Fonte: Olhar Direto
O bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga foi enterrado na manhã desta quarta-feira (12) em um Cemitério Carajá, à beira do rio Araguaia. Em cima de seu túmulo, foi colocada uma bandeira do Movimento Sem Terra (MST). O religioso faleceu no interior de São Paulo na manhã do último sábado (8).
A vontade de ser enterrado à beira do rio foi registrada por Dom Pedro em seus poemas. Dois deles foram divulgados pelo Coletivo Caiçara Dom Sebastião, no Facebook:
“Escutem com ouvidos atentos. Vou falar algo muito sério. É aqui que eu quero ser enterrado.”
Para descansar / eu quero só esta cruz de pau / como chuva e sol; / estes sete palmos e a Ressurreição! (Poema “Cemitério do Sertão”, de Dom Pedro Casaldaliga):
TESTAMENTO
Enterrem-me no rio,
Perto de uma garça branca.
O resto já será meu.
E aquela correnteza franca
Que eu, passando, pedia,
Será pátria recuperada.
O êxito do fracasso.
A graça da chegada.
A sombra-em-cruz da vida
Sob este sol de verdade
Tem a exata medida
Da paz de um homem morto…
E o tempo é eternidade
E toda a rota é porto!
(Pedro Casaldáliga)
O local do sepultamento de Dom Pedro é uma área onde eram sepultados indígenas e trabalhadores sem terra que foram explorados e assassinados por grileiros da região. Em um vídeo do sepultamento, é possível ver as pessoas cantando o Salmo 23, “Felizes os de coração puro porque verão a deus”
Dom Pedro internado em um hospital por conta de um problema respiratório que se agravou nos últimos dias. De acordo com informações da Igreja Matriz da cidade, o último exame feito no líder religioso indicava que ele não estava infectado com a Covid-19.
O velório aconteceu em três locais: Batatais (SP), Ribeirão Cascalheira e São Felix do Araguaia (ambos em Mato Grosso).
Casaldáliga é conhecido mundialmente por conta de suas batalhas e defesas em prol dos menos favorecidos. Na região do Araguaia ele tem um trabalho prestado a favor de indígenas, quilombolas e sem terras. Na Pastoral da Terra, ele tem trabalho prestado e reconhecido até pelo Vaticano.
Recentemente, ele assinou uma carta contra o presidente Jair Bolsonaro, citando que o Governo Federal se omite pelos mais pobres. Além de Dom Pedro, outros dois bispos também assinaram a carta e enviaram ao chefe da nação.