorriem para as fotografias, abraçados com seus desafetos. E pior – como se nunca tivessem dito nada, passam a elogiar aqueles que tanto deploravam.

E quando são questionados por adotarem postura tão contraditória e incoerente, respondem simplesmente que tudo não passou de desavenças de campanha. Afirmam que, neste novo momento, tiveram de esquecer as “pequenas rusgas” do passado para se unir na conquista de um objetivo maior, que é o bem-estar do país. Uma análise mais oportuna, entretanto, nos leva a perguntar: que história é essa de “pequenas rusgas”? Chamar o adversário de ladrão e corrupto, apresentando provas de seus malfeitos, não pode ser encarado como bate-boca de botequim. Ou estavam mentindo naquela oportunidade, ou mentem agora.

Na verdade, esses aproveitadores contam com a fraca memória da população. Têm certeza de que em pouco tempo tudo o que é falado, por mais graves que tenham sido as desavenças, quase ninguém se recordará da troca de insultos. Hoje em dia, com as mídias sociais gravando todos os acontecimentos, até que fica mais fácil refrescar a memória dessa turma que não se lembra nem do que comeu no almoço. Ainda assim, quando as mentiras são resgatadas, ouvimos aqui e ali comentários frouxos como, por exemplo: ah, política é assim mesmo. Não, não é assim. Não pode ser assim. Não deveria ser assim. E os que são negligentes ao emitirem suas opiniões, passado um tempo, são os mesmos que se mostram indignados com a roubalheira de certos políticos. Todos sabem desses desmandos, mas só quando vivenciam experiências traumáticas como o Mensalão e o Petrolão é que se dão conta de que as raposas estavam tomando conta do galinheiro.

Chegamos a ter esperanças de que, após esses episódios, que mostraram com todas as cores os desmandos de boa parte da classe política, esses larápios da coisa pública seriam expurgados do poder. Para nossa desilusão, entretanto, sem nos darmos conta, nós os vemos de volta contando as mesmas mentiras de sempre. Chega a ser desanimador. Sem pôr sobre a mesa a mais recente ladainha: “Punir pra quê, se o crime já foi cometido?” Como ficar indiferente a uma teoria bizarra como essa?! Em 2010, fomos brindados com a Lei da Ficha Limpa. Seu objetivo é o de preservar as instituições desses bandidos travestidos de representantes do povo. Dessa forma, quem cometeu crime, ao ser condenado, terá de hibernar por longos oito anos. Para nosso desconsolo, porém, alguns conseguem encontrar brechas na lei para continuar concorrendo. E, mais triste que tudo, até vencem as eleições.

Mais espantoso ainda é ver pessoas com boa formação intelectual, que poderiam atuar como formadores de opinião, e ajudar na tarefa de conscientização daqueles que se tornam reféns dos discursos demagógicos e oportunistas, por deformação moral, ou por ideologia cega, serem os primeiros a buscar desculpas àqueles que deveriam ser alijados da vida pública. Tenho observado certo desalento em algumas pessoas que se sentem impotentes diante do sistema montado para a perpetuação do poder desses desqualificados. Cansaram de esperar por mudanças que nos dariam novas perspectivas para dias melhores. Ou será que alguém tem dúvida de que, se os políticos agissem com lisura e espírito público, não transformaríamos nosso país em uma das melhores nações do mundo?

Ao conversar com um ou com outro, tenho procurado alimentar a chama da esperança. Tento fazer com que cada um se conscientize de que por mais difícil e desafiador que seja esse projeto de vida, ele pode ser viável. Talvez não agora, nem na próxima geração, mas as sementes que plantarmos com as nossas ações, como disse Cristo na Parábola do Semeador, ainda que encontrem a terra dura, a rocha sem umidade ou os espinhos sufocantes, haverão de encontrar também a terra boa e aí poderão frutificar. Façamos a nossa parte. Não vamos desistir do nosso país. Siga pelo Instagram @polito.

Por Reinaldo Polito

Fonte: Jovem Pan

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