Taques: “Temos todas as condições de vencer; não podemos errar”

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ALMT TRANSPARENCIA

Crise econômica, dificuldades na área da Saúde, ex-aliados virando adversários, ataques da oposição, rejeição nas pesquisas. 

Nada disso parece abalar o otimismo do governador Pedro Taques (PSDB) em relação às eleições. "As dificuldades não tiram meu sono. Durmo feito uma criança. Temos todas as condições de vencer. Depende de nós. Não podemos errar. Porque temos muita manga para vender".

Em uma entrevista exclusiva ao MidiaNews, concedida no Palácio Paiaguás, na última quarta-feira (21), Taques falou sobre as dificuldades que o cercam, inclusive relacionadas à articulação política.

A referência se dá em relação ao pacto que, segundo ele, foi firmado com o ex-prefeito Mauro Mendes (DEM), que deveria apoiar sua reeleição, mas que provavelmente o enfrentará nas urnas.  

"Eu cumpri o meu papel. Eu cumpri a fatura. Porque pactuamos que eu apoiaria a sua candidatura à reeleição, e ele a minha. O acordo foi feito, se ele não quis se candidatar o problema não é meu. Mas ele já "desmentiu" nosso pacto, dizendo que não houve", disse.

Além de eleições, Taques falou sobre as dificuldades de gestão – "Administrar é ter desgaste" -; de como a experiência de governar o deixou "mais resiliente", mas não mudou seu modo de pensar; e até mesmo em uma eventual saída da política.

"Eu estou fazendo reflexões sobre isso. Política cansa. Eu passo em frente ao Parque Mãe Bonifácia, depois das cinco da tarde, está todo mundo caminhando; às 7 horas, na Praça Popular, está todo mundo bebendo, com a namorada; vai ao cinema. Você acha que eu tenho tempo para fazer isso?".

 

Confira os principais trechos da entrevista:

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Nós vivemos esta situação sem dinheiro, com dificuldade, desde o primeiro dia do mandato"

MidiaNews – O senhor tem enfrentado inúmeras situações adversas no Governo, como os problemas de caixa e na área da Saúde. Como está o ânimo do governador nesta reta final de mandato?

Pedro Taques – Nós vivemos esta situação sem dinheiro, com dificuldade, desde o primeiro dia do mandato. Se você buscar os motivos dos decretos 01 e 02, de 2015, verá o norte, o caminho da nossa administração. O ano de 2015 foi muito difícil, com recessão, e nós conseguimos fazer as auditorias necessárias para poder chegar a este momento. Essas auditorias foram muito importantes. Reclamavam que estávamos só fazendo auditorias. A partir de 2016, começamos a organizar o Estado do ponto de vista econômico.

Nós nunca vivemos um céu de brigadeiro. Aliás, nenhum dos governadores viveu, a não ser Estados que já tinham política consolidada. Veja São Paulo: quatro administrações do mesmo grupo; Goiás teve cinco administrações do mesmo grupo. Então, existe certa continuidade, que é importante. Aqui, tivemos que fazer uma ruptura em tudo. Essa ruptura fez com que os processos demorassem, as ações e resultados demorassem a aparecer. Mas, apareceram e já estão cada dia mais aparecendo. Não tenho nenhuma dúvida de que neste final de mandato iremos mostrar muitas ações efetivas em todas as áreas.

 

MidiaNews – Apesar das "entregas" à população, porque a rejeição do senhor ainda é alta?

Pedro Taques – Vou analisar sob um aspecto macro e micro. Hoje, está todo mundo de saco cheio de político. O cara não quer saber de político. Está desconfiado de tudo. Está todo mundo no mesmo saco. Até o Papa. O cidadão tem ao seu redor, hoje, mais ou menos como uma capa de couro, e tem dificuldade em aceitar as informações. Tem resistência. E essas informações ele as recebe com impaciência, intolerância, desconfiança.

Primeiro, tem que quebrar isso. Aí, vai ter algo mais racional para que se possa comunicar. E a nossa comunicação falhou. Não chegou ao cidadão. Isso é fato.

Fiz uma reunião recente em Rondonópolis com o PSDB inteiro. Havia umas 100 pessoas. Muitos reclamavam que a gente não fez nada no Estado, mas comecei a relacionar tudo o que fizemos em Mato Grosso e em Rondonópolis. Pedi para levantarem as mãos quem não sabia das ações. Quase todos não sabiam. A comunicação não chegou ao cidadão. Essa dificuldade eu vou ter, mas os outros também vão ter. Você precisa fazer um trabalho de reconquista, quebrando esse couro e mostrando o que fizemos.

