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Prédio que se tornou ‘lenda urbana’ é alvo de furtos de cobre e vizinhos temem desabamento

Foto: Paulo Henrique Fanaia / Leiagora

Desde o final dos anos 1980, o prédio circular abandonado localizado na esquina da rua Conselheiro Doutor Ênio Vieira com a Avenida Historiador Rubens de Mendonça intriga quem passa pelo local. Acontece que a construção abandonada também causa dores de cabeça para moradores da região, que há cerca de dois meses estão muito mais preocupados com a situação crítica que o local atingiu.

Moradora e síndica de um prédio vizinho há mais de 10 anos, Carmen Cenira contou ao Leiagora que o local sempre apresentou problemas aos moradores dos prédios da região. Desde 2014 ela atua como subsíndica e, há quatro anos como síndica eleita do edifício Odeon, que fica ao lado da construção abandonada.

Segundo Carmen, problemas como pombas, animais peçonhentos, insetos e acúmulo de lixo eram considerados até normais. Acontece que há cerca de dois meses, o local virou moradia para pessoas em situação de rua e pessoas viciadas em drogas, o que vem aumentando os transtornos na região.

“Eu tenho ciência do problema desse prédio desde que eu assumi como subsíndica, isso em 2014. Sempre teve problemas como a proliferação de bichos como insetos, ratos, barata, escorpião, dentre outros animais peçonhentos. Durante esse tempo tinha um caseiro no local e eu entrava em contato com a vigilância sanitária, eles vinham e faziam a vistoria. Pedíamos que fizessem a limpeza do local e eles faziam. Hoje, o que a gente observa é que já não tem mais esse caseiro no prédio que está abandonado. Se você olhar da janela vê muitos pratos descartáveis, copos, restos de comida, de roupa, resto de colchão e até de animais”, conta a síndica do prédio vizinho.

Essas pessoas invadem o terreno para furtar peças de metal do local, tais como fios de cobre e peças do sistema de refrigeração que estavam pré-instaladas no prédio. Moradores do edifício Odeon filmaram por diversas ocasiões homens arremessando folhas de metal do 12º andar do prédio em plena luz do dia. Pelas imagens é possível ver o momento em que uma pessoa se aproxima da beirada de uma espécie de sacada e atira a folha de metal que faz um barulho estrondoso quando atinge o solo.

Os moradores também relatam o cheiro de queimada que vem do prédio vizinho. De acordo com eles, essas pessoas em situação de rua furtam fios de cobre e fazem a queima da fiação no local para retirar o produto e levar para revenda. O cheiro forte da queimada acaba indo para os prédios vizinhos.

É comum relatos em que moradores presenciam as pessoas tentando quebrar as paredes da construção abandonada no intuito de encontrar mais fios de cobre dentro das vigas e dos concretos do prédio, o que vem causando um pânico entre os vizinhos que temem que isso possa causar até um desabamento do prédio.

Em conversa com nossa equipe de reportagem, os moradores do edifício contam que já tentaram por diversas vezes entrar em contato com a Polícia Militar pelo número 190, porém, a resposta da PM é sempre a mesma, eles dizem que não podem fazer nada pois o local é uma propriedade privada e não há ali uma situação de flagrante delito que justifique adentrar no prédio.

A síndica Carmen conta que também tentou entrar em contato com o Corpo de Bombeiros Militar de Cuiabá dizendo que estava havendo focos de queimada no local, porém a resposta foi semelhante ao que foi dado pela polícia.

“Eu solicitei ajuda para o comando da Polícia Militar pelo número 190. Eles disseram que, como não tem vítima, não é o papel deles. Não foi só eu que solicitei, mais dois moradores aqui do prédio também já pediram ajuda. Eu também liguei para o Corpo de Bombeiros devido às queimadas, mas eles disseram que, se era uma queimada de material ou apenas uma simples queimada, como a de fio de cobre, se não tem vítima eles também não vão no local”, diz preocupada a síndica Carmen.

Lygia Dias mora no quarto andar do edifício Odeon desde 2018. Ela conta que da cozinha do apartamento ela pode ver toda a movimentação do que acontece no prédio abandonado ao lado. Segundo ela, os barulhos e queimadas que acontecem por lá assustam muito os moradores do prédio, ainda mais ela que mora com duas pessoas idosas.

