Torcedora símbolo do Operário de Várzea Grande desde a fundação do clube, em 1949, Mariana Fernandes Macedo se posicionou contra a decisão do time de contratar o goleiro Bruno Fernandes, que já foi condenado a mais de 20 anos de prisão pelo sequestro, assassinato e ocultação do cadáver de Eliza Samudio. Prestes a completar 82 anos, ela afirma que, caso seja transmitido, deverá acompanhar as partidas pelo rádios e TV. Acrescentou ainda que estuda assistir os jogos dos times rivais, para matar a saudade do esporte.
Natural de Chapada dos Guimarães (60 quilômetros de Cuiabá), onde se casou, Mariana disse ao Olhar Direto que não gostaria que Bruno fosse contratado pelo Clube. “Eu não contrataria e não gostaria que contratasse ele para o Operário. Mas eu não posso julgar ninguém, estou na minha, esperando acontecer. Porque todas as pessoas estão sendo contra, [falando] que ele tem que ter uma segunda chance. Mas que não fosse no clube do Operário Várzea-grandense, que fosse em qualquer outro, mas aqui eu não gostaria”, afirma.
“Se ele for contratado, eu vou evitar ir ao estádio. Eles falam ‘você não precisa torcer para o Bruno’. Mas como não vou torcer para um time sem o elenco inteiro? Um só jogador não joga, tem que ser os 11”, argumenta.
Aos 81 anos, Mariana lembra que foi escolhida como torcedora símbolo por participar de todos os jogos, inclusive fora da cidade. Apesar de ainda ir aos gramados, mas não com a mesma frequência, ela acredita que não faz mas diferença para os clube. “A diretoria acha que ele é o melhor para o operário, a diretoria contrate, e depois eles vão ver o resultado. Na idade que eu estou, já dei o que tinha de dar para o time, hoje acho que não faço diferença nenhuma. Eu vou ficar quieta no meu canto, assistir os jogos da minha casa”.
Mãe de oito filhos, com 13 netos e oito bisnetos, a torcedora explica o motivo de sua não concordância. “Eu não concordo, porque sou mulher, sou mãe. Isso dói muito pra mim, saber o que ele fez, porque todo mundo sabe, não precisa repetir. É muito triste, eu não concordo”, assevera. “Estava entusiasmada, mas isso foi um balde de água fria”.
O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso (CEDM/MT) também repudiou a situação, por meio de posicionamento emitido por nota. A entidade pondera que o futebol cria ídolos entre crianças e jovens, em processo de formação, e entende que tratar alguém capaz de cometer um crime tão bárbaro é um fato bastante preocupante
Mariana acrescenta que “O esporte é uma coisa que você quer levar seu neto, bisneto, quer apresentar uma coisa boa. Como vou torcer para um cara que fez o que fez? Se meu neto perguntar para mim quem é esse goleiro Bruno?” questiona.
Caso volte aos gramados, Bruno deverá jogar no campeonato Mato-Grossense, Copa do Brasil, Copa Verde e a Série D. Ela conta que não deve estar presente no próximo jogo do time, previsto para ocorrer em fevereiro. “Vou participar de um congresso evangélico em Goiânia, não vou estar aqui”.
“Não sou ninguém para julgar, não julgo para não ser julgada, mas o que ele fez dói muito para mim, como mulher. Toda vez que eu ver, vou lembrar daquilo. Pra que? Dizem que o que os olhos não vêem, o coração não sente. Deixa eu ficar tranquila na minha casa, assistindo jogo pelo rádio, televisão, se passar. Assim eu vou terminar sem sofrer, porque se eu for, vou sofrer. Não vou aguentar olhar para a cara dele. Já vejo na TV e sinto repulsa. Deixo para quem quiser bater palma pra ele, que vá. Espero que se ele vier, faça bem feito, mas não com minha aprovação”, finaliza.
Bruno ficou nove anos preso pela morte de Eliza Samudio e deixou a prisão em julho de 2019, após conseguir na Justiça a progressão de regime para o semiaberto. Em agosto de 2019 ele assinou contrato com o Poços de Caldas F.C., porém deixou o clube dois meses depois.
Sites nacionais haviam divulgado que o goleiro Bruno estaria agora negociando com alguns times, inclusive um de Mato Grosso. O Cuiabá Esporte Clube divulgou uma nota em seu perfil no Instagram desmentindo a situação. Conforme o supervisor de futebol, as negociações sempre ocorreram com o clube de Várzea Grande.