Motivação está “mais clara que o sol”, diz promotor sobre morte de Scheifer

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CAMARA VG

O promotor Allan do Ó, do Ministério Público, afirmou estar convicto da motivação do assassinato do tenente Carlos Henrique Scheifer. A declaração foi dada após audiência da última quarta-feira (3), na qual foram ouvidas cinco testemunhas do crime.
 
O promotor está convencido de que os policiais militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim e Werney Cavalcante Jovino planejaram a morte de Scheifer, pois o tenente teria desaprovado a abordagem que levou à morte Marconi Souza Santos, integrante de uma quadrilha de roubos a banco.
 
Foram ouvidos como testemunhas os policiais militares Alex Sander de Souza Vizentin, o sargento Antônio João da Silva Ribeiro, o 2º tenente Herbe Rodrigues da Silva, o tenente-coronel Jonas Puziol e o tenente-coronel Claudio Fernando Carneiro Souza.

Todos relataram os acontecimentos dos dias que precederam e o próprio dia da morte do tenente Scheifer. O conflito entre Scheifer e sua equipe de policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) teria se dado por causa da morte de um suspeito em uma abordagem.
 
“Para mim está mais claro do que sol do meio dia, não há dúvida alguma de que houve uma abordagem que acabou ensejando a morte do Marconi e o tenente Scheifer não teria aprovado aquela atuação de seus comandados, e tanto é verdade que o soldado Vizentin atestou”, disse o promotor.
 
Em seu depoimento o soldado Vizentin disse que, ao dar apoio à equipe de Scheifer, enquanto recolhia os armamentos e materiais apreendidos, teria ouvido Lucélio Gomes Jacinto dizer “este tenente é muito legalista”.

Mesmo após este desentendimento com seus comandados, no mesmo dia, Scheifer teria levado sua equipe a uma região de mata, por onde teriam fugido outros integrantes da quadrilha de Marconi, na tentativa de encontrá-los. O promotor considerou que o tenente planejava tomar alguma providência sobre a morte de Marconi posteriormente, após a finalização da missão.
 
“A gente está falando de uma ocorrência que se deu por volta de meio-dia, e à tarde o tenente Scheifer e sua equipe foram ao encalço, pois estavam próximos de encontrar os outros integrantes. As providências não precisam ser tomadas necessariamente naquele momento, eles estavam ainda em diligências, ele pode ter externado isso a outras pessoas”, disse o promotor.

O Ministério Público considerou que por causa deste desentendimento entre Scheifer e seus comandados, os três militares do Bope, Jacinto, Lopes e Jovino, teriam planejado a morte de Scheifer.  
 
“No nosso entendimento ministerial, o tempo que ele não teve para tomar alguma medida, eles três engendraram o homicídio dele, enquanto permaneceram aproximadamente 40 minutos no mato. Se não bastasse a envergadura da investigação, as provas saltam aos olhos, a covardia”, afirmou o promotor.
 
Os suspeitos e o tenente-coronel José Nildo Silva de Oliveira aidna devem ser ouvidos pela acusação. Uma audiência foi marcada para a próxima quinta-feira (11).

Os relatos
 
As cinco testemunhas ouvidas nesta quarta-feira pintaram o cenário em que se deu a morte de Scheifer. A equipe do Bope, integrada pelos militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim, Werney Cavalcante Jovino e chefiada por Carlos Henrique Scheifer, teria ido ao distrito de União do Norte, próximo a Peixoto do Azevedo (695 km de Cuiabá), em maio de 2017, para atuar em uma operação contra uma quadrilha de roubos a banco, na modalidade novo cangaço.
 
De acordo com os relatos, a equipe de Scheifer foi de aeronave até a localidade e pouco depois que chegaram teria recebido informações, de um suspeito que foi abordado em um posto de gasolina, sobre o local onde estariam alguns dos suspeitos.

A equipe de Scheifer teria ido até esta residência informada e lá teriam realizado a abordagem que resultou na morte de Marconi Souza Santos, isso por volta do meio-dia. Jacinto teria sido o autor do disparo que matou Marconi, justificando que o suspeito estaria armado.
 
Segundo o tenente Herbe Rodrigues da Silva, uma arma foi encontrada do lado de dentro da casa, nos fundos, enquanto o corpo de Marconi teria sido encontrado do outro lado do muro, fora da propriedade. Herbe disse que ele próprio entregou a arma a Scheifer.
 
Outras equipes da Polícia Militar, de regiões próximas, foram acionadas para dar apoio a esta operação. O soldado Vizentin, que auxiliava no recolhimento dos materiais abordados, disse que teria visto o cabo Jacinto andando de um lado para o outro, nervoso, e dizendo “este tenente é muito legalista”, se referindo a Scheifer.
 
 Os policiais localizaram um veículo, que seria dos suspeitos, que foi abandonado em uma região de mata. Já no período da tarde, a equipe do tenente-coronel Jonas Puziol foi juntamente com a equipe de Scheifer até o local onde estava o veículo, e lá Scheifer teria pedido a ele que fosse embora do local e levasse a viatura do Bope, na tentativa de simular para os bandidos que a polícia teria deixado o local.
 
Momentos mais tarde os policiais da região começaram a receber por rádio a informação de que um policiai estava ferido, e pediam informações sobre o hospital mais próximo. De acordo com as testemunhas, Scheifer teria chegado ainda com vida ao hospital, em Matupá, mas logo veio a óbito.

Em seu depoimento o sargento Antônio João da Silva Ribeiro teria dito que, no hospital, os três membros do Bope teriam ido sozinhos a uma sala, onde conversaram. Ele disse que os três aparentavam estar abalados, mas quando tentou se aproximar, para saber como se deu a morte de Scheifer, Jacinto teria dito para que ele se afastasse.
 
Os integrantes do Bope então teriam inventado a versão de que Scheifer teria morrido pelo tiro de um suspeito, o que foi desmentido depois pela perícia. Os policiais militares ouvidos ainda relataram que eram impedidos de ir ao local onde Scheifer morreu, por outros membros do Bope que já estavam no local, por que seria uma região de risco. Os militares que foram ouvidos ontem também disseram que desde o início desconfiavam da versão dada pelos três policiais do Bope.

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