Na pesquisa do Ibope, feita em dezembro passado, foram 33% de aprovação, o que não é ruim, e 38% de rejeição. Se for decompor essa rejeição, 40% são porque acham que eu não fiz nada; 10% são porque não cumpri promessa de campanha. Portanto, tenho um espaço de caminhada grande para trazer para os favoráveis. E aí a importância dessas entregas.

 

MidiaNews – Acredita que parte dessa rejeição seja por um componente pessoal, por sua postura, considerada dura?

Pedro Taques – Eu já recebi essas críticas, mas as tenho com total tranquilidade. Não tenho nenhum problema nas ruas. Quem já me viu fazer política na rua sabe que gosto e faço. Mas não tenho paciência para conversar com determinadas pessoas (da política). É isso. Não vou mudar a minha forma de ser, que me trouxe até aqui, para ser reeleito.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"A comunicação não chegou ao cidadão. Por este motivo, por falha. Isso ficou para trás. Essa dificuldade eu vou ter, mas os outros também vão ter"

 

MidiaNews – É por isso que muitos daqueles aliados que tiveram papel fundamental em sua eleição hoje romperam e lhe criticam?

Pedro Taques – Quem? Vamos citar nomes…

 

MidiaNews – O ex-prefeito Otaviano Pivetta, por exemplo.

Pedro Taques – Eu não vou falar mal do Pivetta. Mas o cidadão, para ser governador, precisa ter voto. Aí ele pode sentar aqui na cadeira de governador. Ele não pode sentar aqui se não for o candidato e não tiver voto.

E algumas pessoas entendem que, por eu ser uma pessoa pobre, quem me ajudou poderia mandar no Governo. Mandar! E eu não sou assim. Aí, eu tenho uma personalidade forte. Quem foi eleito fui eu. Aceito sugestões, chamo as pessoas para conversar. Pergunto se quer assumir determinada secretaria, pergunto o que quer fazer, chamo para ajudar. A pessoa não quer. Aí, diz: “Ah, eu falo para o Pedro fazer dez coisas e ele não faz nenhuma”. Sim, mas eu não concordei com as dez coisas. Eu tenho esse direito. Eu fui eleito para isso. Eu não aceito conselho que acho que não está certo. Aí, eles zangam.

 

MidiaNews – O caso específico do Pivetta foi esse?

Pedro Taques – Sim. Mas também Lucas do Rio Verde, porque ele entende que perdeu a eleição de 2016 lá, e eu poderia ter feito mais para ele durante a campanha. Eu não tenho nada contra o Pivetta. Espero que ele esteja feliz.

 

MidiaNews – O Wilson Santos afirmou, nesta semana, que aliados que deixaram o Governo tiveram interesses contrariados, inclusive financeiros. O senhor concorda?

Pedro Taques – Não vou generalizar, mas em alguns casos, sim. Alguns casos sim.

 

MidiaNews – Então, os fatos que culminaram nos afastamentos de aliados não são, necessariamente, de responsabilidade do senhor?

Pedro Taques – Pode até ser responsabilidade minha. Quem sabe, alguns desejavam que eu fosse “maria vai com as outras”, que eu fosse um fantoche, mas eu não sou.

 

MidiaNews – Em função disso, o senhor considera que houve o afastamento?

Pedro Taques – Não só considero, como é concreto. Não houve rompimento, não houve briga, houve afastamento.

 

MidiaNews – O senhor não tem nenhuma ressalva a fazer em relação à sua postura? Não teria como ter dialogado mais?

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Eu não vou falar mal do Pivetta. Mas o cidadão para ser governador, precisa ter voto. Aí, ele pode sentar aqui [aponta para a cadeira de governador]"

Pedro Taques – Sim, pode ser que tenha faltado diálogo.

 

MidiaNews – Foi assim com o deputado Zeca Viana também?

Pedro Taques – O Zeca Viana foi diferente. Eu passei o Réveillon de 2015 junto com a família dele e a família do Carlos Fávaro, no Hotel Odara. No outro dia, cedo, fomos para a posse. Mas o Zeca Viana queria ser o governador. Queria mandar no Governo, porque me ajudou. E eu não sou assim.

 

MidiaNews – O senhor deu motivo para pensarem assim? Criou alguma expectativa nesse sentido, de que eles teriam ascedência sobre a gestão?

