Segundo ele, em uma ocasião, foi acionado para atender uma ocorrência de homicídio em uma comunidade em Chapada dos Guimarães (a 64 quilômetros de Cuiabá), mas quando chegou ao local, o ‘morto’ na verdade estava vivo e balançando em uma rede.
“Chegamos ao local para o qual fomos acionados e havia um indivíduo balançando em uma rede, então resolvemos perguntar para ele se sabia onde era a ocorrência de homicídio ali na região. Ele começou a dar risada e falar que ninguém matou ele não”, lembra.
“Ele só chegou muito bêbado de uma festa de santo e ao entrar na varanda de sua casa, tropeçou, caiu, bateu a cabeça, e por fim acabou dormindo por ali mesmo, no chão da varanda com a cabeça escorrendo sangue. Chegou até a apontar onde havia o sangue já seco e coagulado. Os vizinhos quando passaram, viram a cena e acionaram a polícia, achando que alguém havia o matado. Foi então que fomos acionados também”, conta o perito.
Daniel pondera também que a profissão tem o ‘outro lado da moeda’, pois os profissionais atendem locais de crime e acabam sendo expostos a situações de risco como aconteceu no bairro Pedregal, em Cuiabá, quando atuava no homicídio de Enatel dos Santos Albernaz, 37 anos, conhecido como “Maninho”, morto em novembro de 2015.
“Uma vez eu estava atendendo uma ocorrência no Pedregal, os indivíduos que perpetraram o crime, retornaram ao local do fato e colocaram a arma na minha cabeça durante a realização dos exames”, afirma.
Situação semelhante teria acontecido com uma colega de trabalho. “Outra vez, uma colega teve uma arma apontada para a sua cabeça por um bandido que queria roubar sua máquina fotográfica, durante a realização dos exames periciais”.
Cenas surpreendem e chocam
No começo da profissão, Daniel conta que sentiu algumas dificuldades. “Principalmente nas cenas de crime envolvendo mortes violentas, as quais são cenas que muitas vezes nos surpreendem e chocam ao mesmo tempo, afinal como que um ser humano é capaz de fazer aquilo com outro ser humano?”, questiona.
“E sendo sincero, existem alguns locais que eu atendo que eu sinto dificuldade até hoje, afinal nenhuma cena de crime é igual a outra ou até mesmo trivial. São muitos elementos que devem ser levantados e conectados, muitas perguntas a serem respondidas e grande parte delas, cabe ao perito responder, pois tem a ver com a materialidade do fato. Claro que com a experiência criam-se protocolos internos que garantem o levantamento bem detalhado da cena de crime, mesmo com as dificuldades”, explica.
Um dos casos em que o trabalho pericial foi primordial ocorreu em maio deste ano, no bairro Nova Conquista, em Cuiabá, na busca pelos corpos de Talissa Oliveira Ormond, de 22 anos e Benildes Batista de Almeida, de 39 anos, ambas desaparecidas desde o ano de 2013. Elas foram mortas e enterradas no quintal da residência por Adilson Pinto Da Fonseca, de 48 anos, que mantinha relacionamento com as duas vítimas.
Foram dois dias de escavações dos servidores do Gape para localizar os restos mortais das vítimas. Uma das ossadas foi localizada a mais de um metro de profundidade perto da calçada, na lateral da casa.
“A Perícia é um constante aprendizado e a para enfrentar cada uma das dificuldades que encontro no meu dia a dia, a cada nova ocorrência que atendo, primeiro eu faço o levantamento da forma mais completa e detalhada possível, com muitas fotos, muitas anotações, com busca minuciosas por vestígios, tudo com muita calma e zelo, para que não fique nada para trás, da forma que meus mentores me ensinaram e que os estudos aprimoraram, enfim tudo que a sociedade espera que o servidor público que está ali para a servir, faça por ela, aquilo que eu gostaria que fosse feito para mim, caso eu necessite desse tipo de serviço algum dia na minha vida”.