Profissionais da área de saúde da capital e do interior participam de uma capacitação no Centro de Referência Estadual em Média e Alta Complexidade (Cermac) para atender as demandas da sapataria do centro de referência. A unidade, localizada dentro do Ambulatório de Dermatologia, é responsável pela confecção de palmilhas para quem apresenta deformações ou feridas nos pés, em consequência da hanseníase.
O objetivo da Capacitação em Adaptação de Palmilhas e Calçados, que começou na terça-feira (05.12) e vai até esta quinta-feira (07.12), é capacitar mais profissionais para atender as demandas da sapataria. A capacitação, em período integral, inclui palestras sobre a Hanseníase, trata da prevenção, dos aspectos gerais e cuidados, da anatomia e fisiologia do pé e do atendimento ao paciente. Rodas de conversa e aulas práticas de confecção e adaptação das palmilhas completam a programação.
De acordo com Cícero Fraga de Melo, coordenador da capacitação, além do foco principal, que é disponibilizar mão de obra para o Cermac, onde o número de vagas é maior por se tratar da referência estadual, é preciso que a quantidade de técnicos capacitados possibilite que o usuário seja atendido no momento em que procura o Centro. Outros três municípios enviaram técnicos para participar da capacitação: Várzea Grande, Querência e Sapezal.
“A intenção é conseguir implantar a sapataria em grande parte do Estado, mas enquanto isso não é possível, aqueles municípios que já possuem o serviço podem buscar parcerias, como no caso de Querência, que já conta com doação do Rotary Club para produzir as palmilhas”, concluiu o coordenador.
As palmilhas levam de 10 a 15 minutos para ficarem prontas após a tirada do molde, e a média de confecção de palmilhas em Cuiabá é de 600 a 800 por ano. Com o aumento de profissionais capacitados, a expectativa é de que esse número chegue a mil palmilhas por ano.
Uma simples palmilha pode mudar o estilo de vida do paciente, prevenindo as incapacidades físicas causadas pela hanseníase. “Com essa adaptação de calçado e palmilha podemos contribuir para o aceleramento do fechamento da úlcera, e interromper talvez aí a oportunidade de uma infecção, que pode até mesmo levar a uma amputação. Então, um simples procedimento como esse, que qualquer técnico que está aqui passando por essa capacitação pode fazer, pode evitar que a situação do paciente fique mais grave”, ressaltou Cícero.
O paciente e a doença
José Raimundo da Silva, de 63 anos, descobriu ser portador da hanseníase em 2009 após perceber dormência na perna. Por recomendação do médico que o atendeu na época, passou por um tratamento de seis meses, pois a doença não era perigosa. Mas isso não foi o suficiente, e ela voltou mais forte. “Complicou mais a minha situação, porque atingiu meus nervos, o que me impede de trabalhar. Eu era motorista profissional, e agora já não posso mais dirigir. Tudo bem, estou com 63 anos, mas se eu estivesse com a saúde perfeita, estaria trabalhando, só que a doença me limita”, contou José.
No caso do motorista, a hanseníase atingiu os membros inferiores. ”Uma perna não sinto quase nada, preciso andar arrastando essa perna. Mas estou fazendo o tratamento, fazendo fisioterapia e agora fiz a palmilha para ajudar a me locomover melhor, é um benefício para o paciente”. Além disso, José reforçou que a prevenção ainda é o melhor caminho. “A Hanseníase é uma doença que tem que cuidar, tem que tratar. Se você souber de alguém que tem esse problema, que tiver sentindo dormência no corpo procure um posto próximo para procurar um tratamento, porque se for deixando só vai piorar a situação, e a pessoa pode até chegar a óbito”, recomendou o motorista.
A hanseníase pode ser tratada e ter cura. Causada por um parasita que ataca a pele e os nervos periféricos, pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e os olhos. Os sintomas, que variam entre as pessoas, vão desde manchas claras ou vermelhas na pele com diminuição da sensibilidade, dormência e fraqueza nas mãos e nos pés.