Esquerda volta a mobilizar população com ‘tiro pela culatra’ de Hugo Motta

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Manifestantes fazem protesto ao Masp, na Avenida Paulista, contra a PEC da Blindagem e o Projeto de Anistia — Foto: Reprodução/TV Globo
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As aprovações da PEC da Blindagem e da urgência do projeto de anistia foram o “tiro pela culatra” do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que fizeram a esquerda tomar as ruas em 18 capitais brasileiras hoje.

O que aconteceu

Manifestações começaram à tarde em São Paulo, Rio e Curitiba. Na capital carioca, sob calor de 36°C, ocorreram apresentações de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan e Paulinho da Viola. Em São Paulo, manifestantes estenderam uma bandeira do Brasil a partir das 14h.

Contra PEC da Blindagem e anistia. Protestos se voltaram contra a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que dificulta a abertura de processos criminais contra parlamentares e também contra o projeto de lei que pretende dar anistia a condenados por tentativa de golpe, incluindo o ex-presidente Jaur Bolsonaro (PL), condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos e 3 meses de prisão. A urgência desse projeto de lei foi votada também esta semana.

Mesmo com a derrota, esquerda ganhou “presente” com aprovações, afirma o cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Eduardo Grin. “Não que tenha diretamente relação com o governo, mas os temas mobilizaram a população. É uma população que, neste caso, não é bolsonarista, não é apoiadora do centrão, e isso em um momento em que a esquerda estava com muita dificuldade de ir para a rua.”

Motta saiu “chamuscado” com a impopularidade das pautas e a previsão de derrubada da PEC da Blindagem no Senado, diz Grin. “Ele tentou recuperar parte do prestígio junto com o centrão e com Bolsonaro nessa PEC. Depois dessas manifestações, a dificuldade que ela já tinha para ser aprovada no Senado ficará ainda maior.”

Com as manifestações, Blindagem e anistia foram “tiro pela culatra” de Motta. “Saiu pela culatra, sim. Essa PEC não deve passar. As manifestações na rua também dificultam isso.”

Atos mostram que esquerda pode voltar a mobilizar, analisa Grin. “Enquanto o bolsonarismo vem perdendo a capacidade de mobilizar pessoas, parece que a esquerda, agora, com esse ato de hoje, volta a ter condições de fazer grandes manifestações. Portanto, me parece que a esquerda sai com um saldo positivo, porque na opinião pública há uma tendência maior de as pessoas serem contra a anistia.”

Manifestantes exibiram cartazes e faixas contra a PEC da Blindagem e a anistia aos golpistas de 8 de Janeiro em ato no Rio. Cartazes chamavam Motta de “inimigo do povo”. “Sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”, entoaram os presentes.

Gritos de “Fora, Hugo Motta” em ato em João Pessoa. O presidente da Câmara é um dos deputados representantes do estado.

Atos pelas capitais

Atos se espalharam pelas capitais. De manhã e à tarde, houve protestos em Recife, Porto Alegre, Florianópolis, Teresina, Campo Grande e Fortaleza. No total, 33 cidades tiveram atos.

No Rio, ato apostou em nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque para atrair manifestantes. Também participam Djavan, Paulinho da Viola, Marina Sena e Os Garotin. Dois trios foram alugados pela organização: um recebeu políticos e o outro, artistas.

Ato em São Paulo reuniu 42,4 mil pessoas, segundo o Cebrap e a USP (Universidade de São Paulo), junto com a ONG More in Common. Numericamente, o ato de hoje foi maior que o bolsonarista pró-anistia, em 7 de setembro, que teve 42,2 mil presentes. Ambos empatam na margem de erro.

Rio teve menos manifestantes se comparado ao ato pró-anistia, de acordo com o mesmo levantamento. Hoje, estavam presentes 41,8 mil manifestantes. Em 7 de setembro, havia 42,7 mil pessoas na manifestação a favor da anistia.

Em Brasília, o ato reuniu manifestantes em frente ao Museu da República. O ex-ministro José Dirceu (PT) e os deputados federal Érika Kokay (PT-DF) e distrital Fábio Félix (PSOL-DF) estiveram no local. “A PEC da Bandidagem é uma vergonha nacional”, disse Félix em um carro de som. “Essa PEC é para blindar o Congresso Nacional.”

Em Salvador, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), o ator Wagner Moura e Daniela Mercury compareceram ao ato, que mobilizou multidões, o que surpreendeu especialistas. A cantora se apresentou com uma bandeira do Brasil, enquanto as pessoas gritavam “sem anistia”. “Não aceitamos essa PEC da Impunidade”, disse Mercury.

Em São Luís, manifestantes levaram cartazes com fotos de deputados maranhenses que votaram “sim” pela PEC da Blindagem. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) compareceu ao ato na capital do Maranhão. “Se o Brasil inteiro não tivesse se mobilizado, talvez a PEC prosperasse”, disse. “Aqueles que cometem crime têm que estar sujeitos aos rigores da lei brasileira. Não existe casta superior no Brasil.”

 

Fonte: Portal UOL