Ivan Lúcio Amarante, juiz da 2ª Vara de Vila Rica afastado das funções, é apontado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como proprietário de um “patrimônio invisível” milionário, possivelmente adquirido com dinheiro vivo e não declarado no imposto de renda. Além disso, ele teria criado empresas de fachada para lavar dinheiro e negociado decisões judiciais com o advogado Roberto Zampieri, seu amigo íntimo, morto em 2023. Entre os bens comprados com dinheiro em espécie estão apartamentos, joias, relógios e armas.
A 8ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada em Cuiabá pela Polícia Federal nesta quinta-feira (29), tem como objetivo aprofundar as investigações sobre corrupção judiciária e lavagem de dinheiro envolvendo o magistrado. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão e realizado bloqueio de R$ 30 milhões em bens.
A ofensiva teve início em novembro do ano passado, após a análise do celular do advogado Zampieri — conhecido como o “iPhone bomba” —, onde foram encontrados diálogos que expunham um esquema de venda de decisões judiciais em âmbito nacional. A partir dessas informações, a Polícia Federal identificou um sistema para disfarçar o pagamento de propinas a magistrados ligados ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Além de Ivan Lúcio, os desembargadores Sebastião de Moraes e João Ferreira Filho também estão afastados por determinação do CNJ, validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na sessão plenária do CNJ, realizada na terça-feira (27), foi instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra Ivan Lúcio, que segue afastado e é acusado de possíveis crimes. O relator do caso, ministro Mauro Campbell Marques, detalhou o patrimônio oculto do juiz, além de comprovar sua relação próxima e subserviente ao advogado Zampieri, que influenciava decisões judiciais em troca de propina. Foram identificadas ainda empresas de fachada em nome da esposa e da ex-mulher do magistrado.
A análise da movimentação bancária e fiscal feita por CNJ e Polícia Federal revelou depósitos sem justificativa legal que somam ao menos R$ 1,09 milhão — valor que pode ser maior, já que não foram analisados os dados da esposa atual de Ivan Lúcio. Entre as aquisições registradas em nome do juiz, destacam-se joias compradas de Cecilia Maria de Araújo Borges (R$ 107,9 mil) e da Bulgari (R$ 117,8 mil), além de armas de fogo avaliadas em R$ 96 mil.
O relatório também indicou que o magistrado adquiriu imóveis em Cuiabá e Vila Rica, mas não os atualizou em sua declaração de imposto de renda. São dois imóveis em Cuiabá avaliados em R$ 133 mil e R$ 143 mil, um terreno em Vila Rica de R$ 125 mil e um apartamento de R$ 580 mil, todos comprados com pagamentos não identificados nas contas bancárias do juiz.
A Operação Sisamnes teve como base as informações do celular do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em Cuiabá em meio a uma disputa por terras no valor de R$ 100 milhões. As investigações também levaram ao afastamento dos desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes.
Na manhã de quarta-feira (28), foi deflagrada a 7ª fase da operação, com prisões cumpridas contra o coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini e outros envolvidos.
FONTE – RESUMO