Pedro Taques – Não. As pessoas é que criaram expectativas e queriam que eu cumprisse o sonho delas. Por exemplo: quando fui indicar alguém para a Sinfra [Secretaria de Infraestrutura], que acabou sendo o Marcelo Duarte, liguei para o Pivetta, para o Eraí Maggi, para o Fávaro, para várias pessoas. Me trouxeram nomes. Assim é que é feito um processo de escolha. Não é jogando sinuca. Eu faço o processo de escolha assim. Agora, estou substituindo alguns secretários e chamo as pessoas que estão lá na Pasta para ouvir. Ligo, por exemplo, para Nilson Leitão, para outros. É assim. Mas quem tem que decidir sou eu.

 

MidiaNews – Neste momento, há um cenário claro de ex-apoiadores do outro lado. Alguns aliados da base parecem até reticentes em declarar apoio à sua reeleição. Como o senhor analisa o processo eleitoral que se aproxima?

Pedro Taques – Segundo a fofoca que rola, querem me isolar. Isolamento. Mas nós já temos partidos suficientes do nosso lado que nos dão a tranquilidade de ter tempo de TV e capilaridade no Estado. Não vou dizer que o DEM não é importante. É, sim. Mas veja a atual situação: O MDB não está conosco, e nem queremos, assim como PT e PR. Fica uma interrogação no PTB e no PP. Mas, provavelmente, este será um lado.

Do nosso lado, temos PSDB, PSD (a entrevista foi concedida na quarta-feira passada, antes de a sigla deliberar por entregar os cargos e romper com o Governo), que vai ficar conosco, tenho convicção, PPS, SD, PV, PROS, PRTB, PTdoB. Se somar isso, já temos um bom tempo de TV.

Como temos muito a mostrar, é bom ter tempo. No meio disso tudo, está o DEM, o PRB, PSC e PDT. Eles têm menos tempo que nós, e bem menos que o primeiro grupo. 

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Ele entende que perdeu a eleição lá e eu poderia ter feito mais para ele durante a campanha. Eu não tenho nada contra o Pivetta"

MidiaNews – O senhor se considera preparado para  enfrentar o ex-prefeito Mauro Mendes?

Pedro Taques – Em uma eleição, você tem que reunir os aliados. Os adversários que vierem, temos que enfrentá-los.

 

MidiaNews – Mas o senhor já considera esse cenário?

Pedro Taques – Eu considero esse cenário. Se o Mauro for candidato e eu também, vamos nos enfrentar.

 

MidiaNews – Consideraria uma traição ele se lançar ao Governo, já que são aliados desde 2010?

Pedro Taques – Eu vou dizer, no momento correto, como foi a conversa entre eu e o Mauro. Ele diz que não houve a conversa e eu vou falar a minha parte da conversa.

 

MidiaNews – Conversa em relação a um pacto de apoio para sua reeleição?

Pedro Taques – Isso. Tanto que eu cumpri o meu papel. Eu tenho algumas qualidades que na política são defeitos: eu sou leal. Não volto atrás na minha palavra. Veja só: o Aécio Neves e o Nilson Leitão me chamaram para ir para o PSDB, fui eleito pelo PDT. Fui falar que ia, mas que tinha compromisso com o Mauro Mendes, pela sua reeleição em Cuiabá, e que gostaria que o PSDB não lançasse candidato e que apoiasse o Mauro. Ok. Esse acordo foi feito. O Paulo Borges virou secretário do Mauro, conduzido pelo Carlos Avalone. Mauro aceitou isso.

Em uma quinta-feira, de agosto de 2016, sendo que a convenção era no sábado, estavam sentados aqui [no gabinete do Governo] o Jaime Campos, o Nilson Leitão, eu, Mauro Mendes e mais alguém. Quinta-feira, 8 horas da noite. O Mauro pediu que indicássemos três candidatos para sua vice. No outro dia ele escolheria, bateríamos o martelo e iríamos para convenção. Comemos uma pizza e cada um foi embora. Acordei na sexta-feira e fui para sede do PSDB. Chegando lá, tínhamos os nomes escolhidos para vice.

Às 9 horas da manhã, Mauro me liga. Me disse que estava na porta do PSDB. Pedi para ele entrar e ele pediu para eu ir até o carro. Saí. Fui até o carro dele, sentei no banco de trás. Ele, então, me disse que não seria mais candidato. Perguntei a razão e ele citou a Virginia [Mendes] e toda essa palhaçada que nós conhecemos.  Eu disse que era um direito dele. Perguntei quem seria o candidato, citamos o Fabinho [deputado federal Fábio Garcia], mas ele não podia. Aí, Wilson Santos. O Mauro: “Ah, Wilson, não. Não vou ter capacidade de apoiar o Wilson. A Virginia não sei o quê…”.

