Fonte: Olhar Direto
O Governo de Mato Grosso manteve alta a temperatura do debate sobre o futuro da Escola Estadual Nilo Póvoas travado com a Prefeitura de Cuiabá. Em resposta ao duro artigo escrito pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) na última sexta-feira (24), a secretária de Educação de Mato Grosso, Marioneide Kliemaschewsk, chamou o emedebista de mau gestor e acusou-o de “destruir” o trabalho feito pela gestão anteriorno Alencastro, de Mauro Mendes (DEM).
O que deflagrou o novo embate entre Executivo Municipal e Estadual foi o pedido de Emanuel Pinheiro para que o Governo do Estado ceda à administração municipal o prédio da Nilo Póvoas, diante da informação confirmada de que a escola passaria por uma reformulação e os alunos de lá seriam realocados. Marioneide afirma que a solicitação do prefeito foi feita de forma equivocada e sem conhecimento de causa. Sustenta ainda que ao fazer a proposta por meio da imprensa, e não por caminhos institucionais, o emedebista busca autopromoção.
“É preciso esclarecer que a Secretaria Estadual de Educação promoveu um reordenamento na Escola Nilo Póvoas, que conta com uma capacidade para contemplar 1000 alunos e hoje atende 126. Os estudantes serão remanejados para a Escola Estadual Antonio Epaminondas e a Nilo Póvoas se transformará em um centro de referência em educação inclusiva, sem prejuízo para um aluno sequer e respeitando a história do colégio para com a cuiabania”, sustenta a secretária.
Marioneide, ao reafirmar a negativa do governo à proposta de Emanuel, afirma que população cuiabana pode ficar tranquila quanto à memória de Nilo Póvoas e à escola. Segundo ela, a “nova” unidade vai acolher crianças que mais precisam da atenção do Estado, que são portadoras de necessidades especiais e em situação de vulnerabilidade, vítimas de bullying, com depressão, em contexto de violência doméstica, dentre outros problemas.
Antes de ser secretária Estadual de Educação, Marioneide foi também responsável pela pasta no Município, durante o mandato de Mendes. De acordo com ela, em três anos, Emanuel “destruiu” o trabalho de gestão feito para a cidade. “Afundou Cuiabá em empréstimos irresponsáveis para alimentar sua sanha populista”, critica.
“Baixa estatura e ciúme juvenil”
Na sexta-feira (24), o prefeito Emanuel Pinheiro elevou o tom e contra-atacou o governador chamando-o de irresponsável e menino rico mimado, além de falar que o chefe do Executivo Estadual tem ciúmes da gestão municipal. O prefeito, no início da semana passada tinha proposto que o governo não feche a unidade de ensino que é uma das mais tradicionais da cidade, e solicitou que o Estado ceda o prédio para prefeitura utilizá-lo na educação do município.
Em resposta, em entrevista à Rádio Vila Real nesta sexta-feira (24), o governador explicou que a unidade de ensino servirá como base para educação inclusiva e atacou Emanuel, dizendo que ele deve explicar sobre os processos que responde na justiça, além de dizer que o prefeito não teve o mesmo interesse na Santa Casa de Misericórdia, que era de responsabilidade do município e teve que passar por uma intervenção do Estado.
A tréplica de Emanuel, veio dura: “Definitivamente, o governador Mauro Mendes está tendo dificuldade de fazer oposição a uma gestão que tem entregas, apresenta resultados e, por gostar tanto de gente, avança na prioridade aos mais carentes. Na política, a especialidade do Mauro é desconstruir. Só assim ele consegue se afirmar como o salvador, aquela figura antiga que para existir precisava de uma sociedade acéfala e subjugada. Às vezes parece aflorar no Mauro um traço até de ciúme juvenil. Feito aquele menino rico e mimado que quer mandar no jogo, mas esquece de combinar com a torcida. Parece incomodá-lo de verdade que um prefeito possa estar indo além do que ele fez como gestor de Cuiabá”.
Linha do tempo da polêmica
Tudo começou em artigo de Emanuel Pinheiro intitulado “Uma solução cuiabana para o Nilo Póvoas”, publicado em 21 de janeiro. Nele, a Prefeitura de Cuiabá é apresentada como “solução” para o não fechamento da unidade escolar. Na proposta de transformação em escola municipal, cerca de mil novas vagas seriam abertas, além da economia de R$ 6 milhões aos cofres do município.
“Como prefeito da Capital e em respeito a esta instituição de ensino, que completa neste ano de 2020, 50 anos de vida na história da educação pública de Cuiabá é que, tomo a decisão, de requerer ao Governo do Estado de Mato Grosso a cessão da unidade física da Escola para a Prefeitura Municipal de Cuiabá”, disse o prefeito.
“Ocupar o prédio da histórica Nilo Póvoas significaria, não só uma oferta de mais 750 vagas para a educação infantil de zero a cinco anos em período integral e já com a expectativa de 300 vagas imediatas, mas uma economia aos cofres Municipais de aproximadamente R$ 6 milhões. Dinheiro este que seria utilizado na construção de 3 CMEIS para suprir a demanda e que poderá ser melhor aplicado com a utilização da estrutura física da instituição”, explicou.
O Estado negou ceder a escola para Cuiabá e, em entrevista à TV Vila Real, o secretário-chefe da Casa Civil, Mauro Carvalho, afirmou que a proposta do prefeito tinha como objetivo somente o “confronto” com a gestão estadual. Em resposta, novo artigo foi publicado, desta vez pelo secretário de Governo de Cuiabá, Lincoln Sardinha. Na nova proposta lançada, o município oferecia o antigo Moitará Sebrae Center, espaço que abrigava a antiga Secopa e onde hoje funciona a Secretaria de Cultura, em troca do prédio da escola, para que sejam ampliadas as vagas para o ensino básico da Capital.
