Vozes por Socorro: “Ele me prendia para ficar comigo à força”

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Reprodução
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Nos últimos 12 meses, 5,3 milhões de brasileiras — o equivalente a uma em cada dez mulheres com 16 anos ou mais — relataram ter sofrido violência sexual, incluindo situações em que foram estupradas. É o que mostra a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, publicada pelo DataFolha em março de 2025 em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O estudo mostra ainda que a violência, em diferentes formas, atingiu 21,4 milhões de mulheres em apenas um ano — 37,5% da população feminina do país. Um outro dado choca ainda mais: nove em cada dez agressões (91,8%) ocorreram diante de testemunhas. Na maioria das vezes, pessoas próximas — amigos, familiares e até filhos — presenciaram os episódios.

Apesar dessa exposição, quase metade das vítimas (47,4%) não procurou ajuda nem denunciou o agressor. Medo, culpa e sensação de impunidade são os maiores obstáculos no enfrentamento à violência de gênero.

Para romper o silêncio e dar visibilidade ao tema, o Metrópoles e o Magalu apresentam a segunda edição do “Vozes por Socorro”, websérie de quatro episódios com relatos de mulheres que enfrentaram as diferentes formas de violência previstas pela Lei Maria da Penha, que completa 19 anos em 2025.

A lei é o principal instrumento de proteção contra a violência doméstica e familiar no país e facilitou, dentre outras coisas, a concessão de medidas protetivas a mulheres em perigo.

Contudo, mesmo com esse avanço, a pesquisa evidencia a recorrência dos casos: 39% das vítimas relataram ter passado por duas ou três agressões; 16% enfrentaram três ou quatro ocorrências; e 15% afirmaram ter sido atacadas seis vezes ou mais; enquanto apenas 30% viveram uma única situação.

É sobre essa realidade que fala a entrevistada do terceiro episódio da websérie, em relato anônimo. Ela descreve como suportou um relacionamento abusivo em silêncio por anos até perceber que não estava sozinha e buscar ajuda. “Eu achava que era só comigo, que a culpa era minha. Quando entendi que não era, consegui pedir socorro.”

 

Assista ao episódio 2

Assista ao episódio 1

Entre 2020 e 2024, o número de medidas protetivas de urgência concedidas cresceu 151,7%, passando de 338 mil para 850 mil, segundo o Conselho Nacional de Justiça.

Os dados evidenciam que reconhecer os diferentes sinais de violência é essencial para interromper esse ciclo.

O Violentômetro, criado no México e adotado em vários países, inclusive no Brasil, é uma ferramenta educativa que mostra a progressão da violência contra a mulher — desde comentários e ciúmes até agressões físicas e, nos casos mais extremos, o feminicídio.

E diante da gravidade de tantas referências, todo sinal de alerta deve ser levado a sério. Não subestime a sua intuição nem a capacidade do outro de lhe causar dano.

Importante ressaltar: a violência doméstica vai muito além das agressões físicas. Segundo a Lei Maria da Penha, ela engloba violência psicológica, sexual, patrimonial e moral.

“Não se trata apenas de tapas ou socos. Muitas vezes, a violência começa antes disso, no grito, na humilhação, no controle sobre a pessoa”, aponta Jennifer Daiane Silva, advogada especialista no combate à violência contra a mulher.

Ao denunciar, a vítima passa a contar com proteção legal do Estado e acompanhamento jurídico pelos órgãos competentes. As medidas protetivas garantem o afastamento do agressor e preservam a segurança da mulher e dos filhos.

A lei também incentivou a criação de importantes equipamentos de apoio, como Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, Casas-abrigo, Centros de Referência da Mulher, Casa da Mulher Brasileira e Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

Todo esse conjunto de avanços levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a reconhecer a Lei Maria da Penha como uma das mais avançadas do mundo no combate à violência contra a mulher.

Saiba identificar os sinais de alerta

Para muitas mulheres, é difícil identificar os sinais de alerta de uma relação abusiva logo no início. Mas, quebrar esse ciclo no começo pode salvar vidas. Por isso, conhecer os níveis de alerta é importante não apenas para quem passa por uma situação de violência, mas também para familiares e amigos, que podem prevenir situações de risco.

Reconheça os sinais no Violentômetro por meio do app Magalu: basta entrar em “Sua Conta”, rolar até a opção “Outros” e clicar em “Violência contra a mulher”. Ou clique aqui.

Foto: Metrópoles/Lucas JonathanImagem colorida de um infográfico sobre violência doméstica - Metrópoles

Denuncie!

  • Em caso de emergência, quando as agressões estão acontecendo naquele momento, a vítima ou qualquer pessoa pode denunciar pelo canal telefônico da Polícia Militar, o 190.
  • Ligue 180 – Central de atendimento à mulher, canal oficial do governo federal para acolhimento, orientação e registro de denúncias, destinado às mulheres em situação de violência. Gratuito, sigiloso e disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, incluindo feriados. O serviço realiza atendimento em quatro línguas (português, inglês, espanhol e Libras) e também pode ser acionado por WhatsApp, pelo número (61) 9610-0180.
  • Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher ou a Delegacia mais próxima. É preciso levar documentos pessoais à delegacia e informar caso haja testemunhas da denúncia. Toda e qualquer prova e registro das agressões pode auxiliar na investigação do caso e punição do agressor.
  • Caso a vítima não queira procurar a polícia ou esteja insegura em fazer a denúncia, poderá procurar os serviços de orientação jurídica e/ou psicológica, como os Centros Especializados de Atendimento à Mulher ou de Assistência Social.

Apoio especializado

Casa da Mulher Brasileira atua como uma ferramenta importante no atendimento às vítimas de violência doméstica no país. Em um único espaço, é possível acessar serviços de acolhimento e triagem, apoio psicossocial, iniciativas de promoção da autonomia econômica, e alojamento de passagem para mulheres em situação de risco.

Também são oferecidos serviços de saúde e transporte para outros pontos da rede especializada, além de facilitar o acesso a diferentes instâncias de proteção: a delegacia, onde a vítima pode registrar a ocorrência e solicitar medidas protetivas (encaminhadas ao juiz, que decide em até 48 horas, salvo exceções em que o delegado pode concedê-las de imediato); o juizado, responsável pelo deferimento da medida; o Ministério Público, para a investigação e responsabilização do agressor; e a Defensoria Pública, para garantir orientação e defesa jurídica da vítima.

O acesso à Casa da Mulher Brasileira é feito pelo contato telefônico 180.

Até o momento, 11 unidades da Casa da Mulher Brasileira estão em funcionamento. A previsão do governo federal é de instalar mais 31 unidades. Apenas em 2024, foram realizados cerca de 440 mil atendimentos por meio desse serviço.

Para além do suporte governamental, existem organizações sem fins lucrativos que promovem o apoio às mulheres vítimas de violência. Um exemplo é o projeto Justiceiras, que, por meio de uma rede voluntária, oferece amparo nas áreas jurídica, psicológica, de saúde e de assistência social a mulheres em risco. Por meio do app Magalu, também é possível se informar sobre o assunto. Basta entrar em “Sua Conta”, rolar até a opção “Outros” e clicar em “Violência contra a mulher”.

Credito: Metrópoles