Eu disse que não queria saber disso, que estava discutindo política. Temos um grupo de candidatos a vereadores que iria ficar com a brocha na mão. E eu tinha esperado ele até ali. Parte da resistência do PSDB de Cuiabá em relação a mim é isso. Porque eu fui leal e, para eles, errei.

Mas eu cumpri o meu papel. Eu cumpri a fatura [com Mauro Mendes]. Porque pactuamos que eu apoiaria a sua candidatura à reeleição, e ele a minha. O acordo foi feito, se ele não quis se candidatar o problema não é meu. Mas ele já "desmentiu" nosso pacto, dizendo que não houve. Eu acho que nós precisamos de candidato. Eu não escolho adversário, escolho os companheiros leais que querem ficar do meu lado.

 

MidiaNews – Havia a informação de que o Mauro, inclusive, teve muita simpatia pela candidatura de Emanuel Pinheiro.

Pedro Taques – Sim. Ele o ajudou, né?!

 

MidiaNews – Em função disso, fica difícil um entendimento?

Pedro Taques – Não. Dizem que em política não tem nada difícil.

 

MidiaNews – Vocês têm conversado?

Pedro Taques – Não. Nos últimos 30 dias, não.

 

MidiaNews – Também admite a possibilidade de não ter o apoio do ex-senador Jaime Campos, líder do DEM?

Pedro Taques – Eu confio no Jaime. Ele sempre foi leal a mim. Já demonstrou isso. E eu sempre fui leal a ele. Em 2016 não lancei nenhum candidato em Várzea Grande, para enfrentar a dona Lucimar [Campos]. Aliás, temos ajudado bastante Várzea Grande.

 

MidiaNews – Então, o senhor tem convicção de que ele continuará ao seu lado, apoiando sua reeleição?

Pedro Taques – Convicção, não. Eu confio no Jaime, mas não sei como vai ser a questão partidária lá. Isso é problema deles. Mas gostaria de contar com o DEM. É um partido importante. Sempre foi importante, independente da vinda de novos aliados.

 

MidiaNews – As críticas recorrentes, nas últimas semanas, feitas por ex-aliados, lhe afetam de alguma maneira?

Pedro Taques – Nem um pouco. Não tira meu sono. Durmo feito uma criança. Não fiz nada de errado. Tenho argumento para todos, só estou esperando a hora chegar. Cada um está magoado por uma razão e essa razão vai aparecer. 

 

MidiaNews – O senhor tem dado mostras de que um dos pilares da sua campanha à reeleição será a questão da corrupção, novamente. 

Pedro Taques – Esse é um foco. Mas o foco principal será a gestão. A entrega e o que fizemos. As pessoas dizem que eu errei. Mas não teve um jornalista para perguntar em que eu errei.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Eu confio no Jaime. Ele sempre foi leal a mim. Já demonstrou isso. E eu sempre fui leal a ele"

MidiaNews – Não acha que errou, por exemplo, ao manter as leis de carreira aprovadas na gestão do Silval Barbosa, consideradas como bomba-relógio para o o seu mandato? Ou o aumento dos duodécimos aos Poderes?

Pedro Taques – O deputado Adilton Sachetti disse, recentemente, que eu errei na condução. Perguntem a ele exatamente em qual ponto.

O Mauro disse que eu errei, porque não cortei o salário dos 40 mil professores. Mantive as leis do Silval. Mas ele não diz isso de forma aberta.

Outro diz que eu paguei a RGA [Revisão Geral Anual]. Tem leis. Eu fui obrigado a pagar. Tem uma decisão do STF, de 17 de dezembro de 2017, que diz que sou obrigado a pagar.

Onde mais errei? Em não mandar embora servidor público? Não posso mandar embora, tem estabilidade. Que não fiz a reforma tributária, mas ela parou, porque estava tendo a nacional? Dizem que errei porque repassei dinheiro a mais aos Poderes. Mas era um orçamento de ficção. Passava-se x aos Poderes. Nós passamos x+1, mas em um orçamento real.

O Silval e o Maggi passavam o x, mas o +1 ia em excesso de arrecadação. E, aí, você controla o Poder, para que votem de modo favorável, senão não libera o excesso. Isso é orçamento fictício. Eu criei o orçamento real.

MidiaNews – E não se arrepende, mesmo diante da dificuldade atual de pagamento?

Pedro Taques – Não. Nem um pouco.

