O assassinato de Solange Aparecida Sobrinho, cujo corpo foi encontrado seminua e com sinais de estrangulamento em uma área desativada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, provocou uma onda de indignação e medo entre os estudantes da instituição. Para muitos, o crime foi mais um reflexo do abandono em relação à segurança no campus.
A estudante de Jornalismo Nathaly Cristina, moradora da Casa dos Estudantes Universitários (CEU) — que fica próxima ao local onde a vítima foi encontrada — relatou que o sentimento de insegurança não é novo. “Foi um choque, mas não uma surpresa. A gente já esperava que, diante de tantos descasos, isso poderia acontecer a qualquer momento. Não me surpreende, mas me deixa ainda mais aflita”, afirmou.
Segundo Nathaly, os agentes de segurança do campus têm atuação restrita, o que agrava a vulnerabilidade dos alunos. “Eles dizem que estão ali para proteger prédios, câmeras e computadores, mas não a gente, que está no meio disso tudo”, criticou.
Ela também apontou falhas estruturais, como portões que fecham antes do horário adequado e obrigam os estudantes a fazerem longos trajetos no escuro ou a utilizarem passagens improvisadas. “Já precisei entrar por um buraco porque o portão estava fechado e era tarde. Eu estava do lado da minha casa e não fazia sentido dar uma volta imensa no escuro”, contou.
A universitária ainda mencionou a falta de iluminação em diversas áreas do campus e a presença constante de pessoas em situação de vulnerabilidade. “À noite, essa parte do campus é um breu. Já vi usuários de drogas aqui durante o dia, e à noite o risco é ainda maior. A nova reitoria tem feito melhorias na iluminação, mas ainda está longe de ser suficiente”, disse.
Apesar de reconhecer iniciativas como o projeto de cercamento da CEU, Nathaly acredita que a solução passa por escuta e ações efetivas voltadas para os estudantes. “Cercar pode até ajudar, mas não adianta cercar um espaço se a gente não é ouvido. Precisamos ser vistos como pessoas em risco, não como invisíveis”, afirmou.
Questionada sobre o que espera da administração da UFMT, ela foi enfática. “Segurança é mais do que patrulha. É escuta, é diálogo, é mudança coletiva. A gente precisa ser ouvido de verdade e ver ações concretas. Isso afeta nosso desempenho, nossa saúde mental. A cada dia ficamos mais tensas, mais preocupadas. E, infelizmente, o medo virou rotina aqui dentro.”
A Polícia Civil investiga o caso como homicídio com possível violência sexual. A perícia confirmou que Solange morreu por asfixia, causada por constrição cervical — uma forma de estrangulamento provocada por força externa.
FONTE – RESUMO