Para testemunha, equipamento encontrado na presidência da AL dificilmente serviria para espionagem

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Foto: Reprodução
CAMARA VG

Fonte: Olhar Direto

Cabos pretos, vermelhos e brancos, dois pontos com fonte de vídeo balun (sem câmera), uma viola de cocho furada, cabos energizados, muitos chicletes embaixo da mesa e dois pontos de alto-falantes. Esses foram os materiais encontrados na sala da presidência da Assembleia Legislativa e Colégio de Líder que podem fazer parte de uma possível central clandestina de espionagem descoberta em abril deste ano.

A informação foi confirmada por um homem que já prestou depoimento à Polícia Civil e é uma das testemunhas do caso por ter sido pago para fazer a varredura em busca de possíveis pontos com escutas e câmeras que pudesses gravar as reuniões e o que era debatido dentro das salas mais importantes da Casa de Leis.

A testemunha, que prefere não se identificar, disse que recebeu R$ 1 mil de um homem chamado Raimundo, que teria atendido pedido do presidente da Casa de Leis para que fizesse buscas por materiais que apontassem um possível esquema de arapongagem dentro do Legislativo.

Durante quase duas horas de entrevista exclusiva ao Olhar Direto, o profissional que tem especialidade em montagens de aparelhos eletrônicos e de segurança, disse que foi contratado por um amigo. Quando foi avisado que iria fazer o serviço, nem sabia onde era o local da inspeção.

“Quando o Raimundo me questionou se eu fazia o serviço, eu disse que faria e cobraria mil reais. Com isso, outro dia ele passou em meu endereço e só no caminho ele disse que seria na Assembleia Legislativa. Chegando lá, eu fui acompanhado pela chefe de gabinete do deputado Botelho e demorei em torno de 1h30 para terminar todo o trabalho de inspeção. Usamos apenas uma escada para subir no forro e um frequencímetro”, contou.

Para ele, o material encontrado possivelmente não poderia gerar uma possível central de espionagem. “Olha, que os cabos eram velhos isso é certeza. Que não tinha nada gravando ali também é certo e que seria muito difícil alguém ser gravado somente com aqueles equipamentos, porque os fios não ligavam lugar nenhum e estavam todos soltos e ainda mais eram velhos”, ressaltou.

O homem ainda foi questionado pela reportagem se recebeu a ordem de alguém da Polícia Militar ou do próprio Eduardo Botelho, diretamente, para fazer o trabalho. Ele respondeu que não.

“Se eu encontrar o Botelho no meio de muita gente, talvez eu nem conheça ele. Não recebi ordem de nenhum polícia e nem nada. Apenas o Raimundo me pagou e eu fiz o serviço”, frisou.

No andamento do trabalho, no dia 17 de abril, a testemunha disse que começou procurando pelo espaço da sala do presidente. Logo ao subir no forro encontrou um fio com as cores preta e vermelha que poderia ser utilizado como um receptor de áudio. O fio estava desconectado e não levava a lugar nenhum. Esse primeiro cabo logo foi retirado e deixado na sala da presidência.

O segundo lugar apurado foi a sala ao lado, conhecida como Colégio de Líderes. Lá existe uma mesa com mais de 6 metros e que comporta pelo menos 30 pessoas sentadas em volta.

No forro foi encontrado mais um fio, dessa vez energizado e de cor branca, com algumas tomadas e um cabo de fonte balun, que serve para acoplar câmeras de vídeo. Não tinha nenhuma câmera instalada, segundo a testemunha.

“Encontrei tudo dentro do forro. Fios, mais um ponto de áudio e um ponto de câmera. Nada estava instalado nem funcionando. Eram fios velhos e que possivelmente estavam ali há muito tempo. Quem instalou demorou muito para fazer e com certeza contou com ajuda de alguém”.

Viola e chiclete

A testemunha ainda relatou ao Olhar Direto que olhou embaixo da mesa do Colégio de Líderes e percebeu que nada havia sido instalado no local. “O que tinha lá era muito chiclete pregado. Mas, fios, cabos e câmera, tinha não”.

Em seguida, de novo na sala do presidente, uma miniatura de viola de cocho também foi localizada com um furo ao meio. Essa viola ficava em cima de um balcão ao lado da mesa de Botelho. Porém, nos últimos dias ela estava sendo colocada em uma estante.

“A miniatura estava furada e sem nada. Nem câmera, nem ponto de áudio. Nada. Mas, se alguém soubesse, poderia colocar uma câmera, pois o furo era pequeno e quase imperceptível. Porém, na localização que ela estava, ela poderia pegar imagem da sala inteira”, contou a testemunha, que ainda disse que esse material também foi levado para a perícia.

Visita de cortesia

Há uma investigação em curso, no âmbito da Polícia Militar sobre a presença de dois policiais um dia antes da descoberta, na sala do presidente. Esses policiais estão afastados de suas funções, mas no entender da testemunha por maneira equivocada.

“Eles não acharam nada. Eles não pagaram nada e um deles nem esteve comigo no dia que eu achei os fios na sala. Um estava, mas só chegou e logo saiu. Eu voltei com o Raimundo. Mas esses policiais ai não tem nada a ver não. Pelo menos com aquilo ali não, pois dava a entender que os fios estavam lá faz tempo e quem me pagou para fazer a varredura foi o Raimundo. Os policiais eu nem conheço e nem sabia que eles tinham sido afastados”, comentou.

Até o dia 24 de junho, nenhum processo administrativo teria sido aberto por conta do caso de espionagem dentro da AL. O Quartel do Comando Geral da PM apenas informa que é procedimento padrão afastar algum PM quando há investigação em curso.

Uma outra fonte contou ao Olhar Direto que eles teriam ido até o presidente apenas fazer uma visita de cortesia e nada teriam ver com a tal varredura ou contrato de alguém para descobrir a possibilidade de arapongagem. “Estão sendo investigados de maneira equivocada”, declarou a fonte.

Mais investigação

O entrevistado foi duas vezes na Assembleia Legislativa. Sendo a primeira para fazer o serviço que lhe foi contratado e a segunda vez para acompanhar a perícia técnica e os policiais civis.

O presidente Eduardo Botelho não acionou a Coordenadoria Militar da Casa de Leis, que possui um aparelho próprio para esse tipo de serviço, para realizar as buscas em sua sala. Segundo a testemunha, o períto chegou a questionar ao coronel Henrique Santos, comandante da coordenadoria militar, se ele sabia desse possível grampo ou o porquê de sua equipe não ter feito o trabalho, e a resposta foi apenas que eles não teriam sido acionados pelo presidente.

“É estranho porque eu só fiquei sabendo que a Coordenadoria Militar teria esse aparelho que faz buscas no dia da perícia. O coordenador acompanhou. Eu acompanhei, mostrei onde estavam os fios e só. O coordenador chegou a dizer que não foi acionado para fazer o serviço e que também não sabia o modelo do aparelho que a Assembleia Legislativa tem para fazer esse tipo de rastreio. Ele só respondeu que seria tipo maleta e com antena”, descreveu.

A investigação dos grampos segue a cargo da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, sob o comando do delegado Eduardo Rizzotto. Ele, por uma questão de não atrapalhar as investigações, por enquanto, não fala com a imprensa sobre o assunto.

A Assembleia Legislativa já disse que aguarda as investigações e disse que não vai se manifestar sobre o assunto enquanto isso. Já a Secretaria de Segurança Pública espera a elucidação do caso o mais breve possível. Por enquanto, as testemunhas estão sendo ouvidas e diligências estão sendo feitas. A perícia técnica ainda não foi finalizada.

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