 

MidiaNews – Mesmo com o desgaste gerado?

Pedro Taques – Administrar é ter desgaste. Tudo gera desgaste. Imagine: a pessoa que pede emprego para você, aí você não dá, já está desgastado.

 

MidiaNews – O senhor acredita que as críticas, então, são por acertos na gestão?

Pedro Taques – Aqui foram acertos. Você pode entender, ideologicamente, que nós não poderíamos dar esses salários aos professores. Mas tem que perguntar ao Pivetta e ao Mauro quais os pontos em que eu errei. Aí eles vão dizer: “Errou, porque deu 40% de aumento aos professores. Eu cortaria isso no primeiro dia". Por que eles não têm coragem de falar isso?

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Tenho argumento para todos, só estou esperando a hora chegar. Cada um está magoado por uma razão e essa razão vai aparecer"

MidiaNews – O  senhor acha que o discurso de combate à corrupção ainda terá impacto nessas eleições?

Pedro Taques – Isso eu não sei. É muito abstrato. Não sei. Mas eu combati e estamos trabalhando a comunicação para mostrar isso. Bem comunicado, chega à população.

 

MidiaNews – Mas neste momento…

Pedro Taques – Acho que ainda não tem. Mas terá, porque você recuperar o que foi desviado, é o que o cidadão quer. Não quer só a cadeia aos corruptos.

 

MidiaNews – Como o senhor vê a saída do ministro Blairo Maggi do processo eleitoral?

Pedro Taques – Eu acho que o Blairo é uma liderança muito forte. Espero que ele continue na política, mesmo sem mandato, para ajudar Mato Grosso e o Brasil. Esse é um ponto. Eu entendo a saída dele, porque viver da política não é fácil. É muito difícil.

A saída dele mexeu, sim, no tabuleiro, porque uma vaga ao Senado, em tese, era dele. Fortaleceria quem ele apoiaria, isso é fato. Mas, com a saída dele, cada time terá que se reinventar.

 

MidiaNews – O senhor espera, de alguma forma, contar com o apoio dele?

Taques – Ele disse que não apoiará ninguém.

 

MidiaNews – Como essa experiência de governar Mato Grosso mudou sua percepção de cidadão e político?

 Pedro Taques – O que mudou foi que eu passei a ser mais resiliente. Comecei a conversar mais. Mas o fato de eu conversar mais não muda o que eu sou. Eu sou o que sempre fui. As dificuldades da política, independente de quem seja você, existem.

Para você fazer um processo, demora. Para fazer uma obra pequena, demora. Eu fico de saco cheio disso. Eu sou muito ativo, mas demora demais. O Estado precisa resolver isso em um segundo momento.

Eu mudei, também, a minha vida pessoal. Não vou ter uma vida normal aí para a frente. Sempre serei governador ou ex-governador.

 

MidiaNews – Isso é bom ou ruim?

Pedro Taques – Não sei. Vou estar desempregado e vou procurar emprego…

 

MidiaNews – O senhor considera que está com o mesmo fôlego, agora, comparado ao primeiro ano de mandato?

Pedro Taques – Do mesmo jeito. Estou do mesmo jeito. E amadureci muito. Tem que amadurecer, as pessoas mudam. Algumas coisas que fiz no primeiro ou segundo ano que não faria mais…

 

MidiaNews – Por exemplo?

Pedro Taques – Ah, não… (balança a cabeça, sinalizando que não iria responder)

 

MidiaNews – O senhor está satisfeito com sua gestão? Considera-se um vencedor?

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Amadureci muito. Tem que amadurecer, as pessoas mudam. Algumas coisas que fiz no primeiro ou segundo ano que não faria mais"

Pedro Taques – Nossa senhora… É crise em cima de crise. Você consegue se superar e matar um leão por dia. É diferente administrar com a situação boa. Ver que tem R$ 1 bilhão guardado em caixa, pensar em alguma bondade, alguma obra. Aí, é fácil. Veja o Marconi Perillo, em Goiás: na semana passada, distribuiu um bônus para cada servidor público. R$ 500 para cada um. Mas ele está no quarto mandato. Já penou, já ajudou, já trabalhou. Agora, você pegar um Estado que tinha as dificuldades que Mato Grosso tinha e administrar com crise…

 

MidiaNews – O senhor pensou que seria mais fácil governar Mato Grosso?

Pedro Taques – Eu não tinha noção que seria tão difícil. Até porque não tínhamos todas as informações. Na transição, não tínhamos todas as informações. A transição não foi mal feita, foi feita com o que foi possível fazer.

