PL propõe campanha de conscientização sobre dependência a aparelhos conectados à internet

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CAMARA VG

O aparelho celular notifica que está acabando a bateria dele e o usuário já corre para buscar um carregador de energia. Já imagina o transtorno que teria, caso ficasse algumas horas sem comunicação. Uma viagem para algum lugar sem sinal de internet gera aflição e a ansiedade toma conta do indivíduo se perde o telefone móvel. O cenário comum aos usuários de internet pode configurar uma doença psicológica, a nomofobia. E, para tratar do assunto, o deputado Dr. Leonardo (PSD) propôs o Projeto de Lei nº 12/2018.

A matéria propõe instituir a ‘Campanha Permanente de Orientação, Conscientização, Prevenção e Combate à Nomofobia’ em Mato Grosso, a fim de “conscientizar a população que os novos meios de comunicação devem ser utilizados de maneira saudável, para promover o aprendizado, estabelecer boas relações e se comunicar”, explica o autor, acrescentando ser “essencial estabelecer limites” para evitar que as pessoas “se tornem reféns da tecnologia”.

O termo nomofobia é recente e provém do inglês ‘no mobile’, que significa ‘sem celular’. Caracteriza-se por um quadro de ansiedade, desconforto ou angústia, gerado pela impossibilidade de comunicação por meios virtuais, como celulares, computadores, tabletes, entre outros. Não se trata de uma doença oficializada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas há entendimento que a nomofobia gera transtornos como um vício.

A adolescente Helena Werneck dos Santos, 17 anos, sabe que "fica no celular o tempo todo” e admite que, hoje em dia, estamos muito condicionados ao uso da internet. Além de usar internet sem fio (por wi-fi), em seu telefone há pacote de dados para uso ilimitado. Segundo ela, por meio da internet no celular, estuda, compartilha seu dia na rede social Twitter e até registra as poesias que escreve.

Helena narrou um episódio em que teve o telefone furtado e ficou desesperada. Em dois dias, a mãe dela já tinha comprado outro similar. “Ficar sem celular é horrível, a gente não tem nada para fazer, nem com quem conversar. Todas as pessoas com quem a gente fala estão dentro do aparelhinho”, explica a adolescente, confessando estar viciada, mas avaliando ser o comportamento geral da sociedade atual. “Todo mundo é viciado, não é normal, mas é a realidade”, avalia a jovem que nasceu nos anos 2000.

A psicóloga da Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida (Qualivida), da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Cristiane Figueiredo, sugere aos indivíduos que sentem aflição ou angústia na ausência de internet móvel procurem atendimento médico e psicológico. “O acompanhamento é interessante para avaliar o nível patológico da dependência e verificar os possíveis prejuízos causados ao sujeito”, explica.

Projeto de Lei – Para conscientizar sobre os desconfortos gerados pela dependência de internet em aparelhos móveis, o projeto de lei propõe a realização de uma campanha permanente, a ser gerida pelas secretarias de Estado de Saúde e de Educação.

Além disso, tal campanha deverá constar no calendário oficial de eventos de Mato Grosso e as secretarias ficarão incumbidas de celebrar parcerias e convênios para estabelecer período da ação, indicar equipe multidisciplinar para atuação e realizar encaminhamentos para avaliação diagnóstica e tratamento.

Dados – Um estudo realizado no Reino Unido há 10 anos, com cerca de mil pessoas, revelou que 66% dos entrevistados se dizem “muito angustiados” com a ideia de perder o celular. Outra pesquisa, desta vez com jovens nos EUA, constatou-se que a dependência de celulares, computadores e da tecnologia em geral pode ser comparada ao vício em drogas. Segundo a pesquisa, 79% dos estudantes avaliados apresentaram desde desconforto até confusão e isolamento com a restrição ao uso de eletrônicos.

O Brasil é o país com a população que passa mais tempo na internet e o segundo lugar em acesso às redes sociais, conforme demonstrado em estudo da organização We Are Social. Estima-se que cerca de 4% da população brasileira sofra com a dependência digital. O Hospital das Clínicas de São Paulo aponta que, no Brasil, existem 8 milhões de pessoas viciadas em internet.

Tramitação – Projeto de Lei nº 12/2018 foi apresentado em Plenário na sessão ordinária de 6 de fevereiro e começa agora a tramitar na Casa de Leis. Precisa ser avaliado pela comissão de mérito e pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação e ser apreciado pelos parlamentares em duas votações. Pode sofrer alterações textuais, bem como ser arquivado ou enviado para sanção governamental.

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