Fonte: Portal MSN
O garoto Reginald Dwight (ou Reggie) tinha muitos problemas afetivos em família. Um pai incapaz de abraçar e elogiar. Uma mãe complicada e infiel. Brigas em casa, posterior separação. O elemento salvador seria a avó, que sempre pensou nele e o colocou para a frente, ajudando-o a vencer a timidez que seu corpo, algo rechonchudo, só complicava. No entanto, esse garoto tinha ouvido absoluto, uma capacidade de captar e reproduzir instantaneamente as músicas, que logo descobriu como fazer no piano de casa. Colocá-lo para estudar música foi lapidar um diamante bruto.
Foi a partir daí, do encontro de um parceiro e de uma descoberta pessoal de como se libertar das amarras convencionais e lidar com a homossexualidade, que surgiu um grande astro pop: Elton John. Uma virada impressionante, uma explosão no palco, a partir de um figurino excessivo, exagerado, muita fantasia e imaginação levaram o músico, cantor e compositor de imenso talento a um sucesso internacional retumbante. Tudo muito turbinado.
Quando uma trajetória assim se constrói, também cobra seu preço. Geralmente alto. A dependência de álcool, cocaína e outras drogas, de sexo, do próprio sucesso e da exposição pública. Passando, ainda, pela aprendizagem em gerenciar e colocar limites na própria loucura em que se converte uma carreira tão vertiginosa.
Tudo isso está claramente contemplado no ótimo musical biográfico “Rocketman”, que leva o título de um dos maiores sucessos musicais do cantor. O trabalho cinematográfico de Dexter Fletcher (“Voando Alto”) faz jus à importância do astro e, sobretudo, à sua criação artística. Targon Egerton (“Kingsman: O Círculo Dourado”) vive Elton John de forma visceral, entregando-se plenamente ao papel e com performances empolgantes. E o que é melhor, cantando muito bem o repertório de Elton. Com tanta música boa, acompanhada também de danças bem coreografadas e vozes complementares, o musical se enche de brilho e tende a conquistar o público.
Segundo o próprio biografado, o filme mostra os baixos bem baixos e os altos bem altos e era assim mesmo que ele queria. De fato, “Rocketman” passa longe de um produto chapa branca ou falseado. Permite-se a fantasia, propõe-se épico, mas isso faz um retrato coerente e apropriado da figura de Elton John.
É da batalha dos anos de formação, progresso e comprometimento com os vícios, não só das drogas, mas de tudo o mais, que trata a trama. O sucesso já está todo lá, mas a decadência pessoal também.
Curiosamente, grandes contribuições de Elton John em questões como a prevenção da Aids, a oficialização do casamento gay e a adoção de crianças por casais homossexuais só são citadas nos créditos finais. Assim como o fato de que ele está há 28 anos sóbrio. O título de Sir que lhe foi outorgado pela rainha da Inglaterra nem é lembrado, só o fato de que ela gosta de sua música é mencionado. Até seus lances de moda já encontraram caminhos mais equilibrados, não diria discretos, claro, mas um pouco mais suaves. Maturidade, velhice? A música de Elton John empolga, como sempre, sua presença no palco é muito forte. Já há, no entanto, muito a comemorar e rememorar, talvez ressignificar.
“Rocketman” cumpre bem esse objetivo, ao focalizar Elton John com realismo e profundo respeito à sua música e à sua trajetória artística de ídolo pop.