 

MidiaNews – Sua autoavaliação como gestor é positiva?

Pedro Taques – Quem faz essa avaliação são aqueles que entendem que as ações tomadas foram corretas. Eu acho que foram corretas. Não voltaria atrás. O aumento de investimento na Segurança; a mudança na Educação depois que houve a crise da Operação Rêmora; o Luiz Soares na Saúde, mesmo com toda dificuldade; a Caravana da Transformação… Você vive de políticas públicas, dessas concretizações. Começa a dar resultado.

 

MidiaNews – Como o senhor percebe a avaliação das ruas?

Pedro Taques – Eu tenho intuição de rua. Eu não acredito em pesquisas, mas tenho intuição de rua. Está melhorando bastante. As pessoas te olham de uma forma e chegam de outra quando estão com raiva, magoadas. Você percebe. As coisas estão boas agora.

MidiaNews – Independente de se reeleger, ou não, o senhor continuará na política eleitoral?

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Eu não tinha noção que seria tão difícil. Até porque não tínhamos todas as informações"

Pedro Taques – Eu fiz 50 anos. Estou velho. Não vou viver mais do que já vivi. Tenho mais passado que futuro. Passei 25 anos da minha vida me preparando para ser servidor público.  Fui procurador do Estado e da República. Com 41 anos, fui senador, depois governador. Então, estou há 25 anos trabalhando. Às vezes, penso que esse tempo que ainda tenho de vida útil, mais uns 25 anos, eu poderia dedicar a mim.

 

MidiaNews – Mas o senhor acha que já é o momento de sair da política?

Pedro Taques – Eu trabalho com números fechados. Vou viver mais 30 anos? A qualidade de vida tem que ser melhor.

 

MidiaNews – Então sua vida na política estaria próxima do fim?

Pedro Taques – Eu estou fazendo reflexões sobre isso. Fazendo reflexões. Porque eu acho que já tenho dado minha contribuição. Cansa. Política cansa. Ser procurador da República cansa. Eu passo em frente ao Parque Mãe Bonifácia, depois das cinco da tarde, está todo mundo caminhando; às 7 horas, na Praça Popular, está todo mundo bebendo, com a namorada; vai ao cinema. Você acha que eu tenho tempo para fazer isso?

 

MidiaNews – E a vida pessoal?

Pedro Taques – Prejudicou e muito. Que mulher aguenta o cara que já tem duas malas preparadas em casa? É difícil.

 

MidiaNews – O senhor vê a política como missão?

Pedro Taques – Tenho que ver. Tenho que fazer o melhor.

 

MidiaNews – Há uma crítica quanto ao fato de o senhor ainda se comportar muito com um perfil de procurador da República do que de político.

Pedro Taques – Eu não vejo isso como xingamento ou defeito. Eu quero cumprir a Constituição aqui. E a Constituição fala que os processos têm que ser honestos, têm que ter legalidade, publicidade, não pode tratar os outros de forma desigual. E eu estou cumprindo isso.

Mas tem gente que não faz política dessa forma. Eu não traio a pessoa. Sou leal até o último dia. Tem defeitos na política que, fora dela, são qualidades. Eu não relativizo isso. Não sei relativizar. Chega prefeito aqui, não quero saber se é do MDB, se é do partido da Janaina Riva. Atendo do mesmo jeito.

Os meus companheiros me criticam, porque estou tratando todos iguais, que ele não irá me apoiar em uma eventual candidatura.  E aí? Aí, você perde espaço do seu lado. É assim que funciona. Tem gente que só pensa política assim. Eu não penso. Estou em uma fase que estou pensando, por exemplo: não disputo eleição, vou passar um ano sabático fora do Brasil. Vou fazer o caminho de Santiago (de Compostela).

 

MidiaNews – Para onde o senhor pensaria em ir em um eventual ano sabático?

Pedro Taques – Passar um tempo na Espanha e dar aula em Nova York. Estudar um pouco. Se perder a eleição, você terá um tempo para saber no que errou, porque o povo sempre está certo.

 

MidiaNews – Mas pensa nisso com frequência? Admite essa possibilidade de perder?

Pedro Taques – Penso que nós temos todas as condições de ser candidato. Todas as condições de ganharmos. Depende de nós. Não podemos errar. Porque temos muita manga para vender. Muita coisa. No programa eleitoral haverá tempo [de mostrar]. Quem está na reeleição, tem muita coisa para mostrar.

 

MidiaNews – E, no bom sentido, a máquina ajuda, né?

