A pressão por redução de despesas e contribuição para o Fundo de Estabilização Fiscal recebeu uma resposta inusitada do presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, desembargador Rui Ramos Ribeiro, contrariando o seu estilo quase de saída à francesa. Ele utilizou o momento em que era o astro principal de Mato Grosso para responder à tese de que o Poder Executivo é “muito mais cobrado pelo povo” e aproveitou para assegurar, quase num brado, que o Poder Judiciário também tem "cheiro de povo".
A resposta de Rui Ramos se deve essencialmente ao fato de o Poder Judiciário quase sempre ser colocado, nas discussões que ocorrem em tempos de crise, como território das elites dominantes. “O Poder Judiciário, queiram ou não, tal como a mim – à minha pessoa, também temos o cheiro da nação brasileira. Nós cheiramos ao brasileiro! Nós temos o cheiro da nossa população!”, afirmou o presidente do TJ, durante a abertura solene dos trabalhos de 2018 da Assembleia Legislativa.
Embora o discurso fosse lido, o presidente do Tribunal de Justiça fixou o olhar para o governador José Pedro Taques (PSDB) e para o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Eduardo Botelho (PSB), para colocar o Judiciário como defensor da população. “Nós temos o cheiro da nossa população! E é com ela que temos compromisso institucional, desde o dia em que prestamos o nosso concurso para a magistratura. Nós não nos esquecemos disso, em nenhum momento”, justificou Rui Ramos.
A sua luta claramente é para derrubar a pecha elitista historicamente colocada na direção do Poder Judiciário e respondeu para Taques. “O momento é de encarar fatos, tentando discerni-los até onde nos franqueia o bom senso. Confrontos não se podem revelar como opções. Confrontos revelam na verdade a incapacidade de resolvermos a bom termo as dificuldades pelas quais experimentamos um determinado momento histórico e cultural de nossa nação”, disparou Rui Ramos, em nova indireta, desta feita sobre o contingenciamento de 20% nos repasses de duodécimos dos poderes.
Apesar das dificuldades, o entendimento é de que o Judiciário de Mato Grosso está avançando. "Se Mato Grosso é gigante, poderá se tornar maior ainda. A nossa lei vigente, em defesa da democracia, sempre defende os pequenos. E não há nenhum soberano que possa alterá-la. Lembrem-se: o Poder Judiciário tem, sim, o cheiro do nosso povo! Nós também cheiramos ao nosso povo!", complementou o presidente do TJMT.
Rui Ramos Ribeiro não quis conceder entrevista para responder se vai ou não concretizar a ameaça de cobrança judicial do duodécimo que for contingenciado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2018, pelo Poder Executivo. Todavia, confirmou via assessoria que, em 2018, até o momento, recebeu apenas os valores destinados à folha de pagamento dos 8.248 servidores do Poder Judiciário.
Olhar Direto.