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A maternidade nos tempos do iPad: o desafio de criar filhos nos dias de hoje

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Todo mundo sabe que não existe manual para cuidar de um bebê. Mas eu também estou atrás de um curso online pra criar um menino de 9 anos. Às vezes, lamento secretamente que o meu filho tenha passado da idade aceitável de ter uma babá. Mas, às vezes, sinto uma felicidade imensa por estar sempre presente no dia a dia dele. Tem dias que eu tenho certeza que o “terrible two” continuou até o “terrible nine”. E tem dias que eu fico espantada como ele não está dando mais trabalho.

Um dos grandes desafios dos dias de hoje é o mundo da tecnologia. E não dá nem para pedir conselhos para as nossas mães. Se antes tínhamos um tempo controlado para ver TV, hoje estimulo meu filho a sair do iPad e se jogar no sofá para assistir a um desenho. Desculpe, um anime. Por quanto tempo vamos resistir aos pedidos deles para fazer um canal como os dos youtubers, com falas frenéticas e cheias de gírias que não entendemos? Quanto tempo por dia podemos deixá-los aos berros, jogando com os amigos online? E TikTok, pode ou não pode? Quando dar um celular e poder tirar, definitivamente, o Pokemon GO do nosso aparelho?

Tem um outro desafio dessa idade que não tem a ver diretamente com a criança. Porta da escola e WhatsApp da classe dão mais trabalho que eles. E a logística? Tem dias que eu não sei se pego no judô, levo na festinha, vou ao cabeleireiro ou luto contra o aquecimento global. O cardápio aqui em casa também é um desafio. Pelo meu filho, ele almoçava Oreo e jantava Frutilly. Brócolis ficou para a próxima encarnação.

Um dia ele estava muito quieto. Pensei: “Brigou com algum coleguinha ou perdeu no Fortnite”. Sentei delicadamente na beira da cama e perguntei: “O que foi, meu amor?”. Ele respondeu: “Perdi a vontade de conversar com a minha mente”. Oi? Congelei um meio sorriso e a minha mente parou de conversar comigo. Ainda tenho o hábito de dizer “A mamãe já volta”. “A mamãe vai fazer um macarrão para você”. “A mamãe vem te buscar às 15h, tá?”. Um dia ele me disse: “Mãe”. Eu: “O quê?”. Ele: “Fala na primeira pessoa, por favor”.

Tem coisas que nossos filhos falam que dá vontade de congelar o tempo e mudar a língua portuguesa. Eu pedia para ninguém corrigir, para ainda ter um tempinho daquela fofura. Mas, de repente, o compitador virou computador, gengibula evoluiu pra gengiva, orletã pra hortelã e baumilha, infelizmente, se tornou baunilha. Sem contar com o ar condicionado de cabelo, que, para meu lamento, virou secador. A gente está sempre pedindo para eles fazerem do nosso jeito, dando ordens e estabelecendo regras. Mas, finalmente, aprendi que o lance não é moldar nosso filho, mas sim descobrir quem ele é.

Fonte: Jovem Pan

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