Pedro Taques – Sim. O homem mais rico do Estado é o Estado. Não tem Eraí, nem Maggi.

 

MidiaNews – O teto de gastos para eleição ficou em quase R$ 6 milhões, valor considerado baixo. O senhor terá dificuldade de arrecadar esse valor?

Pedro Taques – R$ 6 milhões? Nenhuma dificuldade.

 

MidiaNews – Já pensou em eventuais doadores?

Pedro Taques – Já.

 

MidiaNews – Tem muita gente se oferecendo?

Pedro Taques – Se tem gente querendo ser vice… E perceba que vice de um governador de primeiro mandato tem um valor. Já vice de um governador de segundo mandato, tem outro valor, porque ele provavelmente será governador por um período.

 

MidiaNews – Como o senhor analisa uma candidatura do senador Wellington Fagundes ao Governo?

Pedro Taques – Eu entendo que o Wellington tem que ser candidato. Ele está no meio do mandato e o sonho dele sempre foi ser Executivo. Tem que ser candidato.

Cada um tem que saber o seu tamanho e eleição é bom para isso. Às vezes, acha que é grande, mas é pequeno. O Wellington nunca ganhou uma eleição de Poder Executivo. É bom para gente debater. Eu quero saber o que o Wellington pensa de estradas, escolas.

Quero saber o que os candidatos pensam sobre a Saúde de Mato Grosso. Porque para ser governador, tem que conhecer de todos os temas. Eu estudei o Estado durante quatro anos. Se você me perguntar qualquer Município do Estado, eu cito, de cabeça, 10 obras que fizemos lá.

 

MidiaNews – O senhor acha que o Esquema dos Grampos pode prejudicar sua campanha? 

Pedro Taques – As pesquisas revelam que no caso do grampo, em mim, não chegou absolutamente nada. Não estou tirando a gravidade do fato, eu pedi para ser investigado, mas veja que o Paulo Taques foi preso duas vezes e, até agora, não tem denúncia contra ele. Ninguém sabe o que ele cometeu. Isso é um absurdo.

 

MidiaNews – As prisões foram abusivas?

Pedro Taques – Eu não analisei o processo para saber. Estou dizendo que alguma coisa tem aí. Como uma pessoa é presa, fica lá, e não tem uma denúncia?

 

MidiaNews – Como o senhor analisa o comentário, recorrente, de que o Silval roubava milhões e milhões o tempo todo, mas pagava salário em dia e não atrasava duodécimo de Poderes?

Pedro Taques – Vejo com tristeza. Isso é de pessoas que defendem o "rouba mas faz". Nós não roubamos e precisamos fazer. Mas temos o componente da crise. Você tem uma receita que cresce, mas os gastos pessoais crescem mais.

 

MidiaNews – Esses que foram pegos na corrupção, estão tendo o julgamento adequado, seja Silval ou outros ex-secretários e empresários?

Pedro Taques – Acredito que precisa ser repensado o instituto da delação. O cidadão é criminoso, rouba, depois devolve muito pouco e fica aí, de santo. Sou favorável à delação, mas não desta forma.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Entendo que o Wellington tem que ser candidato. Cada um tem que saber o seu tamanho e eleição é bom para isso. O Wellington nunca ganhou uma eleição de Poder Executivo"

MidiaNews – A pena não foi adequada?

Pedro Taques – A família vive com o fruto do crime, viajando, comprando bolsas caras, carros maravilhosos… E quem trabalha? E quem acorda cedo e é honesto? E ainda podem acusar qualquer um. Aí está errado. Tem que mudar isso.

A pena foi pouca. Tem que ficar mais tempo preso e devolver tudo. Senão devolver tudo, não tem delação. E se mentir uma vez, não tem delação.

 

MidiaNews – Qual área de sua gestão pode ser considerada destaque?

Pedro Taques – Não há uma área cuja percepção de melhora seja maior que na Segurança Pública. Isso é fato. As pesquisas revelam isso. E por que ocorreu essa melhora? Porque nós fizemos uma opção clara, de gestão. Sabemos que no momento de crise econômica, temos a rebarba da violência do meio para o final da crise. É o que está acontecendo no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Norte, nos Estados que não investiram em Segurança no momento correto.

E nós fizemos um maciço investimento na Segurança a partir de 2015 para que pudéssemos colher esses resultados agora. E eu fui criticado por tomar essa posição. Críticas de que estávamos chamando muita gente, que ia inchar a folha. Mas tenho certeza que o que fizemos foi o correto e estamos agora com índices que podemos nos orgulhar. Podem melhorar, mas estamos podemos nos orgulhar.

