Este país não é sério

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CAMARA VG

As manchetes dos jornais anunciam a proibição de criação de novos cursos de medicina por 05 anos, em face de determinação do Ministério da Educação. Esta é uma comprovação de que não existe planejamento no Brasil. Proibiu-se a criação de novos cursos, mas aqueles cuja as solicitações já foram feitas – e não são poucas –  terão andamento e serão criadas. E os ladinos não devem ter perdido tempo e já protocolaram, antes da proibição,  pedidos de criação de novos cursos em todos os recantos deste enorme Brasil varonil.

Qual é a realidade atual: 302 faculdades de medicina, excetos as pendentes de regularização, no Brasil que tem duzentos milhões de habitantes. Deste total 60% são particulares – cujos alunos lotam as filas do FIES –  e o restante é pública. Entre os anos de 2003 e 2018 foram criadas 178 faculdades de medicina. Segundo o Vice-Presidente da AMB Diogo Leite Sampaio, o número excessivo de  faculdades é surreal e  “põe em xeque’ a qualidade dos profissionais recém formados, em faculdades sem as mínimas estruturas.

A China com um bilhão e trezentos mil habitantes tem 150 cursos de medicina. Os EUA com mais de trezentos milhões de habitantes tem 131 cursos de medicina (dados e citações deste artigo do Jornal a Gazeta de 15.04.18 – Caderno 1B).

Se olharmos para o futuro, a situação é preocupante: até 2013 existiam 19.000 vagas nos curso de medicina. Este número saltará para 31.960 vagas. Se for feita uma projetação para daqui a 10 anos, considerando os editais de criação em andamento, teremos 33.000 alunos ingressando nas faculdades de medicina, o que significa que em 30 anos teremos mais de 1000.000 de médicos. “Quantidade esta maior que a soma dos médicos no restante do mundo”,  acentua Diogo Sampaio.

Deve-se acrescentar a tudo isto os médicos cubanos e todos aqueles que fazem faculdades em países periféricos, em cuja revalidação de diplomas, a grande maioria é reprovada nos exames dos Conselhos de Medicina (CRM).

Já inviabilizaram os cursos de direito que tem mais faculdades que o resto do mundo (mais de 1300 cursos). E os sintomas são graves: profissionais mal formados; mercado de trabalho saturado e uma concorrência de vida e morte entre advogados. Um advogado do interior me disse que no passado se cobrava, de acordo com a Tabela de OAB/MT, para fazer uma audiência R$ 1.500,00. No ano passado as empresas somente pagavam R$ 80,00 e neste ano  baixaram para R$ 30,00, com  uma agravante de que encontram profissionais para se sujeitarem a esta humilhação.

Os médicos encontram-se em marcha batida na mesma direção: o aviltamento.

O Exame de Ordem para os bacharéis em direito, em pese as altas taxas de reprovações, não consegue evitar que profissionais despreparados entrem no mercado. E para os médicos recém-formados – que irão cuidar da saúde das pessoas – não existe sequer um Exame de Proficiência no CRM. Este quadro não conspira para que a saúde saia da UTI e é um indicativo de que o que está ruim  pode e deverá piorar. Este País não é serio!

 

RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá

Midia News.

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