Só quero o corpo do meu filho aqui, diz mãe de brasileiro morto na China

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Foto: arquivo pessoal
CAMARA VG

Fonte: Portal UOL

Eu gostaria que dissessem para mim: dona Rosane, não se preocupe, seu filho irá voltar, vai custar tantos reais, e ele (o corpo) estará tal dia aqui no Brasil. Só isso que eu quero agora, apenas isso. Nada mais vai trazer a vida do meu filho, mas eu quero ao menos vê-lo pela última vez.

Chorando, a mãe do estudante brasileiro Leonardo Cláudio da Rosa, de 23 anos, encontrado morto nesse final de semana na China, desabafou e mostrou a angústia após a perda do filho.

Em entrevista ao UOL na noite de ontem, Rosane de Souza, 50, mostra inconformismo com as dúvidas que cercam o traslado do corpo do jovem. "A gente não sabe dessa informação. A embaixada brasileira em Pequim não nos informa. Gostaria de saber se teremos alguma ajuda ou se temos que pagar por algo. O traslado tem que ocorrer, mas ninguém sabe dizer quando será. Eu nunca passei por isso, não sei como funciona um traslado, quanto custa", disse. Rosane mora com o marido e uma filha de 20 anos, irmã mais nova de Leonardo, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Ela diz que o estudante tinha seguro saúde, que teria sido feito pela Universidade de Comunicações da China (CUC), onde o brasileiro fazia intercâmbio em um curso de mandarim, mas ela não sabe se a apólice cobre os custos do traslado. "Ninguém sabe me dizer, não tenho ideia disso", lamentou.

Ela também não sabe o que teria causado a morte do filho. Segundo ela, a polícia chinesa teria informado a embaixada do Brasil em Pequim que Leonardo havia caído de um prédio, sem dar maiores detalhes. Oficialmente, a embaixada não divulgou a causa da morte e o Itamaraty alega que só dará informações após liberação da família. Rosane, porém, descarta a possibilidade de suicídio.

"Recebi apenas um telefonema vindo do Itamaraty dizendo: teu filho caiu de um prédio, quebrou o pescoço e faleceu. Apenas sei que ele morreu na cidade de Chongqing onde havia ido passar as férias da faculdade. Desde então choro todos os dias e fico tentando entender isso, tentando me acalmar. Eu só quero o corpo do meu filho aqui", explicou.

A mãe lembra que Leonardo relatara na semana passada que o visto de estudante em território chinês havia sido renovado por mais um ano e fazia planos de levar a família para conhecer o país. "O Léo estava muito animado e dizia: 'Mãe, eu estou dando aulas de inglês, está rendendo um bom dinheiro para mim e vou te trazer para a China junto com minha irmã'", relatou Rosane, que disse que o filho era fluente em inglês, espanhol, francês e mandarim.

Antes de viajar para o intercâmbio, Leonardo ministrava aulas de redação no Trans Enem de Porto Alegre que é um grupo coletivo em prol da educação popular voltada ao público LGBT. A entidade oferece um preparativo para travestis e transgêneros para prestar vestibular, seja em universidades públicas ou privadas. Em contato com a reportagem, um dos representantes do Trans Enem disse que Leonardo trabalhou na instituição entre 2017 e 2018.

"Leonardo era muito querido e participativo, mas precisou se afastar do trabalho para poder fazer o intercâmbio. É um momento de muita tristeza para todos nós enquanto coletivo. Léo foi uma pessoa sensível e cativante, com uma empatia que, caso todos tivessem, não haveria problemas com violência no mundo. Inclusive, o Léo literalmente nos ensinou sobre comunicação não violenta", comentou o integrante do grupo LGBT que preferiu não se identificar.

A reportagem tentou contato com a Universidade de Comunicações da China, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.

Nascido em Caxias do Sul, Leonardo estava na China desde julho de 2018 e voltaria para o Brasil no segundo semestre deste ano. Ele estudava na UFRGS desde 2015 e, em julho de 2018, ele postou no Facebook que havia sido premiado com a bolsa no intercâmbio, dizendo ser motivo de felicidade e pedindo apoio aos amigos para financiar os estudos.

Na época, antes do embarque, o jovem estudante fez uma rifa para levantar mais dinheiro para cobrir outras despesas que a bolsa de estudos não cobriria, entre elas custos como a expedição do visto emitido pela embaixada chinesa no valor de R$ 730, gastos com alimentação, exames médicos e alojamento no primeiro mês. A intenção de Leonardo era também fazer um brechó e um sebo para angariar fundos para a tão sonhada viagem.

Além de Leonardo, outros quatro estudantes do Instituto Confúcio na UFRGS receberam a bolsa para o curso de mandarim na Universidade de Comunicações da China. Eles chegaram ao país em julho de 2018. A bolsa é oferecida pela CUC e pela Hanban, fundação vinculada ao Ministério da Educação da China, e seu período de duração varia de seis meses a quatro anos.

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