Estudo realizado pela Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, do Governo Federal, apontou que Cuiabá e outras 39 cidades de Mato Grosso correm risco de sofrerem desastres naturais, como o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul, onde mais de 2,3 milhões pessoas foram afetadas pelas enchentes, e cerca de 161 mortes confirmadas. A falta de políticas públicas ativas dentro do planejamento urbano da capital mato-grossense é um dos motivos que colocam a cidade em alerta para desastres climáticos. No entanto, calamidades nas mesmas proporções do que houve no RS são improváveis, por conta das características geológicas e topográficas.
O estudo diz que Cuiabá está suscetível a deslizamentos, enxurradas e inundações. O indicativo faz lembrar que, em 1974, a capital sofreu uma enchente histórica que deixou 5 mil pessoas desabrigadas, momento no qual o Rio Cuiabá atingiu a altura de 10,87 metros.
No dia 04 de abril, foi entregue para a Câmara Municipal o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Cuiabá, o documento é recheado de diretrizes que guiam o planejamento da cidade, mas possui poucas ações efetivas para esse desenvolvimento.
Em entrevista ao Olhar Direto, o diretor de planejamento urbano da prefeitura, Lauro Boa Sorte Carneiro, reconhece que o Plano Diretor está mais “enxuto” do que se esperaria de uma capital de estado.
“O plano diretor não é uma lei que estabelece projetos, ela estabelece parâmetros. Cuiabá por muitos anos teve uma defasagem de planejamento urbano porque os últimos gestores não tinham interesse em investir nessa área. Se você não pesquisa, não planeja, você não tem propostas. Estamos a dois, três passos atrás, por isso nosso objetivo é ser direto no que se refere aos encaminhamentos de o que fazer”, esclarece Boa Sorte.
Além do atraso no planejamento, Cuiabá acaba aderindo à padrões de urbanização que não se encaixam nas necessidades climáticas e geográficas da cidade, é o que diz o diretor. “Cuiabá não tem que seguir os mesmos indicativos de urbanização do São Paulo, por exemplo. Tem que ter o próprio de Cuiabá. É por esse motivo que hoje nós sofremos com calor, aqui nós precisamos de padrões mais maleáveis, com mais espaçamento entre as edificações e arborização”.
Quando questionado se Cuiabá poderia sofrer com as mesmas enchentes que Porto Alegre no RS, Boa Sorte tranquiliza e afirma ser improvável, mas não impossível. Ele explica que devido as características geológicas e topográficas da capital, ainda que tenham vales como a Prainha que inunda quando chove, existem muitos canais naturais de escoamento que conseguem drenar a água rapidamente.
Apesar de poucos projetos em andamento, como a intervenção no Rio Coxipó e o Córrego do Moinho que só apresenta orientações e não um plano de ação, Lauro Boa Sorte acredita que não é tarde para mudar o rumo do planejamento urbano da capital.
“Não seria algo impossível mudar os padrões de urbanização, porque a Cuiabá é pequena, é uma cidade com pouca população e nós conseguiríamos em médio prazo transformar a cidade. Mas tudo depende de investimento de pesquisa, de planejamento, de ações, e que sejam concatenadas, não pode ser ações dispersas”.
Ele ainda reforça qual seria o propósito do Plano Diretor. “O que tem de objetivo no Plano Diretor? Resgatar o planejamento, resgatar a pesquisa, esse é o nosso foco”, finaliza Lauro Boa Sorte.