“É uma coisa séria o que o presidente fez, jogando por terra o trabalho do ministro”, diz secretário sobre Bolsonaro

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Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto
CAMARA VG

Fonte: Olhar Direto

O secretário municipal de Saúde de Cuiabá, Luiz Antônio Possas de Carvalho, criticou o discurso do presidente Jair Bolsonaro, feito em rede nacional na noite desta terça-feira (24), no qual criticou a postura de governadores e o “confinamento em massa” para a prevenção contra a proliferação do novo coronavírus. Bolsonaro classificou a doença como “uma gripezinha”. Possas disse que com este discurso Bolsonaro “está jogando por terra” o trabalho do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que vem fazendo diversas recomendações aos Estados e Municípios.

Em sua fala o presidente Jair Bolsonaro desconsiderou o alto índice de contaminação do vírus e citou os efeitos na economia. Segundo ele “raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade”.

“O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos sim voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas?”.

Bolsonaro ainda disse que “90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se contamine” e que “devemos sim é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros”.  No entanto, a principal medida para evitar a transmissão do vírus é o isolamento social.

Ele ainda disse que a mídia criou uma “histeria” em torno do vírus “tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália”. Ele ainda classificou a doença como uma “gripezinha”.

“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão. Enquanto estou falando, o mundo busca um tratamento para a doença.”

O secretário de Saúde de Cuiabá, Luiz Antônio Possas de Carvalho, que tem atuado diretamente no combate à proliferação do vírus na capital de Mato Grosso, apesar de não ter uma visão pessimista, discorda do ponto de vista do presidente.

“Eu não enxergo o pior dos cenários, mas também não enxergo dos mais alegres, como o presidente da República que veio ontem falar que é uma ‘gripezinha’, não é uma ‘gripezinha’, realmente não é isso”, afirmou.

Possas disse que é necessário que o poder público tenha muito cuidado na administração dos casos e que é importante as pessoas ficarem em casa “porque a partir do momento que elas não pegarem, elas não vão contaminar mais ninguém, o pico de contaminação vai baixar”. Ele também disse que o discurso do presidente “joga por terra” o trabalho que tem sido feito pelo ministro da Saúde.

“É uma coisa séria o que o presidente fez, está jogando por terra o trabalho do ministro Mandetta, que graças a Deus que temos um ministro de visão técnica e profissional, e também centrado como ele é. O ministro agiu da forma certa, está agindo da forma correta com as condições que ele tem”, disse.

O secretário, porém, reconheceu que é importante também pensar nos efeitos econômicos que o vírus deve causar. Ele disse que é necessário que os gestores saibam conduzir a situação muito bem para que não ocorram danos muitos graves na saúde nem na economia.
“Agora esta doença tem também um efeito devastador financeiro, o que vai acontecer daqui há 60 dias, com as coisas paradas e fechadas? Então isso é uma ‘contraoferta’ ao isolamento que é importantíssima. Eu não gostaria de ser gestor numa época dessa, nenhum prefeito ou governador gostaria de estar em uma hora dessas no comando das coisas, porque fica entre a cruz e a espada, tem que saber dosar para que não mate de um jeito, mas também não morre de outro”.

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