Se você investia R$ 127 mil em inteligência e passa a investir R$ 13 milhões, tem um ganho na perspectiva de solucionar crimes, de evitar que crimes ocorram. Aumentamos o efetivo da Polícia. São 15 mil homens e mulheres na Segurança. Destes 15 mil, chamamos 3.663 pessoas. Isso significa um impacto de 27%. Nenhum governador fez isso.

 

MidiaNews – Qual foi o impacto na folha?

Pedro Taques – São R$ 200 milhões por ano.

 

MidiaNews – Apertou, mas foi uma opção…

Pedro Taques – Uma opção consciente e para garantir a tranquilidade e paz do povo de Mato Grosso. Se não tivéssemos esses novos policiais, ouso dizer que Mato Grosso estaria pior que o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Norte. Não é terrorismo, é fato.

 

MidiaNews – A população tem a percepção dessa melhora?

Pedro Taques – Sim. Acho que Sim. Mas na Segurança você tem um fenômeno estranho. Se de repente alguém cai de cabeça e morre, a percepção muda na hora. Matam uma criança; marido mata mulher dentro de casa; não tem como o Estado impedir esse tipo de morte. Aí, cria-se uma comoção. É próprio da Segurança. Mas tenho noção de que a Segurança na nossa administração melhorou muito. De zero a 10, se eu pudesse fazer essa avaliação, a Segurança teria até 8,5.

 

MidiaNews – Qual será a dinâmica desta reta final de Governo?

Pedro Taques – Nós temos entregas em todas as áreas, todos os dias, até 30 de dezembro. E todas são significativas. Eu acho significativo as duas saídas para Chapada dos Guimarães, mas também acho significativo um resfriador de leito para alguém que está esperando há 20 anos. Títulos de terra, título de regularização urbana. Depende do caso.

Em termos de obras físicas em Cuiabá, tem o novo Pronto-Socorro. São 258 leitos, mais 40 de UTI e de retaguarda. Eu me comprometi com isso aqui. O Mauro Mendes, na campanha dele, se comprometeu. Ficou dois anos e não fez, porque o Silval Barbosa não ajudou. E eu assumi e em junho, no primeiro ano de meu mandato, começamos. Estou terminando o hospital.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Pedro Taques 21-03-2018

"Acho significativo as duas saídas para Chapada dos Guimarães, mas também acho significativo um resfriador de leito para alguém que está esperando há 20 anos"

MidiaNews – Há críticas de que o senhor não divide a autoria da obra com a Prefeitura.

Pedro Taques – Não. Toda vez eu falo. São R$ 50 milhões do Governo e R$ 27 milhões da Prefeitura de Cuiabá. Mas, mais de 50% é do Estado.

Se não tivesse o empenho do Estado, não teríamos esse hospital. Nós não precisamos da Prefeitura para fazer esse hospital. Inclusive, na mudança de Mauro para Emanuel Pinheiro, disse que tocaria o hospital sozinho. Mas Mauro e Emanuel não aceitaram.

 

MidiaNews – Quando será entregue essa obra?

Pedro Taques – Ainda neste semestre. Esse hospital vai ajudar a resolver o problema do Interior também, porque lá não temos capacidade hospitalar. Até 45% das pessoas do interior vêm para ser atendido nesse hospital.

Nós estamos fazendo um balanço sobre o que está em meu programa eleitoral, registrado no TRE [Tribunal Regional Eleitoral] e o que foi feito. Temos uma planilha disso. Segundo a Globo, sou o quarto governador que mais cumpriu. Primeiro é o governador do Maranhão, Flávio Dino. Acho que passou de 60% e chegando ao final deste ano, devo chegar entre o terceiro e o segundo.

Estou tranquilo em relação a isso. A saúde, que é maior gargalo. Temos problema de pagamento, estamos fazendo um cronograma. O atendimento tem melhorado. O que falta é dinheiro, daí os atrasos, com razão.

 

MidiaNews – Como está o comportamento do caixa do Estado?

Pedro Taques – A receita tem aumentado. Estamos cortando gastos. Essa questão de crises dos municípios, tem dois meses que não tem mais isso. A mesma coisa com os Poderes. Com relação aos servidores públicos, conseguimos pagar em dia. O que estamos com dificuldade são os fornecedores.

 

MidiaNews – Há informações de que o Governo pode fechar este ano devendo R$ 3 bilhões.

Pedro Taques – Passa longe. Isso é fofoca. Hoje, creio que são uns R$ 800 milhões. 

 

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