“Aqui em casa somos eu e meus pais, dois idosos de mais de 80 anos. Direto nós levamos um baita susto com os barulhos das placas de metal caindo e dos barulhos de batidas nas paredes. O cheiro da queima dos fios de cobre também é horrível”, conta a moradora.prédio

O prédio circular abandonado começou a ser construído por volta de 1987. O projeto inicial era de abrigar um hotel de luxo, o Haddad Park Hotel, um empreendimento até então de alto padrão para os moldes de Mato Grosso.

Por motivos desconhecidos, o edifício de 45 metros de altura não chegou a ser finalizado e o esqueleto do hotel virou parte da paisagem da selva de pedra que Cuiabá se tornou com o passar dos anos.

Além de rasgar os céus da Avenida Historiador Rubens de Mendonça, os motivos para a paralisação da obra viraram uma espécie de lenda urbana da Capital. O local já serviu de moradia para diversas famílias desabrigadas, já teve zelador e há alguns anos foi vendido para um grupo empresarial.

O que dizem as autoridades

Leiagora entrou em contato com a Polícia Militar, com o Corpo de Bombeiros Militar, com a Defesa Civil de Cuiabá e com a Secretaria de Assistência Social do Município para tentar entender o porquê até agora nenhuma atitude foi tomada.

O primeiro a nos responder foi a PM. Segundo a assessoria de imprensa da corporação, a Polícia Militar não atua diretamente dando apoio em casos de pessoas em situação de rua e em situação de vulnerabilidade social, tal como os usuários de entorpecentes, sendo essa uma competência da Secretaria de Assistência Social. Com relação às denúncias feitas pelos moradores, a PM informa que não pode entrar no local por se tratar de uma propriedade privada, exceto se há um flagrante envolvendo pessoas.

O Corpo de Bombeiros Militar também respondeu nossa equipe por meio de nota oficial. De acordo com os bombeiros, não há previsão legal para que a corporação intervenha em ocupação de espaço particular por pessoas em situação de rua.

“O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso atua em situações de incêndio após o acionamento pelo número de emergência 193. A corporação não tem previsão legal para intervir em ocupação de espaço particular por pessoas em condição de rua, acúmulo de sujeira no local e depredação do espaço. Se há possibilidade de colapso da estrutura, a avaliação é de responsabilidade da Defesa Civil Municipal”, diz a íntegra da nota.

Entramos em contato com o diretor da Defesa Civil de Cuiabá, que é ligada à Secretaria de Ordem Pública da Capital, José Pedro Zanetti, para tentar averiguar quais medidas podem ser tomadas quanto às reclamações e também para abrir espaço para que o órgão concedesse uma entrevista.

Acontece que o diretor não quis gravar entrevista e se manifestou diretamente por meio da assessoria de imprensa. Pela nota, a Defesa Civil garantiu à nossa equipe que irá encaminhar uma equipe até o local ainda esta semana para verificar as condições estruturais do prédio e também se há riscos evidentes de desabamento.

“Nota à imprensa – A Defesa Civil de Cuiabá informa que vai encaminhar uma equipe até o local na próxima semana (a nota foi encaminhada na semana passada), juntamente com uma guarnição da Polícia Militar, para vistoriar se a estrutura do prédio está danificada. A equipe vai verificar também se a ação de quebrar a parede para retirar os fios pode causar o risco de desabamento do prédio”, diz a íntegra da nota oficial.

Leiagora enviou um e-mail para a Secretaria de Assistência Social de Cuiabá, porém até a finalização desta matéria o órgão não retornou.

Na manhã desse domingo, nossa equipe de reportagem passou pelo local e encontrou uma equipe de segurança privada fazendo rondas dentro do prédio. Conversamos com os agentes que estavam no local que nos informaram que o novo dono do edifício contratou os serviços da empresa de segurança que irá permanecer de prontidão no local para evitar a entrada de pessoas não autorizadas.

Os seguranças não permitiram a nossa entrada e disseram que não tinham autorização para revelar o nome do novo proprietário, porém eles confirmaram que há sinais evidentes de depredação dentro do prédio.

Segundo os agentes, o local está muito sujo e alguns andares estão com buracos no forro, o que evidencia furto das placas de metal instaladas anteriormente.

FONTE:LEIA GORA 

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