Olhar Direto
Um dos pontos mais intrigantes da colaboração de Silval Barbosa (PMDB) é o fato de o ex-governador ter delatado, entre centenas de pessoas, políticos com mandato ainda em curso. Somente na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, dos 24 deputados em atuação, 15 são acusados de terem envolvimento em algum dos esquemas revelados no acordo, que em mais de 2 mil páginas descreve a trama que assolou os cofres do Estado.
A delação de Silval Barbosa foi homologada no dia 09 de agosto, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux. Entre pagamento de “mensalinho” a deputados, compra de Mesa Diretora e outras dezenas de esquemas ilegais, Silval movimentou uma quantia vultuosa que ultrapassa a casa dos bilhões.
O Olhar Direto fez um apanhado de tudo o que foi divulgado até agora sobre a participação de cada deputado estadual e explica qual o envolvimento de cada um, segundo Silval Barbosa, em um dos maiores escândalos de corrupção do País.
Adalto de Freitas, “Daltinho”
De acordo com Silval Barbosa, o deputado Adalto de Freitas (SD), o “Daltinho”, foi responsável por gravar algumas das reuniões, em 2012 ou 2013, em que os deputados discutiam “como eles iriam conseguir mais vantagens indevidas do Governo”.
“Tal reunião foi gravada pelo deputado Adalto de Freitas, vulgo Daltinho, que passou a chantagear os deputados estaduais da época, usando tal gravação para manter-se no mandato, pois ele era suplente na época”, afirmou Silval.
Baiano Filho
O deputado Baiano Filho (PSDB) foi um dos parlamentares que protagonizou os vídeos entregues por Silval Barbosa, como parte das provas do que foi delatado. Nas imagens, embora não apareça com dinheiro em mãos, o deputado reclama por não receber o pagamento de R$ 1,8 milhão, que segundo ele teria sido prometido pelo “presidente”.
“O presidente prometeu. Que tinha arrumado R$ 1,8 milhão. Dou conta não, cara. Eu preciso!”, diz o deputado ao então chefe de gabinete de Silval, Silvio Corrêa, que responde: “Eu sei, mas não tem como”. “Mas ele falou lá ontem, pô. Esse povo não, não cumpre com o que fala?”, questiona Baiano Filho.
Dilmar Dal’Bosco
O nome do deputado Dilmar Dal’Bosco (DEM) aparece na lista de “controle de pagamento da propina”, anexada à delação de Silval, que mostra como o ex-governador se organizava para pagar o “mensalinho” aos deputados estaduais durante a gestão 2010-2014.
Além disso, segundo Silval, Dilmar teria participado de uma reunião com outros deputados, na qual cobraram participação nas obras da Copa do Mundo de 2014, caso contrário não “passariam as contas e criariam dificuldades na aprovação das leis”.
Eduardo Botelho
O presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), aparece na delação do irmão de Silval, Antonio Barbosa, que revelou um esquema entre o ex-deputado federal Pedro Henry e o ex-governador em um contrato firmado com o Detran de Mato Grosso.
Botelho e o deputado Mauro Savi (PSB) estariam entre os beneficiados do referido esquema, que chegou a movimentar cerca de R$ 100 mil mensais por meio da empresa FDL, que prestava serviços de gravames de veículos ao Detran.
Gilmar Fabris
Gilmar Fabris (PSD), segundo Silval, também é um dos deputados que teria cobrado propina em troca de apoio à sua gestão. O parlamentar aparece em um dos vídeos entregues pelo ex-governador à Procuradoria-Geral da República questionando o valor da suposta propina.
Nas imagens, ele argumenta com Silvio Cezar Corrêa, que era responsável pelo pagamento de propina e outras vantagens indevidas a políticos, sobre os R$ 100 mil que seriam pagos a ele.
Guilherme Maluf
O deputado Guilherme Maluf (PSDB) foi acusado por Silval Barbosa de receber dinheiro através do esquema corrupto para comprar votos quando se elegeu presidente da Mesa Diretora da AL-MT, em 2015, de receber R$ 4 milhões em propina do MT Saúde para intermediar pagamentos aos hospitais privados e de exigir R$ 1 milhão em cartas de créditos para fazer ‘corpo mole’, em 2010, na campanha de Wilson Santos (PSDB), então candidato tucano ao governo de Mato Grosso.
O deputado também aparece em outro trecho da delação, quando Silval revelou a existência do pagamento de um “mensalinho” para garantir apoio à sua gestão no Governo do Estado.
