Fonte: Portal MSN
Poucos meses depois de o presidente russo, Vladimir Putin, fechar seu quarto mandato, a Rússia sediou a Copa do Mundo. Era junho de 2018 e todos os olhos estavam voltados para o país. A competição terminou sem problemas – e fãs e equipes elogiaram seus anfitriões russos pela boa organização do evento.
Mas não houve período de lua de mel para seu líder. Seu índice de aprovação, de acordo com a agência de pesquisas FOM, caiu de 64% no dia das eleições em março de 2018 – a maior taxa para qualquer candidato presidencial na história moderna da Rússia – para 56% no início da Copa do Mundo. Em meados do verão, foi de 49% – seu índice de aprovação mais baixo desde que se tornou presidente em 2000.
Agora, um ano depois da Copa do Mundo, o apoio ao líder da Rússia é novamente objeto de intenso debate. A controvérsia atingiu seu auge no início deste mês, pouco antes do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, um evento de vitrine e um dos projetos pessoais de Vladimir Putin, que visa atrair investidores estrangeiros de volta à Rússia.
Uma semana antes do início do fórum, a agência de pesquisas nacional VTSIOM publicou uma pesquisa mostrando que a confiança pública no presidente havia caído para 31,7% – seu nível mais baixo desde 2006.
O timing foi ruim – e o Kremlin exigiu uma explicação. Mas a VTSIOM parece ter entendido o recado – porque em poucos dias, anunciou que havia mudado a forma de suas perguntas. Em vez de perguntar aos russos em que políticos confiavam, os pesquisadores perguntaram especificamente se confiavam ou não em Putin.
Como resultado, suas classificações de confiança pareceram saltar de pouco mais de 30% para 72,3% em menos de uma semana.
O governador pró-Kremlin Oleg Kozhemyako, da região de Primorye, no extremo leste da Rússia, apontou para uma explicação simples para o súbito aumento na popularidade de Putin. "As baixas avaliações devem ter sido resultado de um erro de contagem", disse ele à BBC.
Mas o ex-prefeito de Yekaterinburgo Yevgeny Roizman, que derrotou o candidato do governo nas eleições de 2013, acredita que os pesquisadores estão superestimando artificialmente os resultados. "Tenho certeza de que a classificação real é muito menor", disse Roizman à BBC.
O que está provocando a queda de popularidade?
A razão para a queda inicial nas avaliações, de acordo com os pesquisadores, foi a decisão polêmica, tomada em junho de 2018, de elevar a idade de aposentadoria na Rússia – de 55 para 60 para mulheres e de 60 para 65 para homens.
Como a expectativa média de vida de um homem russo é de 66 anos, isso significa que muitos encararam a perspectiva de trabalhar a até um ano antes de sua morte.
Em todo o país, pessoas de todas as idades – muitas das quais nunca haviam protestado antes – saíram às ruas para mostrar sua indignação.
"Eu nunca teria votado em Putin se soubesse que ele aumentaria a idade em que receberíamos nossas aposentadorias", disse Marina, 57, professora aposentada de Krasnodar, à BBC.
E nos meses seguintes, o apoio continuou a cair.
© Getty Images "Chega", dizem cartazes em manifestações em Moscou
Em setembro de 2018, o Kremlin criticou duramente as eleições para governadores, nas quais três candidatos da oposição triunfaram sobre candidatos do governo. Foi um resultado sem precedentes.
Ao mesmo tempo, começaram a ocorrer protestos em todo o país contra a superlotação de lixões e aterros sanitários.
Até que, no mês passado, Putin foi forçado a intervir pessoalmente para pôr fim a confrontos entre a polícia e os manifestantes por causa da construção de uma igreja em um dos poucos espaços verdes da cidade de Yekaterinburg.
O que irrita os russos, mais do que tudo, é o declínio da padrão de vida.
De acordo com o Levada Center, uma agência de pesquisa independente, as pessoas estão mais preocupadas com a pobreza, os aumentos de preços, a corrupção, a diferença entre ricos e pobres e a contínua crise econômica.
O Kremlin está preocupado?
O Kremlin deu poucas demonstrações de preocupação com a queda da popularidade do presidente, e disse não ver motivo para alarde.
Mas "Putin é a personificação de todo o poder na Rússia", segundo Andrei Kolesnikov, do centro de pesquisa Carnegie Moscow Center.
"A avaliação feita dele reflete o que se pensa de todas as instituições do governo. Se ele perder apoio, todo ministro e funcionário também perde".
"Os funcionários do Kremlin têm que insistir que as avaliações de Putin não os incomodam. Oficialmente, eles têm que parecer confiantes. Mas não há dúvida de que eles têm observado os números de perto e estão começando a ficar nervosos".