Ivan Lúcio Amarante, juiz afastado da 2ª Vara de Vila Rica, é acusado de ter criado duas empresas “fantasmas” para lavar dinheiro obtido por meio de propinas pagas pelo advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023. As empresas, atuantes no setor de logística e transporte, foram registradas em nome da atual esposa e da ex-mulher do magistrado e movimentaram valores em espécie incompatíveis com suas declarações oficiais, além de não possuírem funcionários.
O ministro Mauro Campbell Marques, relator do processo disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelou que o magistrado recebeu pelo menos R$ 750,9 mil em depósitos em dinheiro vivo, feitos pela esposa Mara Lúcia Amarante entre setembro de 2023 e julho de 2024. A análise indicou que os valores não condizem com as atividades declaradas pela empresa MP Santos Logística e Transportes Ltda, fundada por Mara, que não possui histórico no setor nem funcionários registrados, apontando indícios claros de lavagem de dinheiro.
“Destacam-se especialmente sete depósitos de R$ 20 mil realizados em outubro de 2023, totalizando R$ 140 mil”, destacou o ministro. As operações financeiras apresentaram padrão atípico, com valores elevados e frequentes, desconectados da capacidade econômica da empresa.
Além disso, Ivan também teria utilizado uma empresa registrada em nome da ex-mulher, a JSA Logística, para movimentar cerca de R$ 208 mil em dinheiro vivo entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023. Assim como no outro caso, a companhia não possuía funcionários e as quantias recebidas não tinham origem compatível.
A 8ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal em Cuiabá nesta quinta-feira (29), tem o objetivo de aprofundar as investigações sobre corrupção judiciária e lavagem de dinheiro envolvendo o juiz. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão, além do bloqueio de bens avaliados em R$ 30 milhões.
A operação teve início em novembro do ano passado, a partir da análise do celular do advogado Roberto Zampieri — conhecido como “iPhone bomba” — que expôs um esquema nacional de venda de decisões judiciais. A Polícia Federal identificou um sistema para ocultar pagamentos milionários em propinas a magistrados ligados ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Além de Ivan Lúcio, os desembargadores Sebastião de Moraes e João Ferreira Filho também estão afastados por ordem do CNJ, validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na sessão do CNJ realizada na terça-feira (27), foi instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra Ivan Lúcio, que permanece afastado. O relator do processo destacou ainda a relação próxima e subserviente do magistrado ao advogado Zampieri, que teria influenciado decisões judiciais em troca de propinas, além da existência das empresas de fachada ligadas às esposas.
A Operação Sisamnes teve como ponto de partida as informações obtidas no celular do advogado, morto em Cuiabá em meio a uma disputa milionária por terras. O escândalo também levou ao afastamento dos desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes.
No dia 28, a 7ª fase da operação cumpriu ordens de prisão contra o coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini e outros envolvidos.
FONTE – RESUMO