Em discurso em Porto Alegre, Lula aumenta tom de enfrentamento

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Reprodução
CAMARA VG

PORTO ALEGRE- Na véspera de seu julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o mercado, a imprensa, os adversários, o governo Michel Temer e fez um discurso de enfrentamento. Em um ato com militantes do PT e de movimentos sociais, em Porto Alegre, Lula adotou tom de comício e pediu mais reação em sua defesa. O discurso do ex-presidente vai ao encontro da estratégia do PT de intensificar o embate político caso sua condenação seja confirmada.

“Penso que eles estão destruindo e nós não estamos reagindo com a força que deveríamos”, disse Lula, que foi condenado por Sérgio Moro, da Lava Jato, a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). “Toda vez que a gente fica com medo os adversários crescem”, afirmou o ex-presidente, que viajou nesta terça-feira a Porto Alegre em voo fretado e deveria voltar ainda à noite a São Paulo para acompanhar seu julgamento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Lula, que pretende mais uma vez disputar o Palácio do Planalto, mas pode ficar inelegível a depender do resultado do julgamento, atacou o mercado, com quem havia se conciliado na eleição de 2002. Ele disse que o mercado “tem medo” de sua candidatura. “Eu não sei se é medo do Lula voltar em 2018. Se for medo, é bom. O mercado tem medo do Lula, mas eu não preciso do mercado, eu preciso de empreendedores, de empresas produtivas, de agricultores familiares”, declarou.

Ao misturar defesa política e jurídica, o ex-presidente disse que vai “continuar a fazer” o que está “fazendo”. “Qualquer que seja o resultado, vou continuar lutando para que as pessoas tenham mais respeito e dignidade”, completou o ex-presidente diante de militantes na Esquina Democrática, no centro histórico da capital gaúcha.

Durante ato promovido pelo PT e movimentos sociais nesta terça-feira, Lula focou sua fala críticas ao governo Temer e lamentou os “desmontes” feitos no País nos últimos meses, citando as reformas trabalhista e da Previdência. Ele disse que o País “vai voltar” a crescer com soberania.

Sobre a condenação, Lula disse que já provou sua inocência. “Não vou falar do meu processo. Não vou falar da Justiça. Primeiro, porque tenho advogados competentes que já provaram minha inocência. Segundo, porque eu acredito que aqueles que vão votar (desembargadores da 8.ª Turma do TRF-4) deverão se ater aos autos do processo e não às convicções políticas de cada um”, afirmou.

Estratégia. O tom elevado de Lula tem ressonância na cúpula petista. “Se condenarem o Lula é porque estão querendo apagar fogo com gasolina”, disse ao Estado o presidente do PT paulista, Luiz Marinho. “Depois, arquem com as consequências.”

Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Marinho é o terceiro petista a adotar discurso beligerante. Recentemente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que, para prender Lula, seria preciso “matar gente”, mas depois alegou ter usado “força de expressão”. Depois, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ) defendeu “uma nova esquerda, pronta para o enfrentamento e lutas de rua, e não uma esquerda frouxa”.

Marinho disse que o PT não terá controle sobre as reações da população. “A toda ação corresponde uma reação. Nós não estamos falando em pegar em armas, mas não vamos aceitar uma prisão para tirar o Lula da disputa”, insistiu Marinho. 

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos endossou as críticas. “Se eles fecham a porta, vamos precisar ter força para arrombar essa porta”, protestou Boulos, em Porto Alegre. 

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