Outro relato de possíveis maus-tratos na creche Espaço Criança Feliz foi feito à imprensa durante protesto em frente ao local, pela morte do bebê de cinco meses, Vicente Camargo, nesta segunda-feira (22). Soyane Arruda, é outra mãe que notava hematomas no filho Pietro, quando ele chegava em casa após ir para a creche.
“Eu precisei deixar ele para voltar a trabalhar, e procuramos esse espaço aqui para deixá-lo. Eu sou professora, e quando cuido de uma criança, eu penso que é o meu filho, os cuidados que eu gostaria que alguém tivesse com ele. E aconteceu de algumas vezes ele chegar com alguns hematomas em casa. A gente perguntar de fato o que que aconteceu, se ele caiu, se machucou. E a gente sempre soube que aqui tem câmera. Quando ele machucava, nunca tinha como mandar pra gente olhar, nunca conseguiu nos enviar as imagens”, conta a mãe do menino que à época dos fatos, em março de 2023, possuía um ano e seis meses.
Segundo Soyane, a proprietária do espaço foi quem falou sobre os registros da câmera quando foi feita a matrícula de Pietro na creche. Em determinado ponto após a criança frequentar o espaço, além dos hematomas encontrados, ela ficava inquieta ao chegar no berçário.“Começou o processo dele virar essa rua aqui e entrar em desespero falando ‘Não mamãe, não mamãe, por favor’, e a gente precisa trabalhar, a gente acha que é porque quer a gente, por isso que tá chorando. E a gente acabou insistindo. Minha mãe que buscava ele, ela falava assim, ‘filha, esse guri não é feliz nesse espaço, ele é muito infeliz aí’”, conta a denunciante.
A família continuou insistindo para ter imagens do espaço e sem respostas, decidiram registrar um boletim de ocorrência, mas sem representar contra a creche e proprietária.
“Tanto que por isso que eu sinto um pouco de culpa, hoje em dia não ter representado na época o berçário. Porque a gente fez um boletim de ocorrência, mas a gente não representou. Então assim, a gente nem conseguiu trabalhar no dia, porque sentimos uma parcela de culpa. De repente, a gente podia ter fechado o lugar antes de ter acontecido o que aconteceu”, afirmou Soyane.
Depois disso a mãe tirou a criança da creche, e quando foi feita a comunicação no local, a família foi tratada com indiferença, conta Soyane.
“Quando a gente foi tirar, alguém que trata a família como se vocês não estão contentes, pode tirar ele, não existe isso. Entende. Hoje essa dor da Karine é a minha dor, é a dor de outras mães. Igual eu falei, eu trabalho com criança. Se alguma coisa não tiver certo, eu vou falar e vou mostrar para que a mãe confie em mim”, apontou.
A mulher chegou a procurar uma psicopedagoga à época que o filho frequentava a creche para saber sobre o período de adaptação, pois diz ser normal as crianças chorarem com a separação da mãe.
“A gente deixar uma criança o dia inteiro com alguém que não conhece, a gente sabe que é um processo de adaptação e é por isso que a gente tem que cuidar, ter cuidado, tratar com amor e carinho porque quando a gente deixa o filho da gente é isso que a gente espera que as pessoas tenham, não ter essa dúvida, viver com essa dúvida de que o filho foi maltratado. A minha dor é isso, de pensar o que meu filho já não deve ter passado aí dentro”, finalizou.
Soyane ainda disse que ficou sabendo que o estabelecimento não possuía autorização para funcionar apenas após a repercussão do caso de Vicente, por reportagens.
Outras denúncias
Nas redes sociais, a mãe de Vicente, Karine Camargo, compartilhou diversos relatos de denúncia que recebeu após a morte do pequeno, envolvendo a creche Espaço Criança Feliz. Há outras mães falando sobre maus-tratos, descaso e má profissionalismo. Veja abaixo:
Entenda o caso
Vicente Camargo faleceu na última quarta-feira (17), por traumatismo crânio encefálico produzido por instrumento contundente, segundo laudo do IML.
A versão da direção da creche aponta que o menino teria passado mal e regurgitado leite antes de falecer. No entanto, familiares contestam essa narrativa e afirmam que a criança apresentava um ferimento na cabeça quando chegou ao hospital
A creche funcionava sem autorização, segundo o Conselho Municipal de Educação (CME) de VG, órgão responsável por emitir documentos do tipo. A unidade está fechada desde quarta.