Aberto há duas semanas, comércio ainda vê movimento tímido e tem que se adaptar à nova realidade

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Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto
ALMT TRANSPARENCIA

Fonte: Olhar direto

O comércio reabriu as portas em Cuiabá no último dia 27 de abril, mas, duas semanas depois, o movimento ainda é tímido. Para os lojistas, a explicação está no medo da população de se expor, além, é claro, da falta de dinheiro. Junto à queda no faturamento, vem também a necessidade de se adaptar à nova realidade e lidar com a desesperança para os próximos meses.

O baiano Adão Carvalho Pires, que já vive em Cuiabá desde 1979 e passou 13 anos como camelô antes de conseguir comprar seu próprio ponto e abrir a ‘Pantanal Bolsas’ teve que repensar sua forma de trabalho. Antes da pandemia, ele ia pessoalmente a São Paulo buscar as mercadorias. Agora, já pensa em fazer as compras online, porque não tem coragem de ir ao epicentro do coronavírus no Brasil.

“Estou sem comprar ainda, porque dá medo de viajar, e São Paulo está fechado também, não tem como ir buscar. A última vez que eu fui foi em janeiro. Ainda tem estoque, mas já está faltando algumas coisas”, contou ao Olhar Direto. Sua loja vende bolsas, mochilas, malas, carteiras, sombrinhas e bonés no centro de Cuiabá. Até janeiro, ele viajava pessoalmente para escolher a mercadoria, que vinha com a transportadora.

“Eu estou achando que vou voltar a comprar somente pela internet, pedir para mandar foto pra mim, e pedir por telefone, porque não dá pra encarar”, afirma. “Tem diferença…. você pede uma mercadoria, eles mandam outra, mas tem que se adaptar. Além de comprar menos… eu estava com estoque até bom quando fechou, mas vamos se virando com o que tem”.

Segundo o comerciante, o volume de vendas caiu 50% depois da reabertura. Como tinha alguma reserva, ele conseguiu manter a empresa, que não tem funcionários além da família (esposa e filho), mas a perspectiva não é boa. “Eu não tenho esperança não. Daqui pro ano que vem, se eu fizer pra manter o que tem, não precisar desfazer do que já tem, já está bom demais”, afirma.

Outro comerciante que amargou uma queda nas vendas foi Fernando Pencarinha, do ‘Mercadão dos Óculos’. Ele, que antes era representante comercial e investiu na própria loja há apenas sete meses, também teme pelo futuro. Até agora, encarou 30% a menos de clientes desde a reabertura, e ainda teve que lidar com clientes que não quiseram seguir as recomendações de precaução para a saúde.

“Se for pelo lado emocional, eu espero muito que melhore, mas pelo lado racional eu ainda tenho minhas dúvidas, porque eu vejo as pessoas se cuidando muito pouco. Elas acham que, se colocou a máscara, estão isentas de tudo… e às vezes a gente força pra passar o álcool. Temos tido os cuidados aqui, mas eu percebo que não é em todos os lugares, e as pessoas parece que não sentem que é tão grave”, lamenta. “Tivemos um cliente que entrou sem a máscara, nós pedimos que colocasse e ele foi extremamente grosseiro e foi embora”, lembra.

Fernando (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

A utlização de máscaras em estabelecimentos comerciais é obrigatória em todo Mato Grosso, passível de multa de R$80 por pessoa que estiver sem o acessório dentro das lojas (a multa vai para o comerciante).

Com dois funcionários, Fernando teve que adquirir um financiamento do Santander para pagar os salários em dia. Agora que reabriu, ele encara o desafio da redução de horário, o que achou ruim: “Eu percebo que as pessoas ainda não sabem do horário que o decreto exige. Elas vêm muito cedo e ficam esperando abrir, então precisa de um trabalho mais eficaz em relação a isso”, afirma. “Se a ideia é não aglomerar [não dá certo, porque] chega 10h, quando abre, e tem 4, 5 clientes aqui dentro. Ou está esperando há mais tempo, ou sabe que abre 10h e vem todos nesse horário”.

Proprietário da ‘Sebo & Cia’ há 22 anos, Sansão Ferreira Bastos, 64, discorda. Para ele, a redução do horário é boa por diminuir o tempo em que o comerciante fica exposto ao risco. Além disso, afirma que as vendas melhoraram depois da reabertura – apesar de, no geral, estar ruim.

Sansão (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

“Eu até achei um pouquinho melhor. Não sei se é porque o pessoal estava muito tempo sem sair, sem gastar, ou até com medo de fechar de novo”, afirmou. “[Mas] começou uma escadinha de 2014 e veio caindo aos poucos. Esse último ano aqui, pelo menos pra mim, foi muito ruim, péssimo. Quem está se mantendo é produtos alimentícios”, finaliza.

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