José Domingos Fraga
O deputado José Domingos Fraga (PSD) aparece em um dos vídeos entregues por Silval, contando dinheiro e colocando as notas em uma caixa de papelão. Nas imagens, Zé Domingos discute com o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) a forma mais eficiente de guardar propina. Eles chegam a pensar na hipótese de esconder os bolos de dinheiro na meia.
Mauro Savi
Além de ter supostamente recebido o “mensalinho” revelado por Silval Barbosa, Mauro Savi (PSB) também teria, segundo o ex-governador, articulado ao lado de José Riva e do deputado Romoaldo Júnior (PMDB) a compra de deputados para garantir a formação da mesa diretora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso em 2002 e em 2014.
Ondanir Bortolini, “Nininho”
O deputado estadual Ondanir Bortolini (PSD), o “Nininho”, pagou R$ 7 milhões a título de propina durante concessão da rodovia estadual MT-130, conforme a delação de Silval Barbosa. A negociação ilegal aconteceu em 2011, quando Nininho e o empresário Eloi Bruneta foram o procurar para viabilizar contrato de concessão e instalação de pedágio na MT-130 com a sociedade empresarial Morro da Mesa Concessionária.
Oscar Bezerra
O deputado estadual Oscar Bezerra (PSB) foi acusado de cobrar R$ 15 milhões em propina para não responsabilizar o peemedebista pelos problemas descobertos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Obras da Copa.
De acordo com a delação, em 2015, quando a CPI presidida por Oscar foi criada, o ex-prefeito de Nobres, Devair Valim, procurou Silval em nome do deputado estadual para fazer o primeiro contato. Na ocasião foi aventado o valor de R$ 15 milhões. Em outra ocasião, Silval e Oscar teriam se encontrado pessoalmente no estacionamento de um supermercado para finalizar as tratativas.
Nesse encontro, ambos teriam fechado um acordo no valor de R$ 10 milhões. Oscar então teria passado uma conta de uma factoring, na qual Silval chegou a fazer um depósito de R$ 200 mil. Contudo, pouco depois o ex-governador foi preso e não conseguiu continuar os pagamentos.
Pedro Satélite
O deputado Pedro Satélite, além de estar na lista dos deputados que recebiam “mensalinho”, foi delatado pelo ex-chefe de gabinete de Silval, Silvio Corrêa. Silvio relatou que o ex-governador Silval Barbosa pediu a um empresário conhecido como “Sr. Pampa” que doasse R$ 500 mil para a campanha do deputado Pedro Satélite (PSD), que acabou eleito.
Romoaldo Júnior
Na delação, Silval disse que Romoaldo Junior (PMDB) recebeu propina da Canal Livre Comércios e Serviços, empresa responsável pela iluminação da Arena Pantanal. Parte do dinheiro, cerca de R$ 200 mil a R$ 300 mil, era repassado pelo deputado ao ex-governador. De acordo com Silval, o dinheiro seria usado para pagar dívidas e bancar campanhas eleitorais.
Romoaldo, que foi líder do governo Silval e presidente da Assembleia Legislativa, aparece inúmeras vezes na delação do ex-governador e, além de ter sido supostamente beneficiado pelos esquemas fraudulentos, teria intermediado reuniões entre Silval e outros políticos.
Sebastião Rezende
O deputado Sebastião Rezende (PSC), assim como todos os deputados que ocuparam cadeira na Assembleia Legislativa entre 2010 e 2014, aparece na lista de “controle de pagamento da propina”, anexada à delação de Silval, que mostra como o ex-governador se organizava para pagar o “mensalinho” aos deputados estaduais.
Silvano Amaral
Silvano Amaral (PMDB), que segundo Silval Barbosa chegou a visita-lo no Centro de Custódia da Capital (CCC) no final de 2015, teria tentado extorqui-lo para aprovar as contas do seu último ano de governo a frente do Palácio Paiaguás.
Wagner Ramos
O deputado estadual Wagner Ramos (PSD) aparece negociando valor de propina com Rodrigo Barbosa, filho do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), para os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa do Mundo, Oscar Bezerra (PSB), Silvano Amaral (PMDB), Mauro Savi (PSB) e Dilmar Dal’Bosco (DEM).
A gravação ocorre no escritório de Rodrigo e foi divulgada pelo jornal Estado de São Paulo, o “Estadão”. De acordo com a delação premiada de Silval Barbosa, o pagamento serviria para os deputados “aliviarem” para o ex-governador nas investigações.