O milagre da vida começa bem antes do que se pode ver. Por isso, neste mês de outubro em que celebramos a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida e também nossas crianças, ambos em 12 de outubro, iniciamos também, nesta primeira semana do mês, uma programação que se encerra com o Dia do Nascituro, a 08 de outubro. Pela etimologia da palavra, nasciturus, no latim, significa: aquele que há de nascer.
A Igreja Católica celebra o direito à proteção da vida e à saúde, à alimentação, ao respeito e a um nascimento sadio. O mesmo entendimento é referendado pela Constituição Brasileira, que inclusive celebra 35 anos nesta semana, e também nos garante a vida, desde a concepção, em seu valor intrínseco, inegociável e inviolável.
Na Arquidiocese de Cuiabá vivo meu ministério concretamente pautado na promoção da vida. É na ecologia integral e na priorização da vida humana, desde a sua concepção até seu fim natural, que defendemos a vida. Não é difícil falar não ao aborto, difícil é aderir à vida, e à vida concreta. A vida é um dom, ninguém pode oprimi-la.
A Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), em 2023, reflete o tema: Adoção, amor com laços do coração, por meio de ações propostas e coordenadas pela Pastoral Familiar e com apoio de várias associações. No país inteiro o debate se dá de forma pacífica, com palestras, conferências e audiências públicas, convidando a sociedade e as autoridades a compreenderem esse tema tão caro a nós.
Por isso, neste mês também somos convidados a refletir sobre a missão que temos neste mundo. Esse mês missionário, mês de Santa Teresinha do Menino Jesus, de São Francisco de Assis e de tantos santos e mártires que colaboraram com seu testemunho em vida e após suas mortes, ensina-nos a ir, em unidade, saindo de nossa estagnação e conforto, a levar luz aos confins do mundo.
Mesmo que não compartilhe da mesma fé que professo, eu gostaria muito da sua atenção. Afinal, sei que é uma pessoa do bem, de boa vontade e sabe o valor da vida. Como disse o nosso querido Papa Francisco, o aborto “é como contratar matador de aluguel para resolver um problema…” e “interromper uma gravidez é como eliminar alguém. É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema?” Respondo: não, não é!
Foi aprovado, em segunda votação, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), o Projeto de Lei 076/2023, que institui o Dia Estadual do Nascituro e de Conscientização sobre os Riscos do Aborto. Essa ação é louvável, ainda que possa ser melhor desenvolvida, para que a difusão da informação chegue a todos os mato-grossenses que queiram promover a vida e a vida em abundância.
Se alargarmos o nosso coração, conseguiremos, juntos, acolher mãe e bebê, pois TODA VIDA IMPORTA. Nesta semana, aqui em Cuiabá, uma mãe, em sua fragilidade de saúde mental, e ainda não localizada, abriu mão da convivência com sua filha. Ela procurou uma igreja, uma comunidade, um local para que sua filha estivesse segura, uma vez que não encontrou forças para seguir com os cuidados que um recém-nascido exige. Eu rezo por essa mãe, louvando a Deus por ela ter carregado essa vida dentro dela e ter feito a maior renúncia e sacrifício possíveis, ao mesmo tempo em que peço uma família que anseia crescer para cuidar dessa criança.
Lamento que esta mulher não tenha sido acolhida e localizada. Mas agradeço a ela por ter zelado e trazido essa vida até nós: a vida é sagrada, e precisamos entender isso. Não imagino o desespero, mas tenho certeza de que essa mãe precisa de cuidados, e não de um caça às bruxas com sua imagem exposta como se fosse uma irresponsável. Deve estar assustada e desamparada, física e mentalmente. A ela, meu carinho e oração.
Em Deuteronômio 30,19, o nosso Bom Deus nos diz: “Coloco diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade”. Podemos trazer a vida e dar dignidade a ela, um lar, uma possibilidade de fazer suas escolhas e ser luz neste mundo. Adoção é o caminho para isso.
Finalizo, pois, este texto e lhe faço um convite: domingo, às 16h, estaremos reunidos para a 3ª Caminhada da Vida. Sairemos em procissão, como um ato público de fé, pelas ruas de Cuiabá, da praça do Shopping Pantanal até o Parque das Águas. Lá, participaremos da celebração de uma Santa Missa Campal no Parque, rezando por todas as vidas que foram sacrificadas por falta de informação, conhecimento e, também, agradecendo, como filhos amados de Deus, pela oportunidade de estarmos vivos; fomos gerados, amados, e hoje, podemos defender aqueles que não podem lutar por si só, a fim de que todos possam ter um lugar no Reino de Deus.
Dom Mário Antônio da Silva é arcebispo metropolitano.