A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) manifesta preocupação com o agravamento da crise financeira que atinge os produtores rurais do país. A combinação da queda nos preços das commodities, aumento dos custos de produção e elevação dos juros tem levado muitos agricultores a um endividamento crescente, comprometendo a continuidade das atividades.
Em Mato Grosso, o chamado “Efeito Tesoura” — queda na receita acompanhada da manutenção dos custos elevados — é evidenciado pela desvalorização da soja, que passou de R$ 191,50 a saca em 2022 para menos de R$ 110 em diversas regiões do estado. Paralelamente, o custo médio por hectare ultrapassa R$ 7.118, exigindo a colheita de cerca de 62 sacas só para cobrir os gastos. Fertilizantes representam 43,32% desses custos, enquanto defensivos agrícolas somam 31,7%. A relação de troca piorou significativamente, sendo necessárias até 45 sacas de soja para adquirir uma tonelada de fertilizante MAP em 2025, contra 33 a 35 sacas há dois anos.
Outro ponto de preocupação é o aumento das recuperações judiciais no setor, causado pela inadimplência e pelo fato de muitos produtores terem se tornado credores sem garantias, após entregas de produtos ou pagamentos sem retorno. A situação é agravada por políticas federais que dificultam o acesso ao crédito rural, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a taxação sobre Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Enquanto o volume de crédito caiu 14% no Brasil, Mato Grosso sofreu um recuo de 27,6%.
A alta da taxa Selic, que está em 14,75%, também inviabiliza o crédito subsidiado para grande parte dos produtores, sobretudo os pequenos. Segundo dados do Serasa, a inadimplência rural aumentou 27% em 2023, refletindo o ambiente desafiador enfrentado pelo setor. Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja MT, destacou a necessidade de medidas estruturantes para evitar que os agricultores abandonem a atividade.
“Vivemos uma crise silenciosa que poucos reconhecem por medo de julgamentos. A queda dos preços das commodities, aliada aos custos altíssimos, juros abusivos e a pior relação de troca da década, empurra milhares ao endividamento e, em casos extremos, à insolvência. É urgente implementar medidas como a securitização das dívidas agrícolas, renegociações estruturadas e políticas que garantam a sobrevivência e a competitividade dos produtores brasileiros”, afirmou.
A entidade propõe cinco frentes prioritárias: a securitização das dívidas rurais; linhas de crédito emergenciais com juros alinhados à realidade do setor; revisão dos modelos de troca direta (barter) e proteção contra desequilíbrios no mercado de insumos; criação de programa de sustentação de preços ou garantia mínima de receita para grãos; e suspensão ou revisão dos encargos financeiros sobre operações de crédito agrícola.
A Aprosoja reforça que os produtores querem manter seus investimentos e gerar empregos, e para isso cobram que as instituições financeiras cumpram o Manual de Crédito Rural (MCR), assegurando direitos à renegociação e reestruturação das dívidas. O diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, destacou ainda a gravidade do momento e a necessidade de ações emergenciais para garantir a viabilidade do setor.
“Estamos preocupados com o corte no Plano Safra e a ausência de um projeto para o próximo ciclo. O setor enfrenta três anos consecutivos de queda nos preços, aumento dos custos, juros elevados e eventos climáticos severos. A redução do programa compromete o investimento e custeio, principalmente dos pequenos e médios produtores que dependem de crédito oficial. Sem condições adequadas, corremos risco de perdas nas plantações, redução de empregos e impactos graves em dezenas de municípios mato-grossenses”, afirmou Bertuol, reforçando a urgência de atuação do Governo Federal.
Ele completou: “A inadimplência, que atinge quase 30% dos produtores, não é resultado de má gestão, mas de um cenário adverso, com instabilidade climática, custos altos e política de crédito defasada. O Plano Safra atual, concebido na década de 70, hoje oferece linhas com custo efetivo total acima de 22%. Muitos produtores estão descapitalizados, com lavouras produtivas, mas sem condições financeiras para seguir. Nossas propostas não são pedidos de favor, mas medidas essenciais para garantir a segurança econômica e alimentar do país. Seguiremos dialogando com o Ministério da Agricultura, o Congresso e o sistema financeiro para implementar soluções urgentes.”
A Aprosoja MT destaca que os produtores rurais não podem ser penalizados pelas distorções do mercado e pela ausência de políticas adequadas. A entidade permanece firme na defesa dos interesses dos agricultores que sustentam a produção de alimentos no Brasil e no mundo.
FONTE – RESUMO