Apesar de muitos homens ainda considerarem a disfunção erétil um tabu, a procura por tratamento em consultórios especializados tem crescido bastante nos últimos anos.
Formado em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e especializado em Urologia há 17 anos, o médico Walid Khalil, de 43, afirmou em entrevista ao MidiaNews nesta semana que os homens estão cada vez mais abertos para falar sobre a chamada impotência sexual.
De acordo com Khalil, a procura por tratamento tem aumentado e os pacientes se tornado cada vez menos constrangidos em falar sobre o assunto.
"Muitos chegam constrangidos, mas a gente tem visto uma mudança. Eles estão chegando mais abertamente e falam quando não estão conseguindo ter uma ereção boa, explicam a situação", disse.
O médico ainda falou dos graus de impotência sexual, como identificá-la e quais os tratamentos recomendados.
Ele ainda alertou sobre os riscos de tomar medicamentos como o Viagra sem indicação médica.
Leia os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – O senhor pode definir disfunção erétil?
Walid Khalil – É a incapacidade de o homem ter e manter uma ereção satisfatória para a conclusão de um ato sexual, que envolve a penetração e a satisfação de ambos numa relação sexual. Mas é especificamente em manter uma boa ereção.
MidiaNews – E por que isso acontece?
Walid Khalil – Na verdade são três os fatores que levam à disfunção erétil. A gente os classifica em: orgânicos, psicogênicos e mistos.
Os fatores orgânicos hoje são mais frequentes na população masculina a partir dos 40 anos. Nós estamos falando de doenças ou hábitos que colaboram para a disfunção erétil, como a diabetes, a hipertensão, o tabagismo, a dislipidemia (aumento de colesterol e triglicerídeo)… Isso tudo colabora.
A psicogênica está relacionada a fatores como ansiedade, depressão… É a capacidade do homem de acreditar que só porque falhou uma vez vai falhar outras – e isso leva a outras falhas.
Já a mista é quando se juntam os dois fatores, ou seja, além de ter, por exemplo, o orgânico, eu também tenho a psicogênica. Vamos supor a obesidade: os pacientes obesos têm um risco mais elevado de evoluír no futuro para disfunção erétil, por conta das alterações metabólicas que eles possam vir a ter, que é a dislipidemia, o sedentarismo, que estão relacionados à obesidade. E isso tudo, às vezes com um problema de ansiedade ou depressão, e então a gente pode estar diante de um quadro de impotência sexual por conta de um fator misto.
Alair Ribeiro/MidiaNews
"A disfunção erétil hoje é um problema muito comum, e tem uma procura cada vez mais frequentes de homens, sejam eles acima dos 40 ou abaixo"
A disfunção erétil hoje é um problema muito comum. E há uma procura cada vez mais frequente de homens, sejam eles acima dos 40 ou abaixo.
MidiaNews – Existe algo ligado com a genética?
Walid Khalil – Não. Existem fatores como a genética que podem estar relacionados a outras doenças, que podem favorecer para a disfunção erétil. Como por exemplo, as doenças coronarianas, diabetes e a hipertensão. Então vamos supor que eu herdei dos meus pais os genes dessas doenças, mas o estilo de vida que eu levo colaborou para que eu também desenvolvesse essa doença.
MidiaNews – Existe uma estimativa de quantos por cento dos homens têm disfunção erétil?
Walid Khalil – Nós não contabilizamos dados falando de porcentagens, porque é um assunto delicado. É uma doença que você não consegue registrar porque, na verdade, as pessoas têm vergonha de falar que são impotentes. Elas têm certa resistência até para chegar aqui comigo, que sou especialista em tratar do assunto, e falar do problema. Até chegarem a mim há certa dificuldade – e isso acaba nos impedindo de ter um dado correto para falar sobre Mato Grosso.
MidiaNews – O senhor atua na área há 17 anos. Acha que aumentou ou diminuiu a procura por ajuda?
Walid Khalil – A gente tem visto cada vez mais o aumento na procura por ajuda. Primeiro porque a população está envelhecendo. E a potência, a sexualidade para o homem, é muito importante, mais do que para as mulheres. O homem, apesar de sofrer alterações hormonais no decorrer dos anos e começar a produzir menos testosterona – o que acaba influenciando na vontade e no desejo, e também isso acaba interferindo na potência sexual -, a gente acaba vendo que, mesmo assim, homens, independente da idade, buscam ter uma vida sexual saudável. Eles querem isso. Chegam homens aqui comigo de 70 e 80 anos em busca de tratamento. Então a procura vem aumentando sim a cada ano. Eu só não consigo dizer estatisticamente a porcentagem disso.
MidiaNews – O homem que procura o tratamento de disfunção erétil consegue ter 100% de recuperação?
Walid Khalil – Vai depender do grau de impotência que esse homem tem. Existem questionários validados internacionalmente para classificar o grau de impotência – se ela é leve, moderada ou grave. E aí, de acordo com o grau, a gente vai dar o tratamento que é possível, através de todas as técnicas que temos disponíveis, inclusive não invasivas, para tentar recuperar a potência. Se por acaso, com todas as condições que a gente tem de tratar, não houver uma recuperação completa e satisfatória, existem as técnicas mais invasivas, como as próteses penianas, que resolvem de uma vez por todas o problema. Então o tratamento começa com medicações orais, que já existem no mercado, para melhorar a circulação sanguínea no pênis, mantendo a ereção. Mas o homem tem que ter o desejo. Ou seja, mesmo fazendo o uso da medicação, se ele não estiver a fim, não vai entrar em ereção por isso.
Existem também outras terapias, que são as intracavernosas, através de injeções. E hoje existe uma modalidade, que é uma das técnicas mais avançadas em tratamento na impotência, que são as ondas eletromagnéticas. São feitas várias seções no pênis, em que são aplicadas diretamente no pênis, estimulando o crescimento de novos vasos. A partir de vasos já existentes, crescem outros, melhorando a circulação sanguínea. E isso é mais duradouro. É diferente da medicação, que atua momentaneamente, porque a medicação estimula a chegada de circulação no pênis. Já a máquina que emite ondas eletromagnéticas vai estimular o crescimento, que a gente chama de angiogênese, que é a formação de novos vasos. Então os homens que têm impotência por questões vasculares se beneficiam desse tratamento.
MidiaNews – O senhor disse que a maioria dos casos aparece a partir dos 40 anos. Existem muitos abaixo desta idade?
Walid Khalil – Sim. Aí é a hora que você precisa de uma boa investigação clínica para saber classificar direitinho o que está causando essa disfunção. Se ela é orgânica, mista ou psicogênica. Geralmente homens com idades abaixo dos 40 anos tendem a ser psicogênicos, que é psicológico. Pode ser por trauma, ou algum problema que ele possa ter passado, e isso tenha levado a desenvolver um quadro de impotência. E, aí quando homem vai para uma outra relação, já vai pensando que vai falhar e falha mesmo. Isso é muito comum.
Alair Ribeiro/MidiaNews
"Homens independentes da idade, buscam ter uma vida sexual saudável, eles querem isso"
MidiaNews – E como se trata quem tem a disfunção erétil psicogênica?
Walid Khalil – Primeiro, a gente deve sempre, através de um bom exame físico, afastar se existe também o fator orgânico associado, para desclassificar o misto.
Porque não quer dizer que só porque é abaixo dos 40 seja só psicogênico. Segundo, classificando que se trata de psicogênico mesmo, vamos tratar através de medicamentos que possam diminuir essa ansiedade e o medo. E até através de terapia, a gente pode ter um controle melhor e ajudar nosso paciente a sair dessa situação, e ter de volta uma ereção satisfatória.
MidiaNews – Medicamentos como o Viagra provocaram uma revolução na vida sexual das pessoas. Mas parece haver certo uso indiscriminado deles, não é mesmo?.
Walid Khalil – Existem pessoas, principalmente mais jovem, que fazem o uso exagerado. Principalmente porque às vezes estão relacionados ao uso exagerado de bebidas alcóolicas e drogas. Aí o jovem, por um acaso, acaba falhando e não tendo o desempenho sexual desejado. E ele acaba recorrendo à medicação no intuito de auxiliá-lo. Mas muitas vezes a medicação tem mais um efeito psicológico mesmo, do que realmente mecânico. Eu tenho pacientes que, por medo de falharem, andam com a medicação no bolso. E às vezes nem chegam a usá-lo, mas está ali no bolso. Então só o fato de ter a medicação ali o deixa mais tranquilo a ponto de não falhar. Ou seja: há um fator psicológico.
MidiaNews – Há alguma contraindicação?
Walid Khalil – Sim. Essas medicações não têm muito risco para o coração, como muitos homens acham. Mas desde que o paciente não tenha nenhum problema cardíaco coronariano grave e que não faça uso de medicações a base de nitrato. Porque essas medicações – como Viagra, Cialis, Levitra – potencializam o nitrato. Então existe o risco de fazer uma vasodilatação muito maior e provocar um quadro de isquemia, que pode causar um prejuízo ao coração.
MidiaNews – Quais os riscos do uso indiscriminado de medicamentos para a disfunção erétil?
Walid Khalil – Se não houver um acompanhamento, o risco de desenvolver uma dependência psíquica, ou seja, essas pessoas vão ficar dependentes dessa medicação para o resto da vida, porque essas pessoas vão achar que só vão ter uma ereção se fizer o uso desta medicação.
MidiaNews – Em quais casos é recomendada a cirurgia peniana?
Walid Khalil – Quando todas as formas de terapia não derem resultado, aí sim nós podemos recorrer às próteses, que são uma forma de recuperar totalmente a potência do homem.
MidiaNews – A disfunção erétil pode ser sinal de outros problemas de saúde?
Alair Ribeiro/MidiaNews
"É muito importante o papel da esposa no tratamento"
Walid Khalil – Sim. Hoje existem trabalhos no mundo que associam a disfunção erétil com doenças coronarianas, ou as doenças de ordem circulatórias, como o AVC (acidente cascular cerebral) ou infarto.
MidiaNews – Além do Viagra, surgiram outros medicamentos – com outros princípios ativos – que combatem o problema, como o Cialis e o Levitra. Quais as vantagens e desvantagens deles em relação ao Viagra?
Walid Khalil – Depende muito do perfil de cada paciente. A gente escolhe a medicação não por se chamar Viagra, Levitra ou Cialis. Não é por isso, mas porque depende do perfil de cada paciente. Eu defino qual medicação vou usar para os meus pacientes somente depois de conhecê-los, depois de saber o que ele quer.
Se o que ele precisa é de uma ereção que seja mais duradoura, ou se é de uma medicação que ele tome e tenha uma resposta mais rápida, ou de uma medicação em que ele possa tomar, mas não tenha que ter a preocupação de que só funcione se ele tomar logo antes da relação, enfim, eu vou definir de acordo com cada entrevista que eu fizer.
Mas todos esses medicamentos têm o mesmo mecanismo, o que muda é o tempo. Porque cada fabricante usa uma quantidade de dose para cada medicamento, ou seja, uns vão dar umas ereções mais duradoras, outras vão ter um efeito mais rápido, porém dura menos tempo. Tudo depende do que o paciente quer.
MidiaNews – Porque a disfunção erétil ainda é um tabu?
Walid Khalil – Porque é uma característica do homem, mexer com a sexualidade com o homem ainda é um tabu. Ele tem dificuldade em assumir que às vezes precisa de ajuda, principalmente relacionado à potência, que está relacionada a muita coisa. A potência para grande maioria é mais importante que a posição social, que a situação financeira, do que até mesmo que sua própria saúde.
MidiaNews – A disfunção erétil não tem relação com a masculinidade, não é mesmo?
Walid Khalil – Não. Porém para um homem que a vida toda teve uma potencia satisfatória e, de repente, passa a ter problema de ereção, isso acaba sim afetando na cabeça dele a sua masculinidade. Em sua cabeça, ele vai entender que não é mais homem.
MidiaNews – Os pacientes com problemas ainda têm vergonha de procurar um profissional?
Walid Khalil – Eu acho que é mais em assumir pra ele mesmo que tem o problema. Então a partir do momento em que ele entra pela porta do meu consultório, ninguém vai saber o que está se passando, nem a minha secretária. Isso se deve ao sigilo entre médico e paciente.
MidiaNews – Como os pacientes com disfunção erétil chegam ao consultório? Constrangidos?
Walid Khalil – Muitos chegam constrangidos, mas a gente tem visto uma mudança nisso. Eles estão chegando mais abertamente e falam quando não estão conseguindo ter uma ereção boa, explicam a situação.
MidiaNews – Há algum momento em que a companheira participa do tratamento?
Walid Khalil – É muito importante o papel da esposa no tratamento. E eu sempre gosto de deixar claro isso para os meus pacientes, até porque eu exploro essa questão da relação, saber se está bem ou não. Então a mulher tem uma participação muito importante no resultado.