A delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto, titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, disse que a pandemia do novo coronavírus piorou a situação da violência doméstica. Apesar do número de registros de casos ter diminuído, o número de feminicídios aumentou, o que mostra que a violência ocorria, mas alguns casos só chegavam às autoridades no último estágio, quando ocorria a morte da mulher.
Segundo a delegada, desde o mês de março de 2020, quando iniciaram as primeiras medidas de combate à Covid-19, o número de registros de violência doméstica em Cuiabá caiu. A Delegacia da Mulher nunca ficou fechada, no entanto, por causa das medidas restritivas a procura foi menor.
Outro motivo também foi o cárcere privado. Com o agressor passando mais tempo em casa com a vítima, existiram situações em que a mulher foi impedida de sair de casa. Também havia a possibilidade de registro online, mas a delegada Jozirlethe explicou que muitas das vítimas vivem em situação de maior vulnerabilidade social, com menos acesso à informação e tecnologia. Apesar de queda nos registros, a violência não diminuiu.
“Na verdade, nós tivemos uma diminuição de denúncias, de boletins de ocorrência registrados, mas gradativamente tivemos um aumento no número de morte de mulheres. E isso significa, para nós que trabalhamos com enfrentamento à violência, que na realidade isso estava acontecendo dentro dos lares, e esse ciclo de violência chegava até o último grau que é o feminicídio”.
De acordo com a delegada, Cuiabá já estava há dois anos sem registro de casos de feminicídios e após o início da pandemia, logo nos primeiros meses mortes começaram a ser registradas.
As denúncias que ocorreram foram principalmente feitas por mulheres de classes mais pobres. A delegada explicou que a questão da violência doméstica é diferente dos outros crimes, pois a vítima precisa de um acolhimento e de uma rede de amparo, e para mulheres em maior vulnerabilidade social o amparo do Estado é a única opção.
“Hoje a violência doméstica está em todas as classes sociais. Existem pessoas que tem outros meios, mas as mulheres em maior vulnerabilidade social necessitam mais das políticas públicas […] muitas delas não têm opção, não tem emprego, então elas precisam destas políticas públicas. A atração que a delegacia exerce muitas vezes não é nem a questão da condenação do agressor, é que a mulher precisa de ajuda para retomar a vida dela sozinha”.