O texto também acusava a administração estadual de “egoísmo”. “Será que vocês vão provar o amor que dizem ter por Cuiabá? Ou vão continuar levando tudo para o lado pessoal, se esquecendo que milhares de crianças necessitam dessas vagas? Por que essa agressão injusta sendo que a causa é tão justa? Me pergunto, não é melhor sentar e conversar? Sobra egoísmo, falta empatia. O prefeito Emanuel Pinheiro tem uma proposta para o Governo do Estado, pois ninguém quer nada de graça, somos gestores e devemos agir como tal. Propomos a cessão do prédio municipal onde hoje funciona a Secretaria Estadual de Cultura, conhecido como Moitará e que já abrigou a extinta Secopa, no bairro Goiabeiras, e, em troca, recebemos a cessão do prédio da escola Nilo Póvoas para conseguirmos ampliar o número de vagas do ensino básico da Capital, favorecendo 750 crianças. Nossa luta é por Cuiabá”, afirmou Sardinha.
Confira abaixo a íntegra do artigo da secretária Marioneide Kliemaschewsk divulgado nesta segunda-feira (27):
Educação sem oportunismo do prefeito
Foi com sentimento de indignação que fiz a leitura de um “artigo” escrito pelo prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, na última semana, no qual ele sugere que o Estado ceda a Escola Estadual Nilo Póvoas para a gestão municipal, de forma a transformá-la em uma creche.
É preciso esclarecer que a Secretaria Estadual de Educação promoveu um reordenamento na Escola Nilo Póvoas, que conta com uma capacidade para contemplar 1000 alunos e hoje atende 126. Os estudantes serão remanejados para a Escola Estadual Antonio Epaminondas e a Nilo Póvoas se transformará em um centro de referência em educação inclusiva, sem prejuízo para um aluno sequer e respeitando a história do colégio para com a cuiabania.
Todo esse cuidado contrasta com a forma equivocada e sem conhecimento de causa pela qual o prefeito faz propostas dessa magnitude, lançando mão do oportunismo que lhe é característico. E o faz por meio da imprensa e não pelas vias institucionais, se aproveitando do debate público sobre a escola para tentar autopromoção.
Sem qualquer dado concreto e alicerçado em achismos, o prefeito explanou um “plano de ação” para a escola, jogando ao vento valores que seriam economizados e onde seriam posteriormente aplicados, sempre pincelando os “avanços” que conquistou na área.
Emanuel Pinheiro não demonstrou condições para dar lição de gestão no que se refere a Educação. É notoriamente um mau gestor.
Quando fui secretária municipal de Educação na gestão Mauro Mendes, fizemos um amplo trabalho de capacitação dos profissionais e de construção de ambientes escolares dignos e atrativos. Só em Centros Municipais de Educação, foram entregues 17, além de quatro escolas e reformas em outras dezenas de unidades. Deixamos a gestão sem nenhuma dívida e com obras licitadas para o atual prefeito.
Tanto que o município conquistou em 2016, conforme os dados oficiais do Ideb, a nota de 5,5, que era estipulada para 2021. Na gestão de Emanuel, a nota subiu míseros 0,1 pontos.
A gestão Mauro Mendes havia conquistado o 11º lugar no Índice Firjan de Gestão Fiscal e hoje Cuiabá está em 24º lugar. É o terceiro pior índice. De forma resumida, o índice mostra que Cuiabá hoje não tem dinheiro para pagar as dívidas que o prefeito tem contraído. Isso é fruto da falta de planejamento e desrespeito de Emanuel Pinheiro com o presente e o futuro da população cuiabana.
Em três anos, o atual prefeito destruiu todo um trabalho de gestão que havia sido feito para o município. Afundou Cuiabá em empréstimos irresponsáveis para alimentar sua sanha populista.
E este mesmo prefeito agora diz que tem capacidade para gerir a Nilo Póvoas. O mesmo prefeito que está mergulhando Cuiabá em dívidas que em breve vão prejudicar os recursos da Educação. O mesmo que não explica o dinheiro no paletó e as recorrentes investigações contra sua gestão. O mesmo que prometeu restaurante giratório nas alturas, que prometeu Hospital Albert Einstein, que deixou a Santa Casa fechar e que teria sido fechada em definitivo se não fosse pelo Estado.
A população cuiabana pode ficar tranquila quanto à Escola Nilo Póvoas. O nome e a memória de Nilo Póvoas – que tanto contribuiu a Mato Grosso e aos cuiabanos – continuarão a ser honrados em uma unidade que vai acolher, com todo o carinho e estrutura, as crianças que mais precisam da atenção do Estado, que são as crianças portadoras de necessidades especiais e em situação de vulnerabilidade, como aquelas que sofrem com bullying, depressão, violência doméstica, dentre outros problemas.
O dinheiro do contribuinte, advindo dos tributos, é um dinheiro sagrado. É preciso ter gestores com coragem para aplicá-lo com responsabilidade e parcimônia, em respeito ao suor do cidadão. Portanto, é preciso reordenar a rede pública de ensino de acordo com a demanda social existente em cada comunidade.
Educação se faz com trabalho sério, planejamento e foco nos alunos e no aprendizado, não com oportunismo irresponsável.
Marioneide Kliemaschewsk é secretária de Estado de Educação de Mato Grosso.