Um pecuarista queimou o braço de uma criança indígena com um ferro de marcar gado em MT

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Foto: Divulgação
CAMARA VG

Criança indígena é marcada com ferro de gado em área indígena na Ilha do Bananal

Um caso de agressão contra uma criança indígena de seis anos está sendo investigado em Tocantins. A criança foi ferida no braço por um ferro de marcar gado, supostamente manuseado por um pecuarista que aluga terras na Aldeia Macaúba, localizada na Ilha do Bananal, região que faz fronteira entre os estados de Mato Grosso e Piauí. A ocorrência, registrada inicialmente pela Polícia Civil de Mato Grosso, passou a ser conduzida pela 57ª Delegacia de Polícia de Pium (TO) e já está sob análise do Ministério Público e da Defensoria Pública.

Segundo o relato apresentado pela família da criança à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o pecuarista teria se irritado ao avistar a criança brincando próximo ao gado. O homem a segurou pelo braço e a marcou com um ferro quente, causando ferimentos físicos e traumas emocionais. Assustada, a criança correu para os braços da mãe logo após a agressão.

Investigação e Repercussão

Em resposta ao ataque, a Defensoria Pública e o Ministério Público de Tocantins deram início a uma ação judicial, visando apurar as circunstâncias e responsabilizar o autor do ato. O diretor de Proteção aos Indígenas da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot), Célio Canela, condenou o ato e comparou a agressão a práticas que remetem ao período escravagista.

“É lamentável que, em pleno século XXI, uma pessoa seja marcada com ferro, algo que nos lembra a época da escravidão. Tanto indígenas quanto negros foram explorados física e psicologicamente naquela época, e é triste ver isso se repetir”, declarou Canela. Ele ainda afirmou que a secretaria está em diálogo com a Defensoria Pública e outras instituições para prestar apoio à família e garantir a responsabilização do agressor.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Funai também emitiram comunicados exigindo a punição imediata do pecuarista e questionaram a presença de fazendeiros em território indígena. Letícia Amorim, defensora pública e representante do Cimi, reforçou o posicionamento: “A Ilha do Bananal é território indígena. Não há justificativa para a ocupação de não indígenas neste espaço.”

Solidariedade e Clamor por Justiça

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, manifestou solidariedade à família e lamentou o ocorrido, reiterando o compromisso do ministério com a defesa dos direitos indígenas. “O que aconteceu é inaceitável e não deve ser tolerado em nenhuma região do Brasil. Estamos ao lado da família e do povo Karajá para garantir que a justiça seja feita”, afirmou Guajajara.

Lideranças do povo Karajá exigem que o pecuarista deixe a área em um prazo de até 30 dias, posicionamento que faz parte do movimento de preservação e retomada de terras indígenas. O caso reacende a discussão sobre a presença de atividades agropecuárias em territórios indígenas e os riscos que essas atividades representam para a segurança e integridade das comunidades.

A investigação permanece em sigilo, enquanto a comunidade indígena e organizações de direitos humanos pressionam as autoridades para que o caso seja conduzido com a urgência e a seriedade que a situação exige.

Da redação com informações do Olhar Direto