Fala meu Povo MT

Durante audiência, médica que matou verdureiro atropelado pede perdão à família

Reprodução

“Gostaria de pedir perdão para família do seu Francisco, eu sinto muito porque eu estava naquele carro naquele momento”, disse a médica Letícia Bortolini em audiência realizada na tarde de quarta-feira (23). Essa é a primeira vez que ela é ouvida em juízo e se defende das acusações de ter atropelado e matado o verdureiro Francisco Lúcio Maio. A família da vítima acompanhou o depoimento e ficou revoltada com tudo o que ouviu.

O atropelamento ocorreu em 14 de abril de 2018, na avenida Miguel Sutil, em Cuiabá. A médica não parou para prestar socorro e a vítima morreu na hora. A ré voltava de uma festa, com o marido, quando atingiu o verdureiro. Ela alegou que não viu que havia acertado uma pessoa. Apenas percebeu que o retrovisor do carro quebrou, mas não estacionou para verificar o que tinha acontecido.

A audiência foi presidida pelo juíz Flávio Miraglia e se estendeu por horas. No interrogatório, Letícia contou sua versão dos fatos e disse que havia bebido vinho no dia anterior e que não estava disposta a beber de novo no dia seguinte. Por isso, ela não queria ir à festa, que servia churrasco e chopp. Mas foi porque o marido, também médico Aritony de Alencar Menezes, insistiu.

Ela relatou que o casal chegou ao local do evento por volta das 14h30 e que o esposo bebeu, mas ela não. Por isso, foi a ré que voltou dirigindo o Jeep Compass e o marido dormiu no banco do passageiro.

Indagada pelo juiz sobre o momento da batida, na noite daquele dia, ela disse que não se lembrava e não sabia que da morte até a polícia chegar a sua casa. Ela também culpou a imprensa por ser hostilizada. Disse que nem tudo o que foi divulgado era verdade.

“Ouvi um pow e vi o retrovisor caindo. Não tive mais visão de nada e não percebi, naquele momento, que havia acontecido um atropelamento. Raciocinei no barulho do metal e não percebi que tinha uma pessoa envolvida. Meu pensamento foi ir para casa, porque era noite, meu marido estava dormindo, tinha bebido e estava alterado”, contou.

Ela disse que não estava em alta velocidade, que não houve abalo ao veículo e seguiu para a casa do sogro após o acidente. Depois ela viu o retrovisor arrancado e comunicou ao sogro, que avaliou com mais atenção o carro.

Horas depois a polícia chegou ao endereço e informou que ela tinha matado uma pessoa.

“’Vocês não sabem que assassinaram uma pessoa?’ Aí meu mundo caiu, não passava pela minha cabeça, comecei a chorei e desesperei”, lembrou.

Ao juízo, ela alegou que não fez o teste do bafômetro por temer que o álcool do dia anterior ainda aparecesse no exame. Mas garantiu que não tinha consumido chopp na festa.

Ao ser levada para a delegacia, a médica disse que estava muito abalada e que não tinha condições emocionais para falar com a família. Porém, autorizou a advogada que desse total assistência.

“Com certeza se tivesse visto que era uma pessoam eu tinha parado para ajudar e prestar os primeiros socorros”, argumentou.

A família da vítima afirma que não recebeu qualquer apoio e tem uma ação de indenização em tramitação. Nela, pedem ressarcimento pelos gastos com funeral e indenização pela perda sofrida.

“Muito coisa que foi falada na mídia, foi copia e cola de uma matéria e outra. Fatos destorcidos. Levei pedrada, não tive condições emocionais para falar com a família, estava emocionada. Meu marido também foi agredido com chute, empurrão”, acusou.

Houve momento em que a médica se emocionou.

Ao fim do depoimento, ela pediu perdão à família da vítima e disse que reza por Francisco Lúcio todos os dias.

“Gostaria de pedir perdão para a família do seu Francisco, eu sinto muito porque eu estava naquele carro naquele momento.

Quero dizer que em momento nenhum eu omiti socorro, sou uma mulher trabalhadora, de família. Eu sei que as dores que eles sentiram é irreparável, vou levar isso para vida toda. Eu rezo pela alma todos os dias, eu nunca pensei que um pesadelo desse poderia acontecer comigo. Mesmo sabendo que eu não tive culpa, eu não sou esse monstro, que deixa de prestar socorro e não se importa com as pessoas”, finalizou.

Para a filha do verdureiro, Francy Silva Lúcio, ouvir todo o depoimento da ré causa muita dor. Para ela, a acusada tenta culpar o pai pelo atropelamento e distorce os fatos.

“Passa tanta coisa na cabeça. Principalmente aquela cena do corpo do meu pai jogado em uma árvore, todo ensanguentado e ninguém ali pra dar socorro. Isso é inaceitável”, afirmou a familiar, as partes têm 5 dias para apresentar as alegações finais. Após isso, o juiz irá decidir se a médica será julgada em júri popular ou não.

O caso

O verdureiro Francisco Lúcio Maia foi atropelado pela médica no dia 14 de abril de 2018, na avenida Miguel Sutil, em Cuiabá. Imagens de câmeras de segurança da avenida mostram o momento em que o homem é arremessado contra uma árvore.

A investigação aponta que a médica estava em alta velocidade e dirigia sob efeito de álcool.

O laudo mais recente, divulgado em março desse ano, concluiu que ela dirigia a 101 km/h quando atingiu o verdureiro. O homem morreu no local.

Fonte: Gazeta Digital

Sair da versão mobile