Animais do Pantanal enfrentam “fome cinzenta” em meio à seca extrema e incêndios florestais
O Pantanal mato-grossense, um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta, está enfrentando uma crise sem precedentes. A seca extrema, combinada com incêndios florestais devastadores, está levando animais ao desespero, à medida que a “fome cinzenta” se espalha pela região. Essa condição, causada pelo desequilíbrio na cadeia alimentar e pela escassez de água, está forçando os animais a se arriscarem em busca de alimentos e água.
Imagens chocantes de animais famintos e sedentos, compartilhadas nas redes sociais por pessoas que estão acompanhando os incêndios no Pantanal, mostram a gravidade da situação. Os registros revelam cenas angustiantes, como a de um veado-mateiro que, na última terça-feira (03), foi flagrado pelo fotógrafo Erisvaldo Almeida arriscando-se ao lado de um jacaré para beber água nas margens do Rio Pixaim, em Poconé, a 104 km de Cuiabá. A margem do rio, que agora se transformou em um poço de lama, é um triste reflexo da seca que assola a região, onde muitas partes do rio já estão completamente secas.
De acordo com o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad), uma recente operação de busca ativa encontrou mais de 50 serpentes mortas, juntamente com outros animais, em um trecho de apenas 800 metros. O grupo, que continua atuando intensamente no Pantanal, descreveu a situação como “uma tragédia silenciosa” que afeta principalmente os “animais invisíveis” — espécies que raramente são vistas, mas que desempenham papéis cruciais no equilíbrio do ecossistema.
Para mitigar a crise, a equipe do Grad está distribuindo alimentos e estabelecendo pontos de alimentação em regiões gravemente afetadas do bioma.
O estado de Mato Grosso, epicentro dessa tragédia ambiental, lidera o ranking nacional de focos de incêndio em 2024, com 30.189 registros até esta quinta-feira (05), conforme dados do Programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Apenas no mês de agosto, foram contabilizados 14.617 focos de incêndio, superando o total registrado entre janeiro e julho, que foi de 11.270 focos.
A situação no Pantanal continua a se deteriorar, e a comunidade científica e ambientalista alerta para a necessidade urgente de medidas de proteção e preservação para evitar danos irreversíveis